terça-feira, 5 de julho de 2011

(Mini-Ensaio): Sobre vingança e justiça

Qual então a diferença entre justiça e vingança?

Para mim, ambos estão intimamente ligados, e nunca haverá a implementação do primeiro sem o desejo do segundo.

De fato, a justiça é algo que está enraizado na mente das pessoas participantes de uma dada sociedade. Assim, o conceito de justiça depende da sociedade que a gerou. É uma forma de respeitar o direito de terceiros, conforme a sociedade  o estipula. Assim, quando alguém obtem o atendimento a esse direito, diz-se que foi feito "justiça".

O principio básico é a igualdade, principalmente de condições e oportunidades. É isso que se deseja implementar quando se roga por justiça. Ou seja, se alguém entrou em uma sociedade e aceita viver sob seus auspícios, deve saber que lhe será exigido e garantido os preceitos de justiça daquela sociedade, iguais para todos que aquela sociedade considera iguais.

A vingança é um sentimento pessoal, por vezes mais destrutivo que construtivo. Deseja-se que o opressor sinta o que se sentiu, mas normalmente deseja-se que sinta muito mais. É algo que pode se tornar desmedido. Pode-se desejar matar alguém só porque foi fechado no trânsito.

Mas, o desejo de vingança é inerente a nossa condição humana. Veio com nosso pacote de inteligência e consciência. Ou seja, não é possível ser vingativo apenas por ser inteligente, é necessário também ser consciente, o que é, na verdade, aquilo que nos diferencia de outros seres vivos nesse planeta, até onde se saiba.

Ao sabermos da capacidade de cada um em julgar o que se devia ou não fazer, e observando-se que nosso opressor não cumpriu com esse mandamento, dependendo do grau de aceitação de erro de cada um, surge em nós o desejo de vingança contra aquele opressor.

Mas, da fusão desse primitivo, embora inteligente e consciente, desejo de vingança, com o advento e necessidade da vida em comunidade, surgiu a justiça. Ou seja, a justiça nasce do desejo de vingança pessoal, que deveria ser regrado.

De fato, se não fosse assim, nós estaríamos fadados a extinção, com intermináveis vendetas, e não teríamos chegado aonde chegamos. Mas, é justamente por causa disso que até hoje ainda padecemos do risco de autoextinção.

Um dos maiores exemplos de emprego de justiça como regulação da vingança, foi quando Salomão declarou que iria cortar uma criança em duas partes, a fim de acabar com a pendenga entre duas mulheres, sendo que uma delas aceitou tranquilamente, como uma forma de vingança contra a outra, por sua condição de estéril. Mesmo sendo essa a oprimida (era estéril), a justiça estava com a outra, a opressora (por ser fértil), pois lhe pertencia a criança.

Creio que nosso sistema penal nunca poderá ser simplório a ponto de querer acabar com essa realidade. Nunca. As penas devem saciar o desejo particular de vingança que todos tem. A questão é determinar quem, na verdade, é o opressor e o opromido e regular essa forma de opressão, se legítima ou digna, ou se ilegítima ou impia.

Para mim, quando a justiça não atende a contento a tal necessidade de vingança, que pode flutuar com o tempo e as circunstâncias, é que surgem os justiceiros, os cangaceiros e as milícias, que suprem esse desejo impossível de se desfazer, mas de forma desmedida e sem controle.

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