sexta-feira, 11 de novembro de 2011

(Mini-Ensaio): Sobre artigo do Senador Cristovan Buarque

Não é a primeira vez (e muito menos será a ultima) que desejo repercutir um pensamento do senador Cristovan Buarque. Trata-se de um político que muito estimo, talvez o melhor que se dispõe no momento nesse Brasil, mesmo que alguns possam localizar aqui e ali alguma falha, coisa que é inerente à pessoa humana.


Dessa vez falo do artigo publicado em O Globo de 05.11.2011, intitulado "Cinismo ou Ceticismo".


Concordo com o Cristovan e creio que alguém deveria estudar mais profundamente essa nova faceta da corrupção no Brasil. Apresentar a cada dia novos vídeos e gravações não vai ao âmago da questão, ou seja, o porquê e o como se cria a corrupção no Brasil.


Porque nós brasileiros passamos a aceitar tão bem as pequenas corrupções, os pequenos deslizes, os simples desvirtuamentos de conduta e de ética? Será isso um fenômeno mundial que se repercute elevado à enésima potência aqui em nossas terras? Ou será isso um aspecto de nossa cultura e de nossa formação social, aquela máxima espúria do "povo formado por português ladrão, índio preguiçoso e negro malandro só poderia dar nisso"?


Logicamente que conta muito a nossa formação, feita por caminhos um tanto tortuosos. Claro que a maioria dos portugueses que vieram para cá não eram ladrões, mas uma grande parte não tinha interesse em desenvolver-se nessas paragens, mas delas retirar o que pudesse e a qualquer custo para retornar a seu país. Daí chamar-se a si próprio de "brasileiros", ou seja, morar no Brasil era uma profissão, mais que nacionalidade.  Também nossos índios não eram preguiçosos, apenas nunca precisaram passar pela exploração desmedida imposta por esses "brasileiros", já que sua terra lhes dava tudo que precisava sem grande esforço, e eles também não exigiam da terra mais do que necessitavam para sua sobrevivência, vivendo em equilíbrio com seu meio-ambiente. E nossos negros nunca poderiam ser chamados de "malandros", apenas agiam no seu direito de usurpado pela situação escravagista. Quem poderia achar ilegítima a necessidade de alguém querer fugir dessa situação.


Então há um acerto ao dizer-se que a nossa formação em muito contribuiu para nossa situação atual, de baixa moralidade pública,mas não nos termos simplistas apresentados acima. De fato, até hoje nossos políticos ainda se sentem "brasileiros", no sentido profissional (não importando se de ascendência branca, negra ou indígena), e não pensam em deixar um legado para as próximas gerações, como se seus próprios descendentes não fizessem parte dessa geração futura.


Mas, o problema não está somente no lado de cima de nossa pirâmide social. Os pequenos também se imiscuem nisso. Mesmo aqueles que nunca precisaram de forma ativa ou passiva passar por uma situação clássica de corrupção. Falo das "pequenas corrupções, os pequenos deslizes, os simples desvirtuamentos de conduta e de ética".


Isso mesmo, quando alguém acha-se muito esperto e favorecido pela sorte porque conseguiu passar à frente de um imenso grupo de pessoas, simplesmente porque conhece alguém que lhe deu esse "direito". Quando alguém resolve utilizar uma vaga de deficiente ou de idoso em um estacionamento lotado, simplesmente porque "ninguém viu" ou "porque é por pouco tempo". Quando alguém resolve parar em fila dupla ou sobre a calçada, porque “não tem nenhum guarda por perto” e "é por alguns minutos". Esses e outros tantos exemplos de pequenos delitos, aceitos placidamente por nossa sociedade, é que forma o caminho para coisas maiores, para que aqueles que os praticam se vejam também no direito ou na possibilidade ou na aceitação de algo maior, no interesse pessoal ou de sua família ou de seu grupo social, em detrimento às regras impostas a todos ou ao bem social maior.


Mas, estou muito, mas muitíssimo longe de ser o Euclides da Cunha para revelar algo além do que o Cristovan já disse em seu texto.

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