sexta-feira, 30 de setembro de 2016

(Pensamentos): Sobre a Revolução Socialista


Não acredito em bandeiras revolucionarias socialistas (e, porque não dizer, não acredito em nenhuma bandeira revolucionária, pelos mesmos motivos abaixo expostos).

Se quisesse justificar cientificamente a motivação dessa afirmação, haveria de construir um tratado imenso, na tentativa de desqualificar todas as ideias de Marx e Engels, e suas interpretações do funcionamento da história e da sociedade.

Para mim, as intepretações marxistas da história e da sociedade (diferente da forma dogmática que revolucionários socialistas as tratam), não passam disso, ou seja, são interpretações e, por isso mesmo, são subjetivas, são tentativas de descrever uma visão ou língua, influenciadas pela situação do momento que vivia o pensador, por suas experiências de vida, pelo perfil daqueles em que se baseou (ou seja, por quem os carregou nos ombros, parafraseando Newton), por seus próprios objetivos pessoais e pela forma como tratou dados quantitativos (geralmente, há pouquíssima crítica quantitativa feita pelos revolucionários, pois, caso se detivessem nisso, nunca seguiriam tal linha, quase impossível de justificar em termos quantitativos, mesmo que exclusivamente estatísticos) e qualitativos.


Sendo assim, necessitaria de várias teses de doutorado para me aprofundar no assunto.

Porém, estou longe de ter gabarito técnico e estofo cultural para essa empreitada. E, na verdade, esse nem é o meu objetivo com esse humilde post.

O que desejo abordar aqui (e, antes de qualquer coisa, preciso dizer que não sou contra politicas distributivas ou de assistência social, muito pelo contrário. Também sou muito favorável a um controle estatal pesado em muitos setores da economia. Apenas sou contra a implementação de qualquer alternativa do tipo a custa de um movimento revolucionário. Penso que, se isso for implementado, deve vir do lento e seguro desenvolvimento de uma sociedade) é que, no meu entendimento e a grosso modo, o principal problema da ideia revolucionária é como administrar o “dia seguinte”.

Sim, como administrar o dia seguinte à Revolução Socialista?

Quando digo “dia seguinte”, não quero somente referir-me ao próximo dia, embora esse seja o foco do problema, mas também à semana, mês ou ano seguinte.

Então, tudo bem! Consideremos que aconteceu hoje. Os ditos oprimidos de todo tipo, trabalhadores, negros, índios, mulheres, LGBT, etc. e etc., pegam a bandeira vermelha em uma mão e a foice ou o machado na outra, e sobem prédios das administrações centrais de industrias, bancos, fazendas e governos e assumem o poder.

Certo, hoje, nesse exato momento, tudo passa a estar, de repente, nas mãos dos oprimidos. É assim a definição de revolução. É algo repentino, que mal dá tempo de pensar, com um mínimo de planejamento. Caso contrário, não seria “revolução”.

Então, o que acontecerá amanhã?

Para mim, em um cenário desses, há duas certezas.

A primeira é que esses “oprimidos”, estão tanto e tão firmemente certos de que são “oprimidos” (mesmo com bolsas-famílias; cotas sociais e raciais; bolsas e cotas estudantes e aprendizes; vales e passes para idosos, desempregados e estudantes; possibilidade de aposentadorias ou pensões sem ou com baixíssima contribuição; financiamentos subsidiados para moradia e agricultura; programas de integração social; etc., enfim uma miríade de programas de inserção social impensáveis de existir há menos de um século atrás e ainda impensáveis em um enorme número de países), foram tão inflados de ódio de classe, que nem esperarão o dia seguinte. Pegarão todos os proprietários de estabelecimentos, diretores e gerentes (e quem mais se assemelhe) que puderem pôr as mãos e imolarão no próprio local ou em praça pública.

Junto a esses, serão também imolados um número impossível de estimar de médicos, engenheiros, técnicos de alto nível, advogados, contadores, administradores, biólogos, químicos, arquitetos, etc. Todos identificados com a classe exploradora e, é claro, a serviço dessa classe. Aqueles que não forem mortos ou presos já nesse dia seguinte, fugirão para os subterrâneos à espera de um momento de fuga do país.

