quarta-feira, 27 de junho de 2012

(Poema): Frente e Costas



Vi-te de novo.
De novo tão bela.
De novo à minha frente.
De novo pertinho, e eu ausente.

Eu ausente de ti.
Você presente em mim.
Pra sempre marcada em minha retina.
Levo-te à minha frente.

Não olha pra trás.
Sai sem ver.
Sem notar que me leva consigo.
Às suas costas.

Segue-te meu olhar.
Segue-te meu desejo.
Marcados em ti se vão.
Leve-me às suas costas.



sexta-feira, 8 de junho de 2012

(Devaneio): Criação



E veio-me agora um pensamento à mente, um pensamento que encheu-me de pânico e desilusão. 

Se tomarmos como verdadeira a idéia criacionista, ou seja, se, de fato, a humanidade, e tudo que conhecemos, foi criado por um ser ou uma força consciente, em um dado momento e lugar, e se tomarmos como verdadeiro o relato que nos nos foi legado como a real descrição desse evento, onde, primeiramente, foi criada a luz, depois todas as outras coisas.

E, após a criação desse universo e as suas forças e suas relações, o ser ou força criadora resolveu implantar um jardim, ou um paraíso, ou um lugar muito especial. Um local aonde seria possível estabelecer sua obra-prima, um ser que lhe fosse parecido ou assemelhado em possibilidades, ou seja, uma consciência, um saber, uma determinação própria, mas sempre em potencial, pois o havia proibido de tomar conhecimento disso, no que sabemos, não foi plenamente obedecido.

Então esse ser novo e pleno de potencialidades foi colocado no dito paraíso-jardim, local diferenciado do resto de sua criação, que lhe era bela, mas amorfa. E esse ser, era, ao mesmo tempo, poderoso em possibilidades, mas de fragilíssima compleição, pois feito de pó e água. Assim, ficaria diretamente protegido pelo ser criador e seria tratado como um rebento seu, como algo que lhe saiu, e que lhe pertencia diretamente, um pedaço dele próprio que havia sido misturado ao pó e à agua.

Assim, o ser pó-água-criador foi estabelecido no paraíso-jardim.

Então, o que me aterroriza nessa alegoria? O que deixou-me com medo? Qual conclusão, além da obviedade, pode ser tirada desse quadro, para muitos, pura poesia?

Penso que, e as observações científicas até o momento corroboram tal idéia, talvez estejamos sozinhos  nesse universo, ou seja, nessa imensidão aparente (pois, talvez não seja assim tão grande). Então, estamos no único lugar (pelo menos até o momento conhecido) onde podemos ficar de forma natural. Talvez não exista outro jardim natural em todo o universo conhecido. Então, todo e qualquer planeta ou lua que encontrarmos estará banhado por radiação mortal, ou pelo calor abrasador, ou pelo frio destruidor ou por gases e pressões mortificantes. Será um vazio de vida. Nada encontraremos a não ser pedras e gases. Somente o nosso paraíso-jardim foi criado para nos conter. 

Assim, há muitos cientistas que, sem saber, corroboram a teoria criacionista ao advogar a tese de que não há possibilidade de encontrarmos outro planeta igual ao nosso no universo.

Tal limitação é por demais desanimadora se finalmente confirmada. A Terra seria então uma penitenciária e nós não passamos, pensando na humanidade como um corpo único, de sentenciados à prisão perpétua no âmbito de sua atmosfera.