sexta-feira, 29 de abril de 2011

(Texto): Sobre uma proposta do Senador Christovan Buarque

Fiquei pasmo com uma idéia do ex-Ministro da educação e atual Senador Christovan Buarque.

Trata-se de um político de minha confiança. Um dos poucos, vale dizer. Mas, discordo bastante desse seu pensamento, a saber, acabar com o abatimento no imposto de renda da despesa com educação.

Assim, enviei a ele um texto onde exponho meu desagrado. Enviei a seu e-mail no Senado (vez por outra envio alguma coisa, sendo que já obtive uma ou duas respostas) a seu site. Segue o texto:

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Estimado Senador Christovan Buarque.

Muito me angustiou uma notícia, creio que antiga, (link http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/gilberto/gd160603b.htm), que veiculava uma articulação feita por V.Excia. ao Presidente Lula, recomendando pelo fim do abatimento das despesas de educação no imposto de renda, alegando ser um “benefício injusto”.
 Fiquei de cabelos em pé ao ouvir tal comentário e realmente não acreditei que poderia partir de uma pessoa que tem a educação como maior meta e discurso.
 Ora senador, no caso brasileiro, se um pai ou mãe opta por pagar pela educação de seu filho é porque claramente ele sabe que a educação pública é, no melhor dos comentários,  totalmente imprestável. Isso é um fato, não existe argumento que conteste. E não foi o abatimento dos gastos com educação que ocasionou a deterioração da educação pública no Brasil.
 É um absurdo pensar que somente famílias ricas utilizam escolas particulares hoje em dia. Qualquer pai/mãe que deseje um futuro melhor para seus filhos estão se esforçando para mantê-los em escola particular, mesmo sabendo que muitas delas não são assim tão melhores que as péssimas escolas públicas, mas, pelo menos, o ambiente de segurança e disciplina ainda o é.
 Senador. Conheço pessoas que podem ser consideradas pobres e, mesmo assim, mantém filhos em escolas particulares. E a classe média baixa? Nem se fala, pois há um grande número que já se utiliza com frequência de escolas particulares.
 Senador. O senhor, como pessoa informada do sistema educacional brasileiro, deveria saber que, basicamente, somente há alguma eficiência/eficácia na educação no Brasil, formando pessoas preparadas para um bom ensino superior ou pessoas competitivas globalmente, porque ainda existem um bom número de boas escolas particulares por aqui. Em termos numéricos as melhores escolas públicas de ensino fundamental/médio são uma gota no oceano e representam muito pouco no total da excelência educacional brasileira.
 Então, porque penalizar esses pais?
 Senador. Será que V.Excia. não sabe que, em quase todos os países avançados, que certamente tem sistemas públicos de educação tão ou mais avançados que os particulares, pode-se abater a totalidade dos gastos com educação particular. Aqui no Brasil já se penaliza muito quem se utiliza de escolas particulares. Vejamos meu caso, que gasto cerca de R$ 3.000,00 por mês em educação com meus dois filhos, ou seja, cerca de R$ 36.000,00 por ano, e que posso abater somente R$ 2.708,94 por dependente (poucas são as regiões onde se possa encontrar uma escola a R$ 225,00/mês, como se depreende desse abatimento), ou seja R$ 5.417,88 para meus dois filhos. Assim, já sou penalizado em cerca de R$ 30.000,00 ao ano. Tal valor seria plenamente “abatível” se eu morasse nos EUA, por exemplo. E olha que as escolas públicas americanas são de boas a excelentes. O único motivo de um americano utilizar uma escola particular é por elitismo, só isso. Mas, o senhor sabe que, no Brasil, regra geral, não é por questão de elitismo que um pai/mãe se esforça por deixar seus filhos fora da escola pública. E ainda assim, o senhor ainda deseja retirar esse pequeno abatimento?
 E a pretensa receita de cerca de R$ 1,5 bilhão que a Receita Federal arrecadaria com o fim desse abatimento? Quem garante que seriam dirigidos à Educação e não à formação de superávit primário como se vê com frequência no governo federal, ou, muito pior ainda, cairia no tempestuoso mar de caquéticas licitações e/ou corrupções que tanto vemos?
 Para mim, que tenho dois filhos, quando tempo teria de esperar para que esses R$ 1,5 bilhão/anuais surtisse efeito e pudesse colocar meus filhos em uma escola pública que tivesse, no mínimo, a mesma qualidade de 30 anos atrás, que já não era muito boa. Tenha a mais absoluta certeza de que meus filhos não teriam tempo de esperar tal dia. Assim, me veria penalizado ainda mais, pois teria de continuar a pagar integralmente a escola particular, sem nenhum incentivo fiscal.
 Continuo achando um absurdo V.Excia. ter uma ideia dessa. Oras, porque não lutar pela efetiva utilização dos recursos destinados a educação, penalizando exemplarmente dirigentes acusados de desviar, não utilizar ou utilizar mal os recursos disponíveis? Porque não lutar por destinar parcelas de recursos dirigidos a formação de superávit primário à educação? Porque não obrigar que a maior parte das novas (somente as novas) receitas tributárias do pré-sal sejam destinadas à educação, com ferrenha fiscalização de seu destino?
 Senhor. Lembre-se que, se as pessoas que tem filhos em escolas particulares forem em massa para a péssima escola pública nacional, quem administrará esse país daqui a dez ou vinte anos?
 Senhor. Meu pensamento não tem ideologia alguma, é só pragmatismo, puro e simples. Sabemos que, na prática, em qualquer país do mundo, quem administra o país é quem teve a melhor educação. É normal que seja assim. E quem teria uma “boa educação” transitando somente pelos bancos da escola pública nacional? É só olhar os diversos e-mails que circulam sob o nome de “pérolas do ENEM” ou “pérolas do Vestibular” para ver o extremo baixo nível de ensino de nossas escolas públicas.
 Então, para finalizar, depois de uma melhora substancial na qualidade da escola pública, obtendo adequação física, pedagógica e disciplinar semelhante à média das escolas particulares e, em bastantes casos, até superior a essas (situação vista em países desenvolvidos, por exemplo). Aí sim, eu concordaria em retirar qualquer abatimento do tipo (embora, ainda sob protesto).
 Antes disso, nem pensar.
 Obrigado,
   Francisco das Chagas Nobre Santos
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quarta-feira, 27 de abril de 2011

