quinta-feira, 24 de setembro de 2009

(Excerto): O canto pai-filhos. Primeiro objeto

Qual seria o primeiro objeto que eu colocaria em nosso cantinho íntimo de pai e filhos?

Uma cadeira. Não necessariamente uma cadeira. Melhor uma poltrona. Mais de uma. Deve existir uma para cada um de nós. Um assento para nos espaldar. Precisamos sempre proteger nossas costas e nádegas. É muito importante.

Ao nos entregar ao diálogo franco muitas coisas podem chegar de forma abrupta. Se estivermos em pé podemos cair de bunda ao chão. Melhor então já termos algo devidamente embaixo de nós, que nos resguarde do empuxo da gravidade, nos segurando e protegendo de uma possível quebradura de bacia.

Ao mesmo tempo, os assuntos são jogados frente-a-frente. Quase sempre, com o costume do debate e da sinceridade, poucas coisas chegarão a nós de maneira tão abrupta ou intensa a ponto de nos empurrar para trás. Mas, o ser humano guarda dentro de si segredos, e os tais demoram muito a ser revelados, alguns nunca o serão.

Um segredo guardado há muito tempo por nossos filhos pode ser de tal forma inesperado que podemos cair para trás ao procurarmos apoio para “segurar o rojão”. Essa é a função de nosso espaldar salvador. Recentemente necessitei muito de uma poltrona para me apoiar, mas ainda não havia instalado o nosso canto. Cai de traseiro ao chão e, como se não fosse suficiente, tombei para trás. Tenho dores no cóxis por causa desse baque. Nem sei se conseguirei recuperar os hematomas na minha nunca das conseqüências da queda para trás.

Acreditem, uma poltrona é essencial nesse cantinho pai e filhos. E há também o risco de acidentes ocasionados por fatos da própria vida. Sim, pois, em minha idéia, após acostumarmos ao nosso cantinho, a todo instante estaremos nele. Tudo que diga respeito a nossa convivência, ao interesse de nossa relação, a eventos e fatos que possam alterar nossa comunicação devem ser solucionados, ou pelo menos entendidos, como se estivéssemos em nosso canto.

Assim, as tristes confissões de erros, comunicações de doenças trágicas ou separações inevitáveis não serão motivos para tantos arranhões, tantas contusões, tantos traumas, pois sempre estaremos protegidos pela mágica e confortável poltrona de nosso cantinho.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

(Mini-Ensaio): O início

Como iniciar é tão ou mais importante do que como terminar. O começo determina se o leitor continuará a ler o livro, e o término determina se o leitor lerá outros livros do mesmo autor. Assim o começo deve ser arrebatador ou intrigante ou instigante ou tudo isso, e mais um pouco.

Dependerá muito da trama escolhida. Opções que analiso:

Como um prólogo: Ou seja, uma pausa inicial para explicar algumas coisas cruciais ao entendimento da trama. Posso colocar fatos muito anteriores que o leitor necessitará saber para melhor se situar ou somente explicar ou discorrer sobre o momento atual vivido pelos personagens. É interessante, mas acho que ele deve se fundir com outro estilo de início.

Como um epílogo: Creio ser muito perigoso para um iniciante como eu, pois talvez não tenha tarimba para dar corpo à estória ao contar já o final. Certamente, não iniciaria assim.

No ápice da trama: Significa iniciar quase no final. Muito interessante e geralmente prende as pessoas na cadeira em filmes de ação ou suspense. É importante saber onde ocorre o ápice sem correr o risco de contar o final. A questão é: serei obrigado a criar um ápice, assim o enredo de fundo ficaria mais obscurecido e a minha veia imaginativa deveria estar bem mais aflorada do que está no momento.

Em um momentâneo ocaso: Como assim? Na verdade não tenho uma idéia clara sobre isso, mas talvez a estória encontre-se em um momento em que nada interessante estaria acontecendo. Seria o momento entre um evento de quase ruptura e outro de total ruptura, ou seja, dois eventos muito importantes ao contexto em análise. Como exemplo, veja o início do Senhor dos Anéis. É em um momento de ocaso da trama que se inicia o livro. Seria um longo prólogo, com algumas coisas interessantes acontecendo, mas nada que fosse determinante. Para mim é arriscado e pode enfastiar o leitor.

