terça-feira, 13 de setembro de 2011

(Mini-Ensaio): Sobre o pensamento arcaico do Colégio São Bento-RJ

Vejamos a matéria publicada no Terra sobre o Colégio São Bento do Rio de Janeiro, primeiro colocado no ENEM de 2010, principalmente no tocante a sua prática de não aceitar meninas em suas salas (!!).

O link da matéria "Método do 1º colocado no Enem remete ao século 19, diz especialista", é http://noticias.terra.com.br/educacao/enem/noticias/0,,OI5346342-EI8398,00-Metodo+do+colocado+no+Enem+remete+ao+seculo+diz+especialista.html 

Dessa matéria, extraio o comentário de um ex-aluno, que disse: "Claro que as mulheres distraem um pouco os homens. Se você tem uma namorada no colégio, fica com ela no recreio, vai para aula pensando nela, normal para o ser humano. Mas o colégio não tendo isso, ele o aluno fica mais focado. Isso é positivo porque você pode ter contato com as garotas fora do colégio, no clube ou na faculdade"

A idéia então é que as mulheres são empecilho intelectual para esses jovens!? É no mínimo estranha tal afirmação. Ao colocar-se, em uma mesma sala de aula, meninos e meninas o que se pretende não é, necessariamente, o contato (físico ou sentimental) entre eles, apesar de isso também fazer parte de nossa formação humana há milhares de anos. Mas, tenciona-se encarar ambos, moças e rapazes, como indivíduos antagônicos e complementares, ao mesmo tempo. Para os rapazes é bom ver as moças como seres pensantes, como aliadas e como desfiadoras intelectuais, e vice-versa. E não apenas como namoradas, como afirma o entrevistado. Em nenhum momento pode-se pensar nas mulheres unicamente como parceiras amorosas ou possíveis reprodutoras. Isso é lastimável.

Logicamente é somente a minha opinião, mas eu creio que a formação humana da maioria desses jovens será muito limitada. 

Assim, a casca de sua personalidade será bela e brilhante, mas o recheio pode ser um problema, sendo que, a qualquer momento essa casca pode quebrar por falta de consistência interna. 

Apenas um adendo. Esses jovens passarão em qualquer teste, em qualquer vestibular. Tudo bem. Se o objetivo deles for somente esse até o fim da vida, então os pais podem ficar tranquilos quanto ao que foi oferecido.

Mas, se, em qualquer momento, eles tiverem de participar de relacionamentos em grupos multidiferenciados em termos sexuais, de procedência social e/ou religião, aí a deficiência de formação ficará latente. Pois, de onde tais jovens tirarão as salutares experiências de negociar em ambiente de trabalho (a escola, em última análise, é o ambiente de trabalho do estudante) com meninas e moças e/ou negociar com pessoas de orientação religiosa diferente, já que, naturalmente, também não se relacionam com pessoas pobres?

São jovens que somente sabem a visão do mundo pelo lado rico, masculino, de cunho puramente católico, excessivamente técnico e reprodutor de conhecimentos, sendo que se relacionam unicamente com outros jovens de igual pensamento.

Para mim seria temerário uma empresa querer contratar jovens assim para funções não puramente técnicas. A chance de serem intolerantes com, principalmente, mulheres ou pessoas de credos não-católicos, ou com pessoas excessivamente criativas ou ainda advindas de famílias pobres é muito grande. Se a pessoa juntar esses quatro atributos então, nem se fala!

Ora. Se passaram a vida se vangloriando de um modelo que exclui mulheres e pessoas não-católicas, e que se propõe ser rígido em reprodução de conhecimentos, como eles poderiam olhar com bons olhos, ou mesmo aceitar a existência, por exemplo, de uma mulher ateia ou uma mulher espírita que o desafie com uma solução muito criativa em uma reunião de trabalho? 

O modelo do Colégio São Bento não prepara jovens para tais situações, e digo que tais situações são muito, mas muito frequentes, nos dias de hoje. Para mim, então, tais jovens serão, e sempre serão, excelentes técnicos individualistas. Enquanto puderem operar no campo total e estritamente individual e técnico, tudo bem. Mais que isso é temerário colocá-los. Os resultados podem variar de abaixo da média para desastroso.

Um comentário:

  1. 1- A maioria dos alunos lá tem namorada.
    2- Falar que consideramos mulher como impecilho intelectual é botar palavra na boca dos outros, algo típico da imprensa atual. Colégio é lugar pra estudar, e pronto.
    3- O colégio preza a formação humana. Não aceitar meninas é uma questão tradicional, não de preconceito, que não é aceito no colégio.
    4- O que o colégio ensina é justamente que a vida não se resume a provas, testes e vestibulares. O colégio ensina para dar liberdade ao aluno.
    5- Grupos multidiferenciados: temos isso lá. Nem todo mundo é riquinho. Ninguém lá é filho de papai, comportamentos desse tipo são cortados desde pequenos,e não sobrevivem ao ensino médio.
    6- Todos sabem se relacionar com mulheres, e nós fazemos isso como qualquer outro garoto. Estudar em um colégio masculino NUNCA, eu repito NUNCA atrapalhou em relação com outras pessoas.
    7- Por ser um colégio católico, aprendemos a respeitar as diferenças e saber dialogar, tal qual a Igreja faz. Sem defesas religiosas nem ataques. Nos relacionamos com pessoas mais pobres, sem problema nenhum. São pessoas.
    8- Sim, nos relacionamos com pessoas de igual pensamento, e é isso que nos ajuda a crescer.
    9- Não somos apenas técnicos. Aprendemos a pensar, é por isso que, muitas vezes, ter um Colégio de São bento do Rio de Janeiro no currículo é melhor que ter a melhor universidade do Brasil, garantindo então um ótimo emprego.
    10- Chamarmos de intolerantes é burrice, por favor. Não fale o que não sabe. Só pelo fato do colégio ser católico confessional, não significa que não tenham outras pessoas de religiões diferentes lá. Estudo com judeus, espíritas, evangélicos. Sabem que o colégio é de alto nível, e por isso estudam lá. Diferenças são respeitadas.
    11- Individualistas não, vivemos abertos ao mundo.
    12- Retornando ao início do post, sobre a "especialista": favor verificar a idade dela, que eu creio ser bem inferior ao do meu amado colégio, fundado oficialmente em 1858.
    Sem mais jornalismo tendencioso. Abraços

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