E o que será feito após o dia seguinte? Quem administrará essas empresas e negócios, hoje de um tamanho, complexidade e globalidade impensáveis para um Marx do século XIX? Quem operará ou dará manutenção a equipamentos, máquinas, projetos e programas de alta complexidade, como, diferente do século XIX de Marx, são os equipamentos, máquinas, projetos e programas na realidade atual? Quem recuperará os anos de estudos e pesquisas destruídos pelos “oprimidos” em sua sanha revolucionária (ou melhor, será que alguém ainda pensará que isso será relevante, na nova realidade revolucionária?)?

Outras perguntas para  o dia após o "dia seguinte": Quem saberá o que fazer diante da desconfiança mundial em negociar [lembrando que “negociar” significa -a- fazer acordo, onde nem sempre se ganha, nem sempre se perde (coisa muito dificil de convencer a "revolucionários", que, desconfiados como são, acham que sempre perderão, qualquer que seja a negociação), e –b- os que participam de um acordo esperam que ambas as partes cumprirão o prometido, mesmo que isso signifique perdas de uma parte (coisa impossível de ser aceita por "revolucionários", que terão como certo que a eventual perda por parte deles, já era sabida e calculada de antemão pela outra parte)] com um país onde, a qualquer momento, um ente social pode se rebelar e tomar o poder e não se sentir obrigado a cumprir compromissos? De onde surgirão os empregos, com fábricas, empresas e fazendas sem nenhum tipo de investimento, já que ocorrerá fuga imediata de investidores (aqui entendidos não somente os proprietários, donos do capital monetário, mas, fornecedores de insumos e implementos, que também são investidores, na medida que financiam as compras, e, infelizmente, tais fornecedores não aceitarão garantias, pelo menos não de imediato, vindas de fábricas, fazendas e instituições em mãos de "revolucionários")?

E mais: De onde surgirão (como num passe de mágica) os fundos para dar as boas casas, boas comidas, boas roupas, boas escolas, bons utensílios e bons lazeres que os “oprimidos” julgam que eram desfavorecidos por não ter acesso? Quem e como se pagará por isso (lembrando que, tanto em uma economia capitalista como em uma socialista, a máxima de que “não existe almoço grátis, pois, alguém vai ter que pagar em algum momento" é real e inescapável), já que não se pode computar e trabalhar com a receita empresarial e governamental da realidade anterior, pois ela era obtida no sistema anterior e certamente não o será no sistema revolucionário, pelo menos não nos primeiros anos, ou, mais provavelmente, nunca mais?

Por causa disso e de seus desdobramentos, para mim, a segunda certeza é que, após o dia seguinte, todos estarão ainda mais pobres do que no dia anterior, principalmente por pensar que é mais fácil e rápido matar a galinha dos ovos de ouro e pegar todos os ovos nas entranhas do animal (pensamento de uma imensa maioria de pessoas que se julgam "oprimidas" na realidade atual), do que aguardar pacientemente para que ela os ponha, um de cada vez. Penso que, em nenhum momento da história da humanidade, desde que nos diferimos dos Homo Erectus e adquirimos consciência, houve certeza absoluta sobre os recursos que teremos amanhã ou depois, então, é impossível garantir qualquer coisa a esses "revolucionários", a não ser muito mais trabalho e menos ainda de tudo que tinham na realidade anterior.

Por isso não acredito, em hipótese alguma, na eficiência e muito menos eficácia, de uma Revolução Socialista, mesmo que seus defensores justifiquem que, para ser realmente eficaz, a Revolução Socialista precisa ser internacional. Essa afirmação somente corrobora o que eu disse.

Ora, então precisamos de um meio que não existe para que funcione a revolução? Precisamos de um mundo e de seres humanos que não existem? Precisamos então de pessoas totalmente desapegadas, pessoas não vaidosas, pessoas não ambiciosas, pessoas que não tenham qualquer objetivo individual? Parece que precisamos de pessoas que não se enxerguem como indivíduos? Precisamos de pessoas que aceitem, se for necessário, o sacrificio de uma vida inteira em um benefício incerto das gerações seguintes, mesmo que não sejam seus descendentes?

Infelizmente, esse tipo de pessoa dificilmente existe hoje ou existirá a médio ou longo prazo. Ou, na melhor das hipóteses, não(nunca?!) existe(irá?!) uma quantidade sequer razoável de pessoas assim, muito menos um número que sustente a longo prazo uma Revolução Socialista Internacional.

No entanto, existem seres assim e em grande número, mas são chamados de formigas e abelhas. Para mim, os únicos tipos de seres para os quais uma sociedade socialista do tipo utópica (como a que prega os adeptos da Revolução Socialista) funciona com perfeição. O resto é pura distopia.

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