(Mini-Ensaio): Sobre os insanos "descartes" de recém-nascidos

 Enviei ao blog do Planalto (Presidência da República) a seguinte mensagem, sobre o assunto-título desse post.

 Se vai gerar algum resultado? Não sei, mas, nesse momento, é somente o que posso fazer.

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Senhores(as).
 Talvez aqui não seja o foro adequado para expor a situação, mas solicitaria o especial obséquio de dar o devido encaminhamento, se possível.
 A questão que me preocupa é o aumento (ou, pelo menos, aumento da exposição das ocorrências) do número de recém-nascidos abandonados em lixeiras ou outros lugares impróprios.  Solicito encarecidamente que o governo, o MS em especial, tome uma atitude eficaz e rápida quanto a esse fato. Ofereço minha sugestão, que é a criação e a divulgação imediata de uma campanha e de medidas urgentes para controle ou diminuição da gravidez indesejada. Para mim essa é a principal, embora não a única, causa dos ocorridos. O ministro poderia  vir a público explicar o que as pessoas podem fazer para evitar tal gravidez, implementar e/ou explicar a distribuição gratuita de contraceptivos, seja hormonais ou por acessórios, poderia (na verdade, deveria) ser criados mecanismos que garantissem a laqueadura em mulheres e vasectomia em homens, ambos de forma voluntária e em pessoas com muitos filhos (creio que acima de 3). O Ministro poderia vir a público e explicar às pessoas que não desejam ter mais filhos que procurem imediatamente postos de saúde ou hospitais públicos para que seja verificada a possibilidade do uso desses mecanismos. Poderia também pedir que as mães que já estejam em uma gestação indesejada que comuniquem tal fato às maternidades e deixem as crianças para adoção, pois não serão penalizadas por isso e ninguém a impedirá de cometer tal ato, mas sempre lembrando a todos que há forma de prevenir uma gravidez indesejada. Pedindo: “Por favor, procurem o seu posto de saúde ou Hospital Público  antes de tomar uma decisão.”
 Senhores (as), antes de invocar qualquer pensamento religioso sobre o assunto, devemos pensar nas crianças submetidas e expostas a esse tratamento insano, incluindo-se aí aquelas crianças que efetivamente nascem e não são descartadas dessa forma, mas se veem assolados pela extrema miséria e desamparo em ambientes “familiares” exploradores, violentos, imundos e sem alimentos, como vemos costumeiramente em nossos noticiários, tudo porque nossa sociedade age com hipocrisia quanto à necessidade urgente de um controle dessa gravidez indesejada, principalmente entre pessoas paupérrimas e já com extensa prole.
 Tal procedimento nada tem a ver com ideologia, seja ela qual for, mas com os sofrimentos de fato a que são inocentemente penalizadas tais crianças. Que ninguém queira estar na pele de uma delas.
 Essa deveria ser a principal preocupação nesse caso, mas, o desespero de uma mãe que se vê obrigada a tal ato, também deve ser pesado. Tais motivos justificam amplamente a medida de um eficaz programa governamental para evitar a gravidez indesejada.
Muito obrigado pela sua estimada e preciosa atenção.
Francisco

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quarta-feira, 20 de abril de 2011

(Devaneio): Para não dizer que nada fiz

Exato.

