quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

(Mini-Ensaio): Empirismo de que?


Angustio-me, quando leio em artigos e teses de economia, menção do autor dizendo, por convenção, que se utilizou de "análise empírica" para tecer suas conclusões.

Ao deter-me no texto o que vejo é uma imensidão de fórmulas e enunciados estatísticos, com a adoção de corolários, princípios, "senões" e limitações técnicas advindas do método estatístico.

Ora, se a análise é empírica, deveria ter-se baseado na observação e na prática, ou seja, é fato. Tal análise não poderia ser  tão cerceada por  limitações advindas do método. Fica claro que, na forma como foram feitas, se prestam mais ao método do que a explicar os fenômenos que originariamente pretendiam (já impossíveis de se ser explicados em meras equações, por serem advindos de comportamento humano imponderável). Quase todo o trabalho empreendido na formulação e apresentação se destina a discorrer o método escolhido, explicar suas limitações e resultados intrínsecos a ele. Ao final, quase como uma nota de rodapé, se apresenta um resultado conclusivo que, diante da imensidão de contas adaptativas e/ou restritivas feitas, torna-o muito propenso a ser uma verdadeira falácia.

De fato e como poderia se dizer, empiricamente, tem se observado tal falácia pela imensidão de erros de análise, estimativa ou avaliação em estudos econômicos e financeiros, desde que a análise econométrica tornou-se regra inflexível, camisa de força para uma análise indutiva (não estatística) e condição sine qua non para sua publicação.
 
Falácia, porque essa imensidão de cálculos, ajustes e restrições estatísticas, termina, inadvertidamente (quando, na verdade se desejava justamente o contrário), por considerar essencial algo que é apenas acidental, ou por tomar uma exceção como regra, ou por restringir demasiadamente as causas do efeito (fenômeno) que se está analisando.
 
É como já ouvi uma vez, "a estatística é como o biquíni. Mostra tudo, mas esconde o que, na verdade, todos querem ver".
 
É ridícula a presunção de que devemos aceitar conclusões obtidas por tais teóricos, somente por causa da utilização de métodos sofisticados e "robustos". Pessoas que, na verdade, nunca observaram de fato o fenômeno que estão analisando, apenas procuram açoitá-lo com uma carga de fórmulas elegantes e prestigiosas, visando mais a acariciar o ego delas, ao demonstrar seu conhecimento na manipulação de tais fórmulas, do que evidenciar conhecimento sobre o fenômeno que pretensamente analisam "empiricamente".

É como termos que escolher entre dois sujeitos que  pretendem nos ensinar a andar de bicicleta.
 
Um, o analista "empírico", na concepção dos que estou aqui relatando, antes de oferecer sua conclusão, apresenta amplo estudo matemático-estatístico a respeito das várias iniciativas sobre como melhor pedalar, o jeito de apoiar o pé no pedal, a forma de sentar-se no selim, o momento de sair, a velocidade de equilíbrio, etc. Agrega tudo em múltiplas variáveis e busca sua correlação, encontra a(s) mais determinante(s), em uma análise multivariada robusta e baseada em curvas e normalizações adequadas e parâmetros bem testados, para ao final, dizer-nos das limitações de sua análise, já que, confessamente, o sujeito nunca pedalou uma bicicleta. Mas, ele e todos de sua estirpe consideram o modelo robusto e defensável, podendo ser reproduzido por qualquer um que se utilize dos mesmos parâmetros. Enfim, não disse nada que nos leve a pedalar.

O segundo analista, esse o verdadeiro analista empírico, nos apresenta sua experiência sobre como aprendeu a pedalar, obtida através de sua prática e observação. Em poucas linhas, sem necessidade de bazófias e demonstração excessiva de uma inútil (na prática) sabedoria numérica, nos traz informações essenciais e práticas, tal como tamanho da bicicleta, regulagem de freios e pressão de pneus, e chega rapidamente à explicação do fenômeno,  ao mencionar como dar os pequenos empurrões com os pés sem pedalar, na tentativa de encontrar o nosso eixo, para, após a segurança desses empurrões, variável de pessoa para pessoa, nos atrever às primeiras pedaladas. Enfim, a análise empírica real se obtém na prática, na experiência colhida e na observação pacienciosa.
 
Não advogo nenhuma volta total ao Racionalismo puro, mas seria bem apropriada uma boa dose de indução prévia, seguida de um método de pensamento atrelado à experiência, ou mesmo a elaboração de um teste de aplicabilidade verdadeiramente empírico, antes de qualquer divulgação dessa "análise empírica". Aquilo que não fosse passível de ser testado empiricamente ou que ainda não fosse realmente experimentado empiricamente (no mundo real) nunca poderia ser divulgado como teoria econômica, floreada com tantos louros, mas, no máximo, como um ensaio, quando muito. Não deveria ser tão relevante os métodos estatísticos geralmente aceitos, mas sim uma boa dose de plausibilidade prática, a confirmar sólido pensamento indutivo histórico, filosófico ou observacional, mais ou menos, mal comparando, como se observa nas experiências do programa "MythBusters".

Senão, a meu ver, continuará risível a casca de "empírica" que se atribui a esses estudos.

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