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Fico intrigado com os grupos de
jovens que invadem as ruas das cidades brasileiras, intitulados black
blocs.
Esse movimento,
pelo menos até onde se tem noticia e na forma como são organizados, surgiu na
década de 1980 na Alemanha. Inicialmente buscava-se a defesa de ocupações
contra a atuação de forças policiais e de grupos neonazistas.
As citadas
ocupações, squats para
usarmos um termo, digamos, mais acadêmico, se aproximam ao que fazem os
integrantes do MST ou MTST no Brasil, ou seja, pensa-se, há propriedades em desuso ou
abandonadas por seus legítimos proprietários, sabidamente aguardando valorização
imobiliária, então, como não temos onde morar ou se estabelecer, as ocuparemos a fim de tomar posse e torná-las úteis.
Tal situação é até
permitida no ordenamento de muitos sistemas legais, inclusive no brasileiro,
pelo conhecido instituto da usucapião. Mas, há muitos pré-requisitos para se
conseguir a justa propriedade sobre bem alheio simplesmente por seu uso. Atender
a esses requisitos não é o objetivo dos squats,
mas sim se apossar imediatamente de algo que está em desuso, sob a idéia de que
as coisas somente têm razão de ser possuídas se estiverem sendo utilizadas por
alguém.
Então, embora os black
blocs alemães lutassem conjuntamente para garantir tais direitos, não se pense
que pregavam comunismo ou socialismo com seu movimento. Não, pois
a sua reunião era feita com um objetivo único, não havia organização
central, nem planejamento formal e muito menos hierarquia. Logo, é o anarquismo ou autonomismo que melhor se adéquam a seu ideário, ou seja, trata-se de um movimento com um
fim estrito e de corte horizontal, onde o que importa é algo como um colaboracionismo
em rede.
O movimento black
bloc então ganhou o mundo, chegando até aos EUA. Uma de suas atitudes é a
depredação de pontos de venda e comércio de corporações multinacionais, como
forma de chamar a atenção para sua oposição aos assim chamados símbolos do
capitalismo.
Com o advento das redes sociais na
Internet e uma aparente garantia de anonimato, a facilidade de proliferação de
movimentos desse tipo cresceu sobremaneira, porém, manteve-se sob relativo controle
no mundo desenvolvido, mesmo após a intensa crise econômica pós-2008. Mencionado
controle talvez tenha sido causado justamente pela completa desorganização e
descentralização de suas atividades. Não havendo uma cabeça ou colegiado que pense as atitudes ou
causas do grupo, então qualquer um pode entrar, qualquer um pode causar o
desagrupamento, atitude que a inteligência da polícia de países europeus, EUA
e Canadá utilizou para desarticular a sua tênue organização.
No Brasil, tais
grupos se inseriram facilmente nos movimentos populares de meados de 2013, pois
havia (e ainda há) um grande descontentamento com as políticas governamentais e
a corrupção generalizada no mundo político. Apesar de que esses movimentos tivessem
perfil anarquista (apenas o perfil do movimento, não os ativistas), ou seja, não
tinham um líder ou uma organização formal, eles não se perfilavam com as atitudes
violentas dos black blocs. Então, a introdução desses resultou na dissolução do
movimento popular, que não desejava (e não deseja), de forma alguma, a quebra do paradigma
social, mas sim iniciar a discussão sobre a questão da corrupção e sua punição e
o engano das prioridades de governo, sobretudo após a confirmação dos vultosos
gastos com a Copa do Mundo de Futebol.
Infelizmente, o
que restou daquele movimento foi somente os tais black blocs.
Mas, o que me
intriga nesse movimento no Brasil é a rapidez e facilidade com que se descambaram para a bandidagem, às vezes até promovendo-a, às vezes apenas
facilitando-a. Ora, ao quebrar uma agência bancária, supostamente para demonstrar
insatisfação com o capitalismo financeiro, eles estão possibilitando que outros
se adentrem à agência para assaltos a caixas eletrônicos, por exemplo. O mesmo acontece quando decidem quebrar concessionárias de veículos ou bancas de jornal (embora
não se saiba qual a relação das bancas de jornal com a exploração do
capitalismo mundial). E ultimamente o que vê basicamente são cenas de saques,
muito longe de qualquer ativismo político.
Logicamente, a ideologia revolucionária desses black blocs é fadada ao insucesso. Simplesmente
porque não há possibilidade de convivência social na forma pregada por eles,
sem um corpo de regras ou normas que padronizem o comportamento médio das
pessoas. Todos poderem praticar o que lhes der na telha, sem se submeter a
nenhum outro individuo ou instituição, trabalhar somente quando achar
necessário, morar aonde lhes convém, etc., etc. Como pode conviver assim uma
humanidade de quase 8 bilhões de pessoas?
Impossível. E fica claro pelas
constantes brigas (de fato) que surgem dentro dos próprios grupamentos de black
blocs.
Então, sabemos que esses grupamentos tem alta taxa de mortalidade (do grupamento), mas, seus recrudescimentos serão cada vez mais
constantes devido à proliferação das redes sociais eletrônicas e, em países como o Brasil,
pelo sistema legal frouxo e despreparado para lidar com o problema.
Assim, é um contrassenso que o que garante a subsistência dos black blocs é justamente o sistema social democrático que eles querem ver implodido.
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