Quero usar essa meia hora diária que posso dedicar àquilo que gostaria de dedicar oito horas, a saber, meu ócio criativo, para relatar o que tenho feito.

Nos últimos tempos tal ócio criativo se resume a escrever.

Mas, não era somente esse o meu objetivo. É que atualmente não posso me afeiçoar a ideias ufanistas, a saber, coisas como cursos de Astronomia amadora, acampamentos de observação, equipamentos, cursos de história ou filosofia, fotografia, violão, jardinagem, e toda uma miríade de coisas que realmente me faria acreditar que existe felicidade na Terra.

Então dedico-me àquilo que me exige menos, a escrita. Para ela, somente preciso parar essa meia hora de almoço livre e escarafunchar a cachola, tirando leite de pedra com rapidez. Nem sempre acontece. E muitas vezes o leite que saí é tão ralo que não alimenta nem filhote de sagui. Ou então, sai um leite estragado, já curtido há anos e que nem para coalhada serve. Apesar disso, mesmo assim, muitas vezes é esse leite que apresento.

Hoje sentei-me para continuar o livro "Suméria" (provisório) que estou escrevendo a gigantescos passos de formiga. Falo isso, por que, como já disse, utilizo a meia hora diária e nada mais. Assim, chegar aonde cheguei, para mim é uma gigantesca conquista. Mas, quando olho a numeração da página, vejo um número 34. Se pensar que estou nisso há mais de dois anos, acho que minhas perninhas de formiga precisam de mais preparo.

Não tem nada não! Sei que terminar não é o objetivo. Se terminar um dia, seria uma consequência de estar vivo. Só por isso já seria bom. Se bem que esse livro, mais cedo ou mais tarde, vai depender de uma dedicação maior do que esses 30 minutos.

Ou então eu termino a fórceps. Retiro-o de mim de qualquer jeito, ensanguentado e subnutrido, mas que deve sair de meu ventre ou morrer lá dentro. Como fiz com o meu livro de Contos.

Com ele, ao chegar às 92 páginas, decidi extrai-lo, como a um dente podre. Ele cumpria seu papel e servia para mastigar uma coisa ou outra, mas, na maioria das vezes, somente atrapalhava a mastigação e seus abcessos já foram causa de uma outra complicação. Então "sarta fora". "Vai pro mundo fio".

Mandei ele para um site que diz apresentar obras a centenas de editoras pelo mundo afora. Fiz apresentação, sinopse, currículo, botei foto, coloquei um trecho do danado, converti o .doc em .pdf. Minha única recomendação: Não apresentar o livro para agenciadores ou editoras que só querem arrancar uns trocados para imprimir meu livro. Ou seja, uma verdadeira gráfica.

Nesse momento não. Daqui a seis meses... Quem sabe?!

Vai que a Record ou a Cia. das Letras leem e gostam do bichinho! Não vou já queimar o filme pagando R$ 2.000,00 para alguém soltar o livro. E esperar vender 500 cópias para recuperar esse investimento? Sabe quando isso acontecerá (a venda de 500 cópias)? Nun...

Mandei também o livrinho que escrevi baseado na Kaká. Eu achei ele bem bonitinho. É a cara dela quando tinha seis ou sete anos. Pena que, a partir de agora, acima dos oito anos, se distanciará cada vez mais do que escrevi.

Bom, até agora somente uma editora entrou em contato. Justamente uma dessas que tenho de pagar R$ 2.000,00 para ter o livro publicado e divulgado. Sacanagem do site? Não creio. Continuarei confiando.

Vai saber?!

Té mais.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

(Mini-Ensaio): Religião

Agora gostaria de falar um pouco sobre religião.

Poucas vezes fui questionado a fundo sobre isso. Já pertenci, durante um bom tempo de minha vida, a uma determinada denominação evangélica.

Não irei revelar qual denominação é essa. Os que me conhecem sabem qual é. E, de qualquer forma, não tenho reclamações ou denúncias de irregularidades sobre essa igreja. Saí porque não podia cumprir com as exigências morais da igreja. Para mim era impossível. Então, a fim de livrar-me das pequenas e médias culpas que me assolavam a cada instante, a cada ato, a cada pensamento, achei melhor assumir uma imensa culpa, um pecado mortal para aquela igreja, e, ao final disso, terminei por sair em definitivo daquela doutrina.

