quinta-feira, 13 de outubro de 2011

(Mini-Crônica): O profano e o erótico

Nunca fui muito ligada nessas coisas. Na verdade, é importante que se diga, até a ocorrência que relato, mantinha-me casta. E também na verdade, é importante que se acrescente, considero-me religiosa, embora não dedicada a nenhuma fé em específico.

Mas, as coisas a que me refiro, às quais disse que não era ligada, dizem respeito ao ser erótico e ao ser profano. Isso me causava tanto interesse quanto pesca submarina ou voo em asa delta, e posso dizer que tais atividades nunca me causaram qualquer tipo de sentimento, seja repulsa ou atração. Então é isso.

No entanto, nos últimos tempos, quando achava que a idade, embora não avançada, nada me traria de novo, ou ainda que, da mesma forma, a idade, que acreditava que chegaria de mãos dadas com a sabedoria e a mansidão, nunca me traria algo que desconhecia existir em mim e que deveria estar listada como o oitavo pecado, a saber: a curiosidade.

A curiosidade levou-me a querer provar do profano e do erótico, coisas que nunca pude dizer que estavam mortas em mim, porquanto nunca nasceram. Então, deviam estar em permanente hibernação em profundas cavernas de meu ser e que, com o advento das últimas chuvas de provocação da curiosidade, resolveram desabrochar aqui dentro, querendo aparecer, querendo ser vista;  embora, até o momento, tenha conseguido mante-los nesta estufa, verdejantes e produtivos, mas longe das vistas do grande público.

Entendam. O mal está na leitura. Já diziam os antigos que era melhor não educar as moças, para que não as capturasse a curiosidade advinda de leituras profanas. E tal dito concretizou-se comigo. Chegou às minhas mãos, a título de curiosidade, um D.H. Lawrence.

E lá veio esse D.H.Lawrence escarafunchar minha vida com seu amante de Lady Chatterley a me impregnar com aquele erotismo desconhecido. De repente senti-me desejosa de conhecer meu Oliver, de conhecer meu fodedor, como o próprio se designava.

Não! Não foi assim. Pensam que, de imediato li o livro e sai à rua à procura daquele que estivesse apto a me deflorar? Não, apenas digo que aí foi plantada a sementinha, logo regada a outras leituras, menos viscerais, não tão romanescas, não apresentadas com desculpas, mas direta e intencionalmente direcionadas a curiosas como eu, só que apenas uns trinta anos mais jovens, com hormônios mais desembestados, mas com cérebros ainda em formação e com muito pouco a oferecer além de buliçosos e insaciáveis corpos.

Então...

Então, eis que passei a perceber quem me observava. E não eram poucos. Principalmente, um...

Creio que há tempos, sim há tempos ele me observava. Nunca havia reparado, pois nunca a semente da devassidão encontrara terra e adubo em meu corpo. Mas, em um momento de devaneio erótico, por ninguém notado, pelo rabo do olho, notei uma figura buscando ângulo para me ver. Era ele. E foi o primeiro momento que me senti profana. Não no sentido religioso, como profanadora de uma imagem, ou de um rito, ou de uma escritura, mas profanadora de uma instituição. De algo que não poderia sê-lo, ou possuí-lo, ou desejá-lo, por vias normais. Senti-me assim porque gostei dessa procura, gostei do sentir desejada, do pulsar forte, da respiração ofegante, do retesar de músculos, do medo.

Senti-me profana porque, simplesmente por reflexo, forjei um flagrante para ele, conforme o desejava. Deitada estava, coberta com lençol, simulei um calor repentino e descobri-me, deixando a mostra coxas e bunda, para seu deleite, e não contente me virei de lado, ficando de costas para sua posição, expondo melhor o que ele queria ver. Somente ouvi um barulho vindo do corredor onde estava. Creio que a visão foi mais forte que suas pernas.

Adorei a sensação moleca. E estava aberto o meu caminho para o erotismo. Já não diziam que, onde passa um boi passa uma boiada? Então, que mandem os touros, pois a porteira estava escancarada. Perdidos os medos, perdidos os escrúpulos, ganhei o desejo, e, semana seguinte, encontrei o meu Oliver, que em nada deixou a desejar ao do livro.

Como o original, meu Oliver era também feio e rude, talvez mais feio e menos rude, mas era viçoso e tinha "a força da natureza em seu sexo".

E assim o profano levou-me ao erótico, só por curiosidade.

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