quinta-feira, 27 de junho de 2013

(Sonho): O Canada!




Começo aqui um novo subtítulo. Chamado "Sonho".
 
Sim, porque ainda está nos campos dos sonhos, dos desejos, dos pensamentos. Se bem que, agora, o estou promovendo para o lado das coisas planejadas em minha vida. Mas, mesmo que realizado, ainda será um sonho, com a diferença de ser vivido.
 
Trata-se de meu desejo ancestral de sair do Brasil. De viver em outro país! Algo que carrego, ou que me carrega desde que me entendo por gente. Assim que percebi que não há qualquer chance de sentir-me em casa na realidade brasileira, desde que percebi que aquilo que vejo em meu entorno não se alterará no transcorrer de minha vida, por melhor e mais bem intencionado que sejam os governantes. E olha que ainda nem isso nós temos por aqui.
 
Então, de vez em quando, eu acessava alguns blogs de brasileiros que foram mais corajosos e entraram na vida de imigrante, de expatriado, há algum tempo. Sempre foi mais por curiosidade, mais para manter a chama acesa, e... quem sabe um dia!
 
Pois bem, dessa ultima vez, já bem desanimado com o rumo que o país toma e, muito mais, com o rumo que a minha vida toma, chegou às minhas vistas o site do Caio Prezia, chamado "Canadá para brasileiros"(www.canadaparabrasileiros.com), e juntou-se a fome com a vontade de comer.
 
Foi semana passada isso. Hoje já tenho arquitetado um plano básico para tal empreitada. Além da possibilidade de ganhar um prêmio substancial na loteria, essa é a única forma possível de viabilizar tal empreitada.
 
E qual é a ideia?
 
Ora, o começo de sua realização começará em cinco anos. Mais precisamente em junho ou julho de 2018. Quando minha filha estará na metade do primeiro ano do Ensino Médio. Assim, previamente, a essa época, já pedi uma licença sem vencimentos do trabalho, já providenciei meu visto e de minha esposa, ambos para estudo e trabalho, e o visto de estudo em escola publica canadense para nossa filha. Meu filho, infelizmente, dificilmente quererá seguir-nos.
 
A ideia é ficar um ano em Vancouver, morar por lá, estudar, participar da vida da cidade, procurar ocupação, buscar alternativas de moradia, de aguentar o frio, a distância de quem fica por aqui.
 
Basicamente temos que nos preparar para sobreviver sem trabalho remunerado durante todo esse tempo, ou seja um ano. Tenho já uma razoável estimativa do que e de quanto precisarei, embora com preços de 2013. Para  2018, ninguém sabe o que se sucederá. Pesquisei um apartamento de dois dormitórios, próximo a metrô e escolas secundárias, pesquisei preços de supermercado na região, fiz até uma lista mensal bem detalhada, pesquisei preço de transporte publico, pesquisei preço de locação de veículos, pesquisei preço de seguro-saúde, pesquisei até preço dos remédios que normalmente consumo, preço de gasolina, estimei passeios e lazer diversos, compra de roupas (principalmente de frio) e imputei margens de erros e inclui um grupo aleatório de diversos.
 
Enfim, tenho o valor estimado para essa aventura sabática. Hoje, exatamente hoje, fiz o primeiro depósito simbólico para essa poupança. Simbólico porque se trata de um pequeno prêmio de loteria que ganhei nessa semana, algo que veio exclusivamente de minha sorte, quem sabe seja um bom presságio! Deixarei esse premiozinho (pouco mais de R$ 200,00) repousar por um mês, até posicionar minhas dívidas, meus ganhos, poupanças e, somente aí, poderei ter alguma certeza de quanto terei que me esforçar.
 
O problema é que já contei o plano à minha filha, que passou a imaginar como será sua escola no Canadá!!
 
Tem muitas coisas que precisarei pensar e procurarei divulgar as conclusões por aqui, que será meu diário de viagem, até a sua realização (ou frust..., melhor não dizer!).





segunda-feira, 17 de junho de 2013

(Devaneio): Mais um desassossegado


Também tive grandes ambições e sonhos dilatados, talvez semelhante ao carregador ou ao filho da costureira. Semelhante a eles meus sonhos também não foram providenciados pelo destino e muito menos tive força de os perseguir. Assim, a eles sou exatamente igual.

Também advogo o direito de poder lavar meu destino, como lavo meu corpo, como retiro o resíduo de minhas partes mais intimas e sujas, assim como a água e o sabão as torna novamente utilizável, assim como isso, poderia também lavar esse destino, retirando dele essa sujeira que o impregna. Mas, talvez por não conseguir localizar as entranhas onde se incrustou tal sujeira, ela deva ser vivida até o fim, até que a sua sepse tome conta da vida como um todo e, como um parasita mata seu hospedeiro, ele próprio, destino, assim o faria.