Não obstante, ainda guardo boas recordações e acho que muito de mim e muito do que me transformei, para o bem ou para o mal (felizmente, o saldo é positivo), eu devo aos anos em que lá passei.

Agora, um interlocutor fictício pergunta-me, "Então qual é a sua religião?"

E eu digo, "Cristã. Certamente sou cristão."

"Sim, mas qual denominação cristã você professa?"

"Nenhuma. Ou todas, exceto a católica."

Somente com essa última afirmação já seria necessária uma intensa explicação o que, na verdade, nem sei se estou preparado ou se sei explicar.

A questão é que o âmago da mensagem de Jesus Cristo é essencial para mim. Mais ainda, o sumo do âmago, a saber, o mandamento de "ama a teu próximo como a ti mesmo" é minha meta como ser humano. O outro mandamento de Jesus (lembrando que Jesus somente propagou dois mandamentos) era "ama a Deus acima de tudo". É importante, mas, para mim, em essência, esse pensamento é reflexo do outro, se pensarmos em Deus como concebido por Jesus Cristo, não como transmitido a nós pelas religiões cristãs, principalmente a católica, ou seja, como um ser vingativo e pronto a se irar, nunca a transmitir amor, como propugnado por Cristo.

Deus, para os judeus antigos, era um ser quase de carne-e-osso. Tinha duas pernas, dois braços, dois olhos, e tudo o mais que caracteriza um ser humano. Por essa concepção, Deus foi feito à imagem e semelhança do homem, e não vice-versa. Eram tempos difíceis, de escassez de comida, bebida e esperança, em que os fracos ou defeituosos não tinham escapatória, morriam mesmo. Assim, não havia como pensar totalmente de forma abstrata e aceitar um Deus fluído ou vaporoso ou multidimensional, sei lá! E Deus é assim, sem forma. Prova disso foi quando Deus falou pela boca de um jumento, em um episódio da Bíblia. Ora, se Deus tem o formato humano, como poderia se "encaixar" no corpo de um jumento?

Logicamente que não. E não é só um argumento simplório como esse que prova que Deus é sem forma definida, é uma idéia, um pensamento, uma consciência viva e, portanto, pode assumir qualquer forma, de um vírus a uma galáxia, ou um universo inteiro. É esse Deus que eu acredito.

E porque Deus permitia que os judeus cressem em um Deus semi-humano?

Por causa do amor que ele sentia pelo gênero humano. Por que isso fazia parte do processo de nosso conhecimento a seu respeito. É a necessidade de passar-se por isso para atingimento de um bem maior. Assim, para Deus o amor é sempre o principia principium , é necessário que a premissa da verdade primeiro supere a premissa do amor. Para Deus não existe a "verdade acima de tudo", mas "do amor acima de tudo". Assim, por nos amar e saber que precisávamos de tempo para descobrir a verdade, ele permitiu essa dura fase de tomada de conhecimento, e que ainda carregamos até hoje. É esse Deus que eu acredito.

Então, temos a questão da intermediação, que é o principal motivo de dificilmente eu um dia professar o catolicismo.

Para os católicos há múltiplos intermediários na comunicação com Deus e/ou obtenção de seus favores ou perdões. Primeiro que eu acho que Deus não existe para prestar favores ou conceder perdões, mas, se há um motivo para sua existência, essa seria o ensinamento, principalmente. Mas, se esse fosse o caso de pedir algo, pela concepção pura de Jesus Cristo, a única intermediação possível entre Deus e o ser humano é ele próprio. Isso se o gênero humano desejar um intermediário, pois a necessidade desse intermediário ainda é um passo para nosso pleno desenvolvimento. Ou então, se tivermos consciência da essência divina, que é o Espírito Santo, e tomarmos ele em nós, ou nós nele, não há de forma alguma necessidade de intermediário.

E é assim que Jesus nos ensinou a orar, lembra-se "Pai nosso, que estás no céu. Venha a nós do vosso reino..". Ora, não pedimos a presença de Deus em nome de ninguém, mas por nós, invocando, pelo espírito que temos, a comunicação direta com a essência divina. Então não precisamos de uma infinidade de santos e nem de Maria, como intermediários para acessar Jesus, que acessará a Deus. De forma alguma foi isso que Jesus ensinou.

E é a esse Deus que eu acredito e a essa doutrina que eu professo.