quinta-feira, 31 de outubro de 2013

(Sonho): A quantas andam?

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Nos últimos posts tenho focado na literatura e na divagação, ou seja, na parte de "crise existencial" de minha vida, que consome boa parte de minhas energias, e que precisa ser domesticada senão leva tudo.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

(Devaneio): Limites e Continuidades

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O que define a infelicidade de alguém, ou, pensando positivamente, o que define sua felicidade?

É possível identificarmos esses pontos, onde se pode vislumbrar a felicidade ou não de uma determinada pessoa? 

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

(Devaneio): Deve ser e como é

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Até ontem estava super animado e, a onisciência que por acaso me seguia, certamente julgaria que, se houvesse um post hoje, ele seria sobre o assunto "sonho" e trataria de mostrar alguns habitats belíssimos que pesquisei em Vancouver.

Mas, não é assim. Sobretudo porque, quanto mais alto o salto, maior é a queda. E hoje acordei-me com muitas escoriações e algumas fraturas expostas, mas não irei apresenta-las, logicamente.


Porém, um evento, e não vou dizer qual, fez-me pensar em duas coisas que se intercambiam em minha vida atual.

A primeira coisa é a motivação para que eu, tão insistentemente e mesmo sabendo da quase impossibilidade, insisto tanto em jogos de loteria. Enfim, é claro que a motivação óbvia é o desejo de ganhar. Mas, busco aqui o espírito por trás disso, e há uma lógica que faz-me sentir impulsionado para essas tentativas.


Sim, notei que há pessoas que já nascem com um bilhete premiado na mão. Não digo de milionários de berço, porque não jogo para tornar-me milionário (muitos sabem de minha intenção de, em uma eventualidade de ganhar um prêmio colossal, ficar somente com o necessário e doar todo o resto. Assim, o farei.).


Falo das pessoas que, por sorte, nasceram em famílias bem estruturadas, de médio padrão, mas em ascensão,que podem desfrutar de uma boa moradia, bem localizada e confortável, de uma boa escola, de bons atendimentos de saúde, de lazer variados, como clubes e chácaras e casas de vovó e titias, etc. Enfim, no meu conceito amplo, tais pessoas nasceram com um bilhete premiado na mão. Podem, no transcorrer de suas vidas, se desfazerem de tal oportunidade, mas, enquanto outros guiarem seus passos, ele sorverá desse beneficio.


Tais pessoas não precisam se preocupar em obter o que pretendo ao jogar em loterias. Eles já o tem desde o principio.


E há pessoas, e aí me incluo, que não tiveram tal sorte. Mas, havendo justiça na causalidade, havendo parâmetros no caos (ora, todos nossos econometristas julgam que há, pois senão abandonariam de vez suas carreiras e seus modelos estatísticos), então creio que tenho muitas chances de ser contemplado com tal ventura. O problema é que, com a demora de tal definição, acabarei por ter muito pouco tempo para utilizar.


Mas, também gostaria de comentar algo sobre uma questão existencial que muito me aflige também. 


É a tristeza de estar inserido em um meio em que as pessoas não vivem a vida como ela é, em uma definição Nelson Rodrigues, mas sim a vida como deveria ser. 


E qual a diferença?


A vida como ela é deve ser algo intangível, diferente do que o nome induz a pensar. Esse "como ela é" não é revestido de realidade, pois, ao tentar se impor como verdade, torna-se uma tremenda bazófia, pois não existe isso. Ou torna-se uma elegia, mais lamentosa ainda do que se espera. Ou torna-se uma apologia ao pessimismo e à desconfiança. Enfim, falar-se da vida como ela é, é falso e até imbecil. Não deve haver uma "vida como ela é".


A vida como ela deve ser é um ideal metrificado e palpável.  É algo tangível e pode ser visualizado pela maioria das pessoas. É quando se faz planos e os executamos. É quando contemplamos conquistas e interrupções. É quando saudamos cada manhã e temos um mapa traçado em nossa mente de como haverá de ser o dia.


Mas, eu vivo a vida como ela é, no estilo Nelson Rodrigues, uma maçaroca de problemas que não tenho por onde começar a desenrolar. Paradoxal, mas as pessoas que convivo lado a lado vivem a vida como ele deve ser, onde as conturbações de filho, cônjuge,  pai, mãe, irmãos se compensam ou coexistem naturalmente.


Não é esse meu caso.


