segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

(Devaneios): Na Vida


 
Hoje estive pensando na vida.

Não somente hoje, mas especialmente hoje, pensei na vida. 

Não na vida que vivo hoje, não na vida que tive até aqui, não na vida que julgo ainda ter, mas na vida.

Também não na vida, pensada metaforicamente, como se a vida pudesse significar mais do que significa de fato, mas, simplesmente na vida.


Da mesma forma, não somente em minha vida e não na vida de todos, na vida dos bilhões de seres humanos, e na vida dos trilhões de seres que compartilham conosco esse habitáculo.

Penso na vida.

No motivo de sua inflexibilidade. No porquê viver. No desespero de mantê-la. 

A vida é uma amante ciumenta, a vida é possessiva. Ela nos privilegia, dentre os objetos e substâncias existentes no universo, escolheu-nos para repousar suas benesses e prazeres.

E deveríamos ficar felizes e querê-la sempre por perto.

Mas, qual a opção à vida? O que poderia se opor a ela? Há uma opção de existência sem o jugo da vida? Ou seja, em outras palavras, é possível existir sem estar vivo?

Como seria isso? É possível abstrair essa ideia?

Não sei. Assim como não conseguimos abstrair uma 4a. dimensão, dificilmente poderíamos abstrair uma existência sem vida.

Mas, qual é então o grande problema da vida? Porque o seu jugo tanto me perturbou nesses dias?

Perturbou-me a não opção. Perturbou-me o medo milenar da escolha por não viver, e falo isso em um sentido amplo, abarcando a não vida em outras existências e dimensões.

Porque aflige tanto e a tantos, o fato de não existir? A vida é algo dado à matéria (seja o que for que encaremos como matéria e em qual plano se realize esse conceito) e, a partir daí, não há mais o que fazer. Ela impregna a matéria e a faz não buscar outra coisa, a não ser a sua própria perpetuação, mesmo que (e, normalmente, somente) a custa de outras vidas (porque, para a vida, não importa o objeto que a contém, mas o seu conteúdo, que é a sua própria essência, e que passa de um invólucro para outro).

A vida então é um parasita da matéria? A matéria (mesmo as dita "matérias fluídas" de filosofias e religiões espiritualistas) foi criada como um pré-requisito para a manifestação da vida, ou seja, a vida é um ser ou algo além de nossa concepção (uma existência atemporal e não local) que, para se manifestar, se autolimita a um corpo material?

Não sei. Foi esse pensamento que me tomou. Esse medo de estarmos batalhando, lutando, sofrendo e fazendo sofrer, somente pelo capricho desse parasita que nos tomou e não explica porque o desejamos tanto. Que nos aprisionou a ponto de não sabermos como é existir sem estar contido nele.




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