quarta-feira, 30 de novembro de 2011

(Mini-Crônica): O Olho, de Vladimir Nabokov



Terminei o livro O Olho de Vladimir Nabokov (Alfaguara, 2011).


É o primeiro que leio do autor. Deixei pra lá Lolita, por achar meio evidente, e parti para esse, meio sem saber o que queria e muito menos o que obteria.


E porque não fui ao Lolita, um clássico que nunca li?


Por dois motivos antagônicos.


Primeiro, tem a questão cinematográfica. Assisti à ultima versão do filme, de 1997, com o Jeremy Irons. Gostei muito, a atuação dos protagonistas, os cenários, tudo me pareceu verossímil, senão com a realidade, mas com a estória de Nabokov, mesmo sem tê-la lido.


Segundo, tem meu papel de pai. Quando assisti ao filme eu não tinha intenção de ter outro filho. Mas, apareceu Karina, que hoje se aproxima da idade de Lolita. Então, algo dentro de mim se opôs àquela experiência e àquele fato. Algo me encheu de nojo pelo protagonista e por tudo o que diz respeito ao enredo.


Assim, passou minha oportunidade de ler Lolita.


E assim caiu-me O Olho às mãos.


Trata-se aqui de um romance policial/detetivesco, ou um drama introspectivo ou um livro de abordagem espírita? Com certeza, um "não" à terceira opção; mas, um "pode ser" às demais.


Conta-se a estória de um jovem imigrante russo, chamado Smurov, fugido da revolução comunista, que tenta sobreviver na Alemanha da década de 1920. Envolve-se com uma mulher casada e sofre as consequências desse affair, com uma surra monumental do marido traído. Envergonhado e sem perspectivas, busca o suicídio. 


Até aí está certo, é isso mesmo. Mas, depois, nada mais pode ser definido.


Quem passa a contar a estória é o espírito de Smurov, que vê uma imagem de si mesmo em todos os lugares, e acompanha essa imagem? Ou é o próprio Smurov vivo, que fica esquizofrenico após a tentativa de suicídio e insiste em tratar a si mesmo, ora em primeira pessoa, ora em terceira pessoa?


De fato, não se sabe se os fatos narrados após a tentativa de suicídio ocorrem presentemente, ou em um passado recente, ou tratam de algo no futuro, bem depois do suicídio, consumado ou não.


Dizem que a tentativa do autor é demonstrar que a realidade é tão sobrenatural como o pensamento, e compete ao leitor descobrir o que é uma coisa e o que é outra.


Será possível que temos um terceiro olho; nosso, mas que está fora de nós, digamos em um tipo de limbo, nos analisando a todo instante e, ao final, seremos julgados por esse olho, que é nosso afinal? Quem poderia se safar desse julgamento?

terça-feira, 22 de novembro de 2011

(Poema): Ó cadeira!

Cadeirinha, cadeirinha!
Sempre me apoiou.
Sempre me amparou.
Sempre me susteve.
E me aprazia em seu assento
e em seu encosto descansava.
E podia ficar dias e tardes e noites.
E agora cadeirinha!
Porque machucar-me?
Porque fustigar-me?
Porque não me permitir o descanso?
Tratei-a mal, por acaso?
Quebrei tuas pernas?
Puxei-a com descuido
ou deixei-a longe de tua amiga mesa?
Quem sabe aquelas lascas de teu encosto...
fui eu quem as tirei?
Ou, se não tenho culpa, deixa-me aqui.
Deixa-me ficar em teu assento.
Deixa-me espaldar.
Conforta-me!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

(Mini-Ensaio): Sobre artigo do Senador Cristovan Buarque

Não é a primeira vez (e muito menos será a ultima) que desejo repercutir um pensamento do senador Cristovan Buarque. Trata-se de um político que muito estimo, talvez o melhor que se dispõe no momento nesse Brasil, mesmo que alguns possam localizar aqui e ali alguma falha, coisa que é inerente à pessoa humana.


Dessa vez falo do artigo publicado em O Globo de 05.11.2011, intitulado "Cinismo ou Ceticismo".


Concordo com o Cristovan e creio que alguém deveria estudar mais profundamente essa nova faceta da corrupção no Brasil. Apresentar a cada dia novos vídeos e gravações não vai ao âmago da questão, ou seja, o porquê e o como se cria a corrupção no Brasil.


