quarta-feira, 6 de abril de 2011

(Mini-Ensaio): Religião

Agora gostaria de falar um pouco sobre religião.

Poucas vezes fui questionado a fundo sobre isso. Já pertenci, durante um bom tempo de minha vida, a uma determinada denominação evangélica.

Não irei revelar qual denominação é essa. Os que me conhecem sabem qual é. E, de qualquer forma, não tenho reclamações ou denúncias de irregularidades sobre essa igreja. Saí porque não podia cumprir com as exigências morais da igreja. Para mim era impossível. Então, a fim de livrar-me das pequenas e médias culpas que me assolavam a cada instante, a cada ato, a cada pensamento, achei melhor assumir uma imensa culpa, um pecado mortal para aquela igreja, e, ao final disso, terminei por sair em definitivo daquela doutrina.

Não obstante, ainda guardo boas recordações e acho que muito de mim e muito do que me transformei, para o bem ou para o mal (felizmente, o saldo é positivo), eu devo aos anos em que lá passei.

Agora, um interlocutor fictício pergunta-me, "Então qual é a sua religião?"

E eu digo, "Cristã. Certamente sou cristão."

"Sim, mas qual denominação cristã você professa?"

"Nenhuma. Ou todas, exceto a católica."

Somente com essa última afirmação já seria necessária uma intensa explicação o que, na verdade, nem sei se estou preparado ou se sei explicar.

A questão é que o âmago da mensagem de Jesus Cristo é essencial para mim. Mais ainda, o sumo do âmago, a saber, o mandamento de "ama a teu próximo como a ti mesmo" é minha meta como ser humano. O outro mandamento de Jesus (lembrando que Jesus somente propagou dois mandamentos) era "ama a Deus acima de tudo". É importante, mas, para mim, em essência, esse pensamento é reflexo do outro, se pensarmos em Deus como concebido por Jesus Cristo, não como transmitido a nós pelas religiões cristãs, principalmente a católica, ou seja, como um ser vingativo e pronto a se irar, nunca a transmitir amor, como propugnado por Cristo.

Deus, para os judeus antigos, era um ser quase de carne-e-osso. Tinha duas pernas, dois braços, dois olhos, e tudo o mais que caracteriza um ser humano. Por essa concepção, Deus foi feito à imagem e semelhança do homem, e não vice-versa. Eram tempos difíceis, de escassez de comida, bebida e esperança, em que os fracos ou defeituosos não tinham escapatória, morriam mesmo. Assim, não havia como pensar totalmente de forma abstrata e aceitar um Deus fluído ou vaporoso ou multidimensional, sei lá! E Deus é assim, sem forma. Prova disso foi quando Deus falou pela boca de um jumento, em um episódio da Bíblia. Ora, se Deus tem o formato humano, como poderia se "encaixar" no corpo de um jumento?

Logicamente que não. E não é só um argumento simplório como esse que prova que Deus é sem forma definida, é uma idéia, um pensamento, uma consciência viva e, portanto, pode assumir qualquer forma, de um vírus a uma galáxia, ou um universo inteiro. É esse Deus que eu acredito.

E porque Deus permitia que os judeus cressem em um Deus semi-humano?

Por causa do amor que ele sentia pelo gênero humano. Por que isso fazia parte do processo de nosso conhecimento a seu respeito. É a necessidade de passar-se por isso para atingimento de um bem maior. Assim, para Deus o amor é sempre o principia principium , é necessário que a premissa da verdade primeiro supere a premissa do amor. Para Deus não existe a "verdade acima de tudo", mas "do amor acima de tudo". Assim, por nos amar e saber que precisávamos de tempo para descobrir a verdade, ele permitiu essa dura fase de tomada de conhecimento, e que ainda carregamos até hoje. É esse Deus que eu acredito.

Então, temos a questão da intermediação, que é o principal motivo de dificilmente eu um dia professar o catolicismo.

Para os católicos há múltiplos intermediários na comunicação com Deus e/ou obtenção de seus favores ou perdões. Primeiro que eu acho que Deus não existe para prestar favores ou conceder perdões, mas, se há um motivo para sua existência, essa seria o ensinamento, principalmente. Mas, se esse fosse o caso de pedir algo, pela concepção pura de Jesus Cristo, a única intermediação possível entre Deus e o ser humano é ele próprio. Isso se o gênero humano desejar um intermediário, pois a necessidade desse intermediário ainda é um passo para nosso pleno desenvolvimento. Ou então, se tivermos consciência da essência divina, que é o Espírito Santo, e tomarmos ele em nós, ou nós nele, não há de forma alguma necessidade de intermediário.

E é assim que Jesus nos ensinou a orar, lembra-se "Pai nosso, que estás no céu. Venha a nós do vosso reino..". Ora, não pedimos a presença de Deus em nome de ninguém, mas por nós, invocando, pelo espírito que temos, a comunicação direta com a essência divina. Então não precisamos de uma infinidade de santos e nem de Maria, como intermediários para acessar Jesus, que acessará a Deus. De forma alguma foi isso que Jesus ensinou.

E é a esse Deus que eu acredito e a essa doutrina que eu professo.

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