Por isso resolvi afastar-me, pois a minha "vida como ela é" deixava atordoados meus próximos. Não havia como entenderem, pois trata-se de uma realidade não descortinada aos tais, enquanto vivem suas vidas "como ela deve ser". Afastei-me, principalmente para que não fosse incubado com o mal da inveja, coisa pegajosa e mal cheirosa, que empesteia o ar por onde passa e que mata primeira e essencialmente o seu portador. Não quero assim.


terça-feira, 15 de outubro de 2013

(Citações): Pimentas, de Rubens Alves (2)

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Meus poucos momentos de liberdade eu gasto aqui, não somente escrevendo essas coisas, mas aqui, neste ambiente, onde posso ficar "a ver navios", onde posso ver sem visto, observar sem ser observado, porém sem esconder-me.

Assim deve ser.

Hoje, pensava que gastaria esse minguado tempo procurando mais informações sobre meu sonho de mudança radical, principalmente bisbilhotando a rotina daqueles que pra lá se foram e gostam de apresentar sua experiência.

Tais momentos eu ainda não os compartilho.

Mas, lembrei-me de um ou dois parágrafos do livro do Rubem Alves, que serviu de inspiração ao meu post anterior.

Não é comum retomar um mesmo assunto, ainda mais na sequência.

Mas, é que... Bem tem um trecho que eu preciso deixar aqui, mesmo me expondo a violar algum direito autoral. 

Espero que não.

Trata-se de uma de suas crônicas ou contos, que ele chama de "O prazer nosso de cada dia dá-nos hoje...". Trago aqui o finalzinho do conto, que resume sua ideia  principalmente a respeito de reencarnação.

Quero deixar claro que não a defendo, apesar de achá-la surreal e original. Não havia pensado no assunto nesses termos e creio que é impossível opinar claramente a respeito estando em nosso estado atual, respirando, comendo, cheirando, tocando, sorvendo, fazendo sexo e outras coisas mais, que impedem qualquer julgamento sobre a experiência em uma outra existência. Mesmo quando alguns (com a autoridade de um Chico Xavier) nos apresentam o mundo espiritual, pretensamente como seria, fica difícil realmente sentir qualquer atração por ele, nesse estado corporal. 

Não nesse momento.

O que não quer dizer que eu o refuto.

Vai o trecho:

"Pois saiba você que eu acredito muito na reencarnação. Faz muito tempo anunciei a minha conversão num artigo de nome esquisito: 'oãçanracneeR". Reencarnação ao contrário: não de trás para diante mas de diante para trás. O futuro não me interessa. Eu nunca o vivi por isso não posso amá-lo. Não quero ir para o céu: o tempo infinito deve ser um tédio insuportável. E o mais terrível é não ter saída. O céu me dá claustrofobia. Além do que não quero evoluir. Muitas coisas não podem e não devem evoluir: saíras de sete cores, riachinhos, ipês floridos, a Nona sinfonia, uma preta jabuticaba...

O que seria uma jabuticaba evoluída?  Uma jabuticaba cúbica? Uma jabuticaba florida e perfumada e, depois, coberta de esferas negras brilhantes e túrgidas depois da chuva - esse objeto é divino, sem passado e sem futuro, presente puro destinado à eternidade. Não posso imaginar que alguma evolução lhe possa ser acrescentada. O que eu quero é não evoluir. O que eu quero é viver de novo o passado que vivi, com muito mais intensidade, sem os sentimentos de culpa com que minha religião aprisionou meu corpo, as minhas idéias, e os meus sentimentos... Tenho tristeza dos pecados que não cometi... Eram pecados tão inocentes...

Assim, quando já são poucas as jabuticabas na minha tigela, rezo o meu Pai-Nosso herético - ou erótico: 'O prazer nosso de cada dia dá-nos hoje...'."

terça-feira, 8 de outubro de 2013

(Citações): Pimentas, de Rubens Alves

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Escolher o que incluir aqui como citações para obras de Rubens Alves é uma tarefa difícil.
 
Sim, porque cada página de seus livros poderiam render, não somente uma, mas várias citações que bem seriam colocadas aqui, e teriam enorme aproveitamento.

Mas, na medida do possível, tentarei restringir os pensamentos que mais me chamaram a atenção nesse seu livro que, a rigor, comecei a ler ontem (Pimentas, Rubens Alves, Editora Planeta, 2012).

Assim, caso conclua esta postagem por hoje ou amanhã, ou ainda quando estiver em suas últimas páginas, com certeza perderei muitas e muitas outras filosofias emanadas da mente do professor. Logicamente, sempre poderei complementar a postagem com outras citações, e o farei com certeza.

Já em um dos primeiros contos, chamado "Filosofia de gato"(página 14), encontramos:

"Camus observou que o que caracteriza os seres humanos é a sua recusa a serem o que são. Eles não estão felizes com o que são. Querem ser outros, diferentes."