Porque nós brasileiros passamos a aceitar tão bem as pequenas corrupções, os pequenos deslizes, os simples desvirtuamentos de conduta e de ética? Será isso um fenômeno mundial que se repercute elevado à enésima potência aqui em nossas terras? Ou será isso um aspecto de nossa cultura e de nossa formação social, aquela máxima espúria do "povo formado por português ladrão, índio preguiçoso e negro malandro só poderia dar nisso"?


Logicamente que conta muito a nossa formação, feita por caminhos um tanto tortuosos. Claro que a maioria dos portugueses que vieram para cá não eram ladrões, mas uma grande parte não tinha interesse em desenvolver-se nessas paragens, mas delas retirar o que pudesse e a qualquer custo para retornar a seu país. Daí chamar-se a si próprio de "brasileiros", ou seja, morar no Brasil era uma profissão, mais que nacionalidade.  Também nossos índios não eram preguiçosos, apenas nunca precisaram passar pela exploração desmedida imposta por esses "brasileiros", já que sua terra lhes dava tudo que precisava sem grande esforço, e eles também não exigiam da terra mais do que necessitavam para sua sobrevivência, vivendo em equilíbrio com seu meio-ambiente. E nossos negros nunca poderiam ser chamados de "malandros", apenas agiam no seu direito de usurpado pela situação escravagista. Quem poderia achar ilegítima a necessidade de alguém querer fugir dessa situação.


Então há um acerto ao dizer-se que a nossa formação em muito contribuiu para nossa situação atual, de baixa moralidade pública,mas não nos termos simplistas apresentados acima. De fato, até hoje nossos políticos ainda se sentem "brasileiros", no sentido profissional (não importando se de ascendência branca, negra ou indígena), e não pensam em deixar um legado para as próximas gerações, como se seus próprios descendentes não fizessem parte dessa geração futura.


Mas, o problema não está somente no lado de cima de nossa pirâmide social. Os pequenos também se imiscuem nisso. Mesmo aqueles que nunca precisaram de forma ativa ou passiva passar por uma situação clássica de corrupção. Falo das "pequenas corrupções, os pequenos deslizes, os simples desvirtuamentos de conduta e de ética".


Isso mesmo, quando alguém acha-se muito esperto e favorecido pela sorte porque conseguiu passar à frente de um imenso grupo de pessoas, simplesmente porque conhece alguém que lhe deu esse "direito". Quando alguém resolve utilizar uma vaga de deficiente ou de idoso em um estacionamento lotado, simplesmente porque "ninguém viu" ou "porque é por pouco tempo". Quando alguém resolve parar em fila dupla ou sobre a calçada, porque “não tem nenhum guarda por perto” e "é por alguns minutos". Esses e outros tantos exemplos de pequenos delitos, aceitos placidamente por nossa sociedade, é que forma o caminho para coisas maiores, para que aqueles que os praticam se vejam também no direito ou na possibilidade ou na aceitação de algo maior, no interesse pessoal ou de sua família ou de seu grupo social, em detrimento às regras impostas a todos ou ao bem social maior.


Mas, estou muito, mas muitíssimo longe de ser o Euclides da Cunha para revelar algo além do que o Cristovan já disse em seu texto.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

(Mini-Ensaio): Consumo "ludico-recreativo" ?!

