quinta-feira, 16 de novembro de 2017

(Devaneios): Bom ou ruim



E Eugênio pensou, "talvez seja bom, ou ruim, divagar sobre a ideia antiga de que há uma força, divina, bondosa ou maligna, que atua sobre mim".


"E pensar que lhe foi permitido ferir-me. Em tudo que eu fizesse, desde o nascimento, quando quase matei minha mãe."

"Passar pelo abandono por meu pai, à turbulenta mudança de cidade, na flor da infância."

"Nas andanças por novas terras e novas pessoas, desentendimentos e preconceitos, até desembocar no que sou e estou atualmente."

"Na vida com meus filhos, ambos com sintomas de depressão, ansiedade e desesperança. E tudo o mais, nos pequenos detalhes."

"A essa força não foi permitido matar-me, assim me parece, 'apenas' ferir-me, pessoal ou indiretamente. Dificultar a minha vida, cuidar para que eu nunca fosse feliz. Talvez tenham lhe pedido que sempre houvesse uma ferida aberta em meu peito, sempre tivesse um cisco no olho, sempre incomodasse um espinho no pé." 

De tudo o que já viu e sentiu. De tudo que está vendo e passando. E os vislumbres que se apresentam para o porvir, Eugênio não poderia ter outra conclusão, senão que tal força conseguia o intento, que com muita competência havia se incumbido e obtido sucesso.

Sentia-se esse joguete, essa pequena coisa sujeita a intentos e diversões alheias e desconhecidas. Alguém se divertia com ele, apondo pequenas agulhas e apertando aqui e ali, às vezes soltando um pouco, para dar a ilusão de liberdade, para depois voltar a apertar o alfinete contra sua carne, a fim de lembrar que sempre estará com ele.

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