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Ela espera todos os dias na entrada do Metrô, observa a todos que chegam. Sempre está por ali, sempre observando quem passa. Mas, não observa, por que não é uma bisbilhoteira. Apenas olha as pessoas para ver se identifica o rosto de quem está esperando. Não, não observa ninguém, não nota ninguém. Seus olhos se desligam de cada boca, de cada cabelo, de cada olho. Para ela, basta que veja a quem o seu cérebro irá lhe dizer: "Ali, é aquele", e pronto, todo o resto, que já não tinha importância, passa a ter menos ainda. Nunca se sentiu observada, nunca pensou que alguém pudesse perceber que ali estivesse, quando uma coisa lhe empurrou a cabeça. Não fisicamente, não, de fato. Mas, sentiu como se fosse. Quando olhou havia alguém passando à sua frente, que por instantes olhou para ela, e a comunicou que, sim, ela era observada. Era notada. E esse alguém, através desse olhar, lhe disse "Sei que você está esperando".
Ele a notou. Passava por ali como sempre, como todos os dias. Quem sabe por quantas vezes havia cruzado com aquela figura. Ali, parada. Aguardando. Sentiu como se puxasse sua atenção, como se, de repente, uma explosão houvesse ocorrido à sua esquerda, e divisou com seu olhar, e esse lhe disse "Sim, estou aguardando". Mas continuou com seu passo e acessou a estação, com a sensação de ter recebido um segredo indecifrável em sua mente. Quem ou o que ela estaria esperando. Mas sua curiosidade durou apenas até a catraca. Ao descer a escadaria já não lembrava mais daquele drama, pois seu olhar identificou de pronto aquela que gostava de pensar que o aguardava todos os dias no mesmo lugar da plataforma. Na corrida para pegar o trem que anunciava a partida ele quase encostou nela, que se virou no exato momento que a porta se fechou, e seus olhos se tocaram, tendo um vidro entre eles.
Ela aguardava o trem. Como sempre no mesmo lugar, onde melhor lhe posicionaria na estação de destino. Pensava em como seria seu dia. Pensava que não tinha cigarro, precisava comprá-los ao sair da estação. Iria à banca de jornais de sempre, e, quem sabe ele a atenderia dessa vez, e não ficaria somente repondo revistas. Às voltas com tal pensamento o trem chegou, como sempre lotado. Esperou que todos saíssem e que se abrisse uma pequena clareira na multidão que se acotovelava dentro do vagão. Conseguiu entrar, mas ficou na região da porta. Sentiu como se algo suspirasse em seu ouvido e olhou para trás. Era aquele homem, que sempre a observava pelo canto dos olhos. Seus olhares se cruzaram pela primeira vez, mas com a porta fechada. Mesmo assim, quando a porta se fechou, deixando-o do lado de fora, ele, apenas pelo olhar, lhe entregou seu desejo, sendo que havia um segredo também.
Ele trabalhava na banca de jornal, repondo revistas, arrumando prateleiras. Naquele dia, desde o começo, sentia que algo diferente lhe aconteceria. Por isso se barbeou, por isso vestiu sua melhor camisa, e penteou o cabelo. Não sabia o que seria. Pensava sobre isso, quando pegou a caixa de revistas que acabara de chegar para que ordenasse na banca. Foi quando notou que havia alguém parado à porta da banca, pensando o que faria. Era uma mulher e não lhe era estranha. Mas, ela parecia não lembrar o que faria ali. E não sabia porque o olhava fixamente. Estava com um cigarro na mão, na outra segurava o troco. E ele, de repente, entendeu tudo, havia um segredo e um desejo em seu olhar, e ainda mais, uma necessidade, e mais, uma urgência. Tinha de ser ali, naquele momento, sem perda de tempo. E ele a olhou, e entendeu tudo, não havia o que explicar. E a tocou, e a envolveu e a beijou, mas nunca, mesmo muito tempo depois, se deu conta que o destino às vezes precisa dessas trocas de energias e cargas para que se realize algo que, de outra forma, ficará sempre na potencialidade.
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