sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

(Mini-Ensaio): À nossa continuidade




Li uma citação, atribuída a George Bataille (escritor e filósofo francês, falecido em 1962). A citação (não vou dizer onde li), dizia:

"O que desejamos é trazer para um mundo fundamentalmente descontínuo toda a continuidade que ele pode sustentar."

A citação, diz-se, foi obtida da obra "L'erostime", e, como não li tal obra, não sei se essa frase foi verazmente retirada de lá, ou se a tradução pescou o sentido que o autor quis dar à coisa.

Mas, como estou escrevendo um devaneio, pesco o que quiser disso aí, e pode ser que venha um atum ou uma sardinha, mas ambos servirão para alimentar-me, em um dado momento.

Será que o autor fazia seu comentário em relação ao erotismo em sentido amplo, ou ao sexo, estritamente falando, a saber, o ato propriamento dito?

Se for assim, concordo! É isso mesmo. De fato. Ipso facto!

Sim, o erotismo, ou o sexo, é uma maneira de ligarmos as nossas partes descontínuas. Em ultima análise, a meu ver, é o único momento efetivo (e nem cogito se está sendo feito com amor ou somente por prazer, apenas penso que seja totalmente consensual e não profissional) que nos sentimos integrado a um fim comum. É um momento em que, de fato, sentimos que temos continuidade em outro ser.

Naturalmente fomos desgarrados e individualizados. No sexo não, influímos e refluímos, damos e recebemos e nos mantemos coesos por certo tempo. É a nossa tentativa de dar continuidade ao nosso mundo. 

Fugaz, com certeza, mas é a única forma material de conseguir essa continuidade.

Outras formas esotéricas de continuidade, tipo oração e meditação, são estados que muitos conseguem chegar, mas, posso dizer por experiência própria, a grande maioria não está aparelhada para tanto (aos quais me incluo). Não parece natural, ao menos no estado de matéria que nascemos (se se pode acreditar em outro estado, fica a critério de cada um). Instintivamente não temos uma antena e receptor para união por esses estados.

Mas, veio-me também à mente algo de natureza menos fundamental, ou seja, o que seria essa descontinuidade? Trata-se de uma pretensa característica discreta de nosso universo?

Ou seja, nosso mundo é discreto (ou descontinuo), e assim é absolutamente contável. Tudo que se pode ver é aquilo que há de fato. E podemos aumentar nossa percepção ao limite que continuaremos a poder quantificar o que vemos. Isso induz a uma previsibilidade de nossa vida e de nossa natureza. E a previsibilidade torna tudo muito tedioso. Nossa inteligência tende a odiar o tédio, por não a desafiar.

Mas, clamamos pela continuidade. Pelo simples contínuo. Ou seja, por coisas que não podem ser contadas, que apenas são passíveis de serem medidas, embora nunca precisamente. Enquanto tivermos a ilusão de que é impossível contar, apenas passível deduzir, podemos utilizar nossa mente para imaginar e elucubrar, e o que nos estimula, de fato.

E não é isso o objetivo dos devaneios?