Em uma reviravolta na estória: Teria de criar uma reviravolta na estória e iniciá-la nesse momento. É factível? Como fazer? A estória nem bem começou e já é virada do avesso. Mas, é interessante. Deve-se ou exige-se um pequeno prólogo, pois se há que se revirar tudo, então se deve ter algo a se revirar, certo? Uma pequena explicação da vida até aquele momento. É um fato, ou um novo personagem que muda tudo em pouquíssimo tempo, já no primeiro capítulo?

Só perguntas. Mas, são as perguntas que movem o mundo...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

(Mini-crônica): Estréia

Procuro, procuro...

Quero "cueca sensual". O browser me informa 39 mil possibilidades de imagens. Lógico, só quero as imagens. Mas, queria as imagens mais picantes, mais despudoradas, mais flagrantes possíveis.

Xi! Tá travada a diminuição no rigor do filtro das imagens. Coisa da empresa. Meu coração bate aos pulos. É medo de ser pega em uma dessas auditorias de sistema. O que eu faria?

Tudo bem. Entro em uma loja virtual de peças intimas masculina. E o que tem uma mulher querer comprar uma sunguinha sensual para seu marido?

Pronto! Arranjei a desculpa para olhar, olhar e olhar. Caramba! Mas, esse site é de Portugal. Acho que ninguém iria acreditar que estou pensando em viajar a Portugal e comprar uma cueca transparente. Melhor parar. Só vou olhar mais duas fotos. Só isso.

O que! Bloquearam a exibição da foto. Uma simples foto de modelo de cueca? Que paranóia. Ai! Acho que meu login deve estar já em relatório da auditoria e logo estará na mesa de meu chefe. Porque faço isso? Vou só olhar mais uma foto, prometo. Acho que essa não vão proibir. Oficialmente, continuo procurando algo para esquentar meu casamento.

- Milene, dá uma chegada em minha mesa.

Meu chefe chama de supetão. Estava estirada na cadeira. Com o susto e o pânico que me tomou conta a cadeira tomba e caio para trás com as pernas para cima.

O pessoal, ao ver aquilo, vem correndo ver o que aconteceu. Está machucada? A cadeira quebrou?

A Rute foi a primeira a olhar para o monitor. Dá de cara com um pênis enorme pulando na tela (acho que ver só cuecas não foi suficiente). - O que você tá procurando querida? Todos olham para o monitor e se esquecem de mim, ao menos diretamente.

Travo embaixo da mesa. Acho que desmaiei. Quando dei por mim estava deitada na sala do ambulatório. A Rute do meu lado. Fez questão de ficar lá, só para comunicar:

- O Chefe iria te promover a sua substituta!

Iria.

Foi a minha estréia de vexames em público.


quarta-feira, 9 de setembro de 2009

(Mini-Ensaio): A trama investigativa

Tem um tipo de estória que gostaria de abordar em uma provável trama investigativa: O personagem busca algum mistério em um drama/romance ambientado em um momento específico da história universal.

Mas, isso é um típico "O Nome da Rosa" do Umberto Eco?

Sim. Mas, isso não retira o enorme grau de dificuldade em se escrever uma trama dessas. Necessitaria ler muito sobre o momento histórico, o ambiente, os costumes, mil coisas que estão longe de nossa realidade, mas, ao mesmo tempo, trazer os personagens um pouco ao nosso convívio atual, para que os leitores tivessem algum afinidade com eles.

A idéia é criar uma estória mais do tipo descrito na série de livros "Ramsés" , onde o desejo do autor, é ambientar o leitor ao antigo Egito. Nem haveria necessidade de ser original, já que o Christian Jacq (autor de Ramsés) nunca teria a pretensão de estar falando algo novo, do ponto de vista científico, mas o interessante é prender a atenção do leitor com algo instigante e aparentemente provável de ser verdade. Ao mesmo tempo prenderia pelo drama pessoal que apresentaria. Poderia ser perturbador para muitos, mas daria a chance de um grande público conhecer uma possibilidade interpretativa de nossa história.

É isso. Depois falo mais de dois temas que pretendo trabalhar, um para a trama psicológica e a outra para a investigativa histórica.