Falo do artigo "Campus da USP: Quem ganhou e quem perdeu" de Wálter Fanganiello Maierovitch, jurista e professor, onde ele faz uma defesa da invasão dos alunos ao prédio da reitoria da USP, em protesto pela presença da Policia Militar, após essa ter prendido alguns alunos que consumiam maconha no campus.
Sei que estar ao lado maioria, apesar de democraticamente ser a melhor posição, nem sempre é estar ao lado da razão ou da inteligência, mas, pelo menos dessa vez, a verdade é tão óbvia e simples, que não parece ser possível criar-se argumentos contrários.
O artigo está no link: http://maierovitch.blog.terra.com.br/
Fiz dois comentários sobre esse artigo: 
1°) 
Discordo muito do articulista. Comparar a nossa situação à Inglaterra é não ter qualquer conhecimento de como são as ruas das grandes cidades brasileiras. Aqui se mata mesmo, a qualquer instante e por qualquer motivo, se rouba de verdade, mesmo que a vítima não tenha se descuidado, e se estupra de verdade, mesmo em locais de elevada circulação e à luz do dia. Na Inglaterra, o cidadão tem uma sensação de segurança que em nenhum lugar do Brasil existe. O Reino Unido é o 28º maior índice de desenvolvimento humano e o Brasil é o 84º (somente 56 países nos separam, tais como Equador, Venezuela, Líbano, Líbia e muitos outros). Em questão de corrupção a Transparência Internacional aponta o Brasil como o 69º menos corrupto (para fazer um comentário otimista) e o Reino Unido o 20º (à frente do Brasil temos Gana, Botswana, Africa do Sul, entre outros). Então, logicamente que nossos problemas estão muitos buracos abaixo daqueles da Inglaterra. Discordo muito da política de permissão de consumo de drogas, principalmente em público, mesmo que a título “ludico-recreativo”(!!). Se querem brincar e recrear consumindo maconha, que o façam dentro de suas casas, a portas e janelas cerradas. Quando temos muitas frentes de luta e só podemos atender a uma ou a algumas, devemos escolher qual é(são) a(s) principal(is). Logicamente, que aquela que salvaguarda a vida e a integridade física dos alunos está muitas vezes à frente da pretensa liberdade (!?) que se quer adotar dentro do campus. E que liberdade é essa? Já se aprovou a liberação da maconha no Brasil? E os alunos que invadiram a reitoria, não agiram de forma não democrática, que prevê a submissão à vontade da maioria? E não destruíram patrimônio público? E não agiram em conluio todos eles a fim de invadir e destruir propriedade pública? Enfim, são tantos e tantos atos de desatino que praticaram esses jovens que se justifica a sua remoção pelo aparato policial empregado, o qual, apesar de forte, não infringiu malefício físico a nenhum dos jovens. Palmas à polícia nessa operação. Para chegarmos à posição do Reino Unido, com seus 100 prêmios Nobel (O Brasil não tem nenhum sequer, lembrando que a Argentina já foi laureada 5 vezes), nossos estudantes terão de fazer muito mais do que somente lutar por direito a uso de maconha no campus ou direito a invasão de reitoria.
Comentário por Francisco Santos — 8 de novembro de 201116:01
2°)
Já publiquei um comentário e deveria parar por ali, mas creio que os comentários do articulista servem de ótimo gancho para trazer à luz o trabalho dos juristas que escrevem nossas leis, principalmente as penais e as processuais. Tais leis têm duas possíveis destinações, ou foram feitas para países com níveis de desenvolvimento humano acima do atingido atualmente pela humanidade, ou foram especialmente talhadas para beneficiar e facilitar a defesa de criminosos. Exemplo disso é a profusão de recursos que existem em nosso sistema legal, que faz com que, até um assassino confesso, se assim desejar, nunca seja preso de fato. Outro exemplo são aqueles ineficazes “princípios”, feitos, ou para anjos, ou para criminosos convictos, ou um ou outro, nunca para seres humanos normais. Como exemplo, cito o tal principio de não criar prova contra si próprio, instrumento legítimo contra tortura, mas, inversamente usado para não obrigar um bêbado que matou no trânsito a fazer teste no bafômetro, ou ainda o principio de que o detento tem o direito de fugir da cadeia, ou que mesmo condenados possam responder indefinidamente em liberdade, já que o sistema foi feito para isso mesmo. São coisas que facilitam muito a vida de advogados de defesa de transgressores e deixam desprotegidas as pessoas que querem e somente sabem seguir à risca um responsável comportamento social. É o que aconteceu com esses “estudantes”, ao invadir a reitoria e quebrar tudo por lá, na defesa de um pretenso direito de consumir maconha em área aberta do campus, e a exigir que a policia saia e deixe a universidade à disposição de bandidos, e, mesmo diante de tais propostas estapafurdias, ter um jurista que saia em defesa deles, utilizando inúteis e despropositados comentários políticos ou uma filosofia que definitivamente não serve para as ruas. Realmente, triste Brasil! Com tal elite será impossível alcançarmos posição de destaque no cenário mundial, e com tais estudantes na melhor universidade brasileira, realmente será impossível sonharmos um dia com um prêmio Nobel, repetindo o exemplo do cometário anterior.
Comentário por Francisco Santos — 8 de novembro de 2011 @ 23:31