Também sinto saudades de tudo, até do que não existiu, sinto saudades até da própria nostalgia. Daqueles momentos que julgava idílicos e que, na minha inocência, achava que conseguiria em um lugar, ou com uma pessoa, ou com uma realização, ou com um prazer. Sinto falta disso. Sinto saudades de quando acreditava-me assim, sinto falta de quando me julgava velho e sábio e sinto falta de quando era apenas uma criança. Qualquer coisa é melhor que esse vazio de certezas, esse esperar eterno, esse resfolegar sem sentido e direção, esse ruminar, ir e vir, o gosto da mesma comida na boca, a mesma sensação na carne. Hoje, até o orgasmo me parece tedioso. Sinto falta e saudade do que tive ontem, do gozo que senti há quinze anos. Como se o corpo que estremece hoje nada tenha a ver com aquele estremecido em era passadas.

Também não sei o que sinto, o que já senti, ou o que quero sentir. Talvez o esteja sentido agora, enquanto escrevo. Talvez o extremo prazer esteja aqui nesse momento, nessa realização. Ou esteja vibrando aqui ao meu lado, fremente e pronto para ser sorvido. Talvez o que desejo sentir já esteja sentindo, falta-me apenas o órgão sensor que o perceba. Falta-me o aparelho, o medidor, ou o catalisador para que esse rio de sensações aflua em direção a um mar hipotético ou somente salte para fora e produza a alegria que desejo.

Também sinto que vou endoidecer por vezes, tamanha a inquietação e tamanho o marasmo que se intercambiam, em bipolaridade  Apenas, também, endoidecer ali mesmo, não de loucura, somente atendendo aos batimentos ritmados de meu coração que quer fugir do corpo em terror ao que lhe pode suceder, quem sabe?

Também acreditava firmemente que somente pode apreciar um corpo nú alguém que estivesse vestido. Por tal crença tentava mostrar-me pelado para, talvez, aqueles que tão pesadamente se vestem pudessem ver-me, senão apreciando a beleza de formas, mas pelo menos atestar essa presença. Mas, percebi que não se pode impor uma nudez não desejada, principalmente quando, ao invés de prazer ou consternação, ela cause nojo e, por vezes, terror. Por tal conta que, melhor é mostrar-me nú somente a quem encontre-me assim, por procura ou por acidente.




segunda-feira, 10 de junho de 2013

(Devaneio): Na falta de...


Estive pensando no que poderia escrever.

Não que me falte sobre o que escrever. Livros que leio, idéias políticas, idéias religiosas, musicas que ouvi, filmes que assisti, meu estado emocional... E sempre caio nesse último. Minhas idéias políticas, religiosas, livros, musicas e filmes, de alguma forma, tendem a convergir para meu estado emocional.

Para aquilo que me aflige. E aquilo que aflige não requer letras e divagações, mas muitas lágrimas. Lágrimas que não posso verter aqui e agora. Lágrimas que, talvez, já me secaram por dentro, por descrédito em sua eficácia. Por se mostrarem insuficientes para reverter a situação.

Assim, a melhor saída é divagar sobre o insólito. Divagar sobre mim mesmo, mas em outro plano, quando nada disso era material, como é atualmente, quando sequer fosse algo a ser cogitado.

Lembro-me pequeno e franzino, subindo em uma árvore, uma goiabeira, pegando goiabas verdes e quentes ou maduras e bichadas. O sabor da fruta, comida ali mesmo, com a higiene apenas da natureza, com bicho e tudo. Não havia ainda a minha síndrome de cólon irritado, não havia a gastrite, simplesmente porque não havia a angustia, senhora de todas as doenças do adulto.

Dores que eu mesmo procurei, quando não podia mais ter meu pé de goiaba para subir.

Gostava sobremaneira de subir em árvores. Até as não frutíferas. Melhor se desse fruta, mesmo que eu desconhecesse a espécie ou mesmo se era comestível, pois vingava a máxima do "se não mata, engorda". Nem matou, nem engordou.

Mas, possibilitou a mim refúgio e exposição, semelhante ao que busco escrevendo aqui. Antagonismo que mostrou ser a minha própria essência. 

Gostava de ver sem ser visto, mas deixar a possibilidade da descoberta. Porém, mais que isso, gostava de ver longe, onde não poderia ser encontrado. Gostava de ver sem ser notado de imediato, sem ser perturbado, sem perturbar. Saber sem ser sabido. Em um primeiro momento não buscava exposição, apenas sapiência. Apenas não queria pagar o custo da busca. Esse custo é que era e é difícil para mim.

Por isso as árvores mais frondosas eram melhor. Quando não tinha árvore poderia ser um telhado. Outro local de minha adoração.

Ali não havia frutas bichadas para me fartar, mas poderia ficar ainda mais obscuro.

Hoje me vejo naqueles telhados, naquelas árvores,  querendo entender mais de mim e dos outros e do mundo. Não era um esconderijo em si. Qualquer um poderia levantar a cabeça e ver-me. É quase o mesmo que faço escrevendo aqui, sem divulgação, apenas tentando encontrar-me naquilo que vejo nos outros. 

Será que também sou como esses passantes?

