domingo, 25 de dezembro de 2011

(Mini-Crônica): Os Aparados, de Leticia Wierzchowski

Como já disse uma vez Milton Nascimento:


     Certas canções que ouço
     Cabem tão dentro de mim
     Que perguntar carece
     Como não fui eu que fiz?
     (...)
     (http://letras.terra.com.br/milton-nascimento/47411/)


A mesma coisa digo de certos livros. São tão parecidos com o que eu queria dizer que gostaria de ter escrito.


Dentre esses, gostaria de recomendar, principalmente para esse final de 2011, o livro "Os Aparados", de Letícia Wierzchowski (Record, 2009).  Como veem não é um livro novo, foi publicado em 2009, mas cai como uma luva em um período de final de ano.


A estória se passa em algum momento no futuro. O tempo é incerto, sabe-se apenas que estamos em um futuro e que não é muito distante, pois temos todos os cenários parecidos com o que existe hoje, portanto não se trata especificamente de uma ficção científica. O local da trama é o Rio Grande do Sul da autora, nas imediações de Porto Alegre e mais para dentro do interior gaúcho, nos Aparados da Serra.


Lá, um avô, ex-professor universitário, constrói um refúgio, um local auto-sustentável, que seria utilizado para sua fuga de um mundo em ruínas.


Mas, quem ele leva para se refugiar ali é sua neta, grávida de sete meses, também sozinha. Sua neta naquela condição é a garantia da transição. É a certeza de que ainda haverá mundo e vida após o caos que se instalou na natureza.


De fato, naquele momento tudo está em transição. As coisas antigas estão sendo destruídas novamente pela água. Parece que Deus resolveu transgredir sua própria promessa bíblica, dada após a destruição do Diluvio. 


Assim, até a divindade parece estar em transição.


E sua neta é a certeza de que ainda haverá esperança após tudo isso. Ela, o refúgio, a criança... Por isso ele luta tanto para entender e conviver com a neta, protegê-la é tudo que lhe resta. A moça parece não perceber o que a cerca, que o mundo que ela viu, nos seus parcos dezessete anos, não subsistirá e preocupa-se unicamente com seus dilemas sentimentais.


Ambos serão aparados. Ambos cederão um pouco de si, assim como a humanidade obrigatoriamente cederá , se deseja permanecer viva nesse planeta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pode falar :)