Na sequência continua (páginas 14-15):

"Desejos são perturbações na tranquilidade da alma. Ter um desejo é estar infeliz: falta-me alguma coisa, por isso desejo... Mas para meu gato nada falta. Ele é um ser completo. Por isso pode se entregar ao calor do momento presente sem desejar nada. E esse 'entregar-se ao momento presente sem desejar nada' tem o nome de preguiça. Preguiça é a pura virtude dos seres que estão em paz com a vida."

Sensacional, como não poderia deixar de ser. Mas, tenho uma outra possibilidade de intepretação às divagações do mestre.

De fato, a meu ver, a frase de Camus, ou seja, essa recusa humana em ser o que é, é a nossa consciência. É um resumo da única coisa que diferencia os seres humanos das outras criaturas. A consciência é isso mesmo. Ao percebermos nossa limitação e nos recursamos a conformar com isso é que passamos a ter consciência.

É por isso que a consciência humana (racionalmente) se recusa a acreditar em Deus, e temos que fazer uso de outros mecanismos para poder crer. E isso ocorre desde os tempos bíblicos. E o motivo é que, quando Moisés perguntou a Deus, do alto Monte da Promessa, qual era o seu nome Ele simplesmente disse: "Eu sou o que sou", [ou eu sou o que mostrarei ser], aludindo ao fato de que Ele é o que é e o que precisa ser, coisa que está além da consciência humana que se recusa a ser o que é e por isso não chega a ser o que precisa ser. Esse é o atributo humano mais profundo de verdade, nunca foi a inteligência, pois, pouco mais ou pouco menos, os animais também são inteligentes.

No entanto, como Rubens Alves demonstra com seu gato, não há necessidade dos animais em mudar suas "pessoas", suas condições. Os animais são o que são em quaisquer circunstâncias [diferente, logicamente, de Deus, que é que é, no sentido de mostrar o que deve ser, quando precisa ser].

Há também ênfase de Rubem Alves quando trata da idílica condição felina, a justificar que a preguiça é uma virtude, antes de ser um pecado,como apregoa a Igreja Católica. Nesse ponto eu concordo, mas somente em sua abordagem, nunca como uma apologia a preguiçosos contumazes.

Um pouco depois encontramos alguns comentários seus sobre a razão da loucura, encontrada em muitos gênios (página 27):

"Imagine mais, que a beleza seja tão grande que o hardware não as comporte e se arrebente de emoção! Pois foi isso que aconteceu àquelas pessoas que citei no principio: a musica que saia do seu software era tão bonita que o seu hardware não suportou."

Belíssima analogia. Talvez seja isso mesmo. O software de tais pessoas é tão sofisticado, tão além da conta, que não é comportado pelo pobre hardware ainda disponível a eles (e a nós também). Assim, esse conflito permeia toda a sua vida tornando-os disfuncionais para a nossa realidade. Seria como tentar rodar um Windows 8 em uma antiga máquina PC-XT da década de 1980. Sem chance!

E outra inserção teológica (página 33):

"Por que Deus criou o Inferno, isso eu não sei. Sei que não foi o Diabo, porque Deus, sendo onipotente, não permitiria que o Diabo tivesse tais poderes."

Aqui Rubem Alves, que também é teólogo, joga verde para colher maduro. Ele sabe uma boa resposta a essas perguntas e deseja somente instigar. A resposta seria: Não há inferno, porque não haveria motivos para Deus criá-lo e, ao mesmo tempo, não poderia permitir que outra divindade antagônica, mas inferior o fizesse, porque não há necessidade disso.

E poderíamos finalizar discorrendo sobre a semelhança entre o céu e a nossa vida atual (páginas 62 e 63), quando diz que a Adélia Prazo assim os comparava: "O céu será igualzinho a essa vida, menos uma coisa: o medo...".

Rubem Alves concorda, mas acrescenta a dor como algo que não pode existir no céu, se fosse para merecer tal nome. E eu acho que é assim também e por um motivo: No "céu" não existe a máxima do mutatis mutandis, ou seja, mudando o que precisa ser mudado. Por lá nada precisa mudar, pois são as mudanças que causam dor e medo. Sendo o "céu" um paraíso então não há mudança possível, nem necessária, logo não há dor ou medo, causados pelas sempre necessárias mudanças em nosso corpo, em nosso ânimo ou em nossos desejos.

Mas, temos mais. Temos uma pequena nota à página 79: "As pessoas são aquilo que amam"

Exato. Sem palavras.