O drama de minha vida é também o mesmo drama por que lutam esses que esbarram em mim sem me notar?

É possível ser feliz sem ser visto, sem desejar ser visto, mas não estar escondido? 





segunda-feira, 3 de junho de 2013

(Devaneio): Ostra feliz não faz pérola, de Rubens Alves


Estou terminando de ler um livro. Uma surpresa, porém não inesperada. Comprei-o meio sem querer, depois de muito tatear por outros nas estantes da livraria e era chegada a hora, ou de comprar algum, ou ir embora, voltando ao meu enfado diário.

Já conhecia o autor de longa data, embora, quando tive primeiro contato com sua literatura, não tivesse atinado àquela percepção de mundo. E é essa concepção de ciência, de religião, de filosofia que me acompanha desde o primeiro ano de faculdade, quando utilizei seu livro "Filosofia da Ciência - Introdução ao jogo e suas regras" (Brasiliense, 1981) no rápido e burocrático curso de Introdução à Metodologia Científica.

Tinha somente 18 ou 19 anos à época, um ano mais jovem que meu filho é hoje, mas cheio de convicções, de idéias superdimensionadas sobre mim mesmo e meu futuro, então não posso culpar-me por não lembrar os ensinamentos que porventura tenha captado daquele pequeno tomo.

Mas, bem depois, com o segundo livro que li do autor, o meu reconhecimento e admiração se firmaram. Foi com "Variações sobre o prazer" (Editora Planeta, 2011) que se consolidou minha paixão. Ainda não consegui impunemente buscar somente o prazer, como ele diz, talvez por estar demasiadamente impregnado, por um lado, dos dogmas cristãos de uma educação passada, e, por outro lado, o de tantos desejos luxuriosos. E o embate dessas duas criaturas dentro de mim acaba por provocar uma estagnação de meu ego, a espera de uma resolução, que sei, nunca acontecerá.

Tenho inveja dele. Como de tantos. Fico feliz que é uma inveja não no sentido pecaminoso, mas apenas por não encontrar outra palavra superlativa para essa grande admiração. Minha alma se encontra com muitos escritores, embora não com eles, especificamente, mas com seus escritos, com suas composições, com seus insigthts, impossíveis de ser alcançados por mim, de forma independente.

Agora estou sorvendo o seu "Ostra feliz não faz pérola" (Editora Planeta, 2012). Magnifico. Um mundo de delicias. Cada trecho, cada pequeno vidrinho de seu caleidoscópio vale por uma citação. Irei apresentar apenas uma neste post. O resto deixo para a curiosidade daqueles que desejam se embrenhar na filosofia de Rubem Alves,

Como não poderia deixar de ser, pois o autor tem formação em teologia, seus textos são repletos de citações e pensamentos de cunho religioso, embora não se identifique qual a denominação que predomina. Temos os ensinamentos cristãos como maioria. Para aqueles que não se identificam com tais coisas, eu não citarei trechos que se aprofundem essas idéias, mas somente um pensamento que ilustra aquilo que eu também penso e advogo. Aliás, depois que decidi parar de escrever produtivamente, percebi que passei a ser amante de idéias e citações de outros, no melhor estilo do "nada se cria, tudo se copia".

Mas, não se trata de cópia, propriamente dita, mas sim de seguimento, de homenagem de alguém que se deseja discípulo, tão somente.

Vejamos uma idéia sensacional sobre o que é crer em Deus e, ao mesmo tempo, o que é a dúvida sobre o vazio, a questão da gnose. Encontro à página 208 desse "Ostra feliz não faz pérola":

A casa

Três homens conversam. Assentados, olham para o horizonte. Um deles diz: "Vejo uma casa e dentro dela vejo um homem". O outro diz: "Vejo a casa, mas não vejo nenhum homem dentro dela". Um terceiro comenta: "Não vejo a casa. Não vejo um homem. Só vejo o mar imenso, sem fim ...". Assim são os três. O primeiro é o que vê uma Presença habitando os espaços invisíveis do universo. Acredita em Deus. O segundo vê os espaços invisíveis do uiverso, mas não encontra neles nenhuma presença. Eles estão vazios. A essa pessoa dá-se o nome de ateu. Porém, que nome dar àquele que não vê os espaços invisíveis do universo, mas apenas o mar misterioso, ao longe, mar  para o qual caminha, mar que haverá de se tornar... Que nome lhe dar? "Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso! Que pena a vida ser só isso..."(Cecília Meireles)


Então, para mim, o livro foi como encontrar um recinto de espelhos e abismos. Em um dado instante vejo-me refletido em toda minha beleza e feiúra. Vejo ser apresentado aquilo que, em essência, mais acredito e gostaria de expressar, mas que, por não desejar "reinventar a roda", não me sentia capaz de demonstrar. Porém, às vezes na mesma página, o livro é um abismo, que não consigo me desviar, tenho que trilhá-lo, mesmo sabendo que nunca chegarei àquilo que desejo de verdade.


Bom! Enfim! Leitura recomendada!