quinta-feira, 12 de junho de 2014

(Pensamentos e Elucubrações): Black blocs, o que se pode esperar deles?

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Fico intrigado com os grupos de jovens que invadem as ruas das cidades brasileiras, intitulados black blocs.

Esse movimento, pelo menos até onde se tem noticia e na forma como são organizados, surgiu na década de 1980 na Alemanha. Inicialmente buscava-se a defesa de ocupações contra a atuação de forças policiais e de grupos neonazistas.


As citadas ocupações, squats para usarmos um termo, digamos, mais acadêmico, se aproximam ao que fazem os integrantes do MST ou MTST no Brasil, ou seja, pensa-se, há propriedades em desuso ou abandonadas por seus legítimos proprietários, sabidamente aguardando valorização imobiliária, então, como não temos onde morar ou se estabelecer, as ocuparemos a fim de tomar posse e torná-las úteis. 

Tal situação é até permitida no ordenamento de muitos sistemas legais, inclusive no brasileiro, pelo conhecido instituto da usucapião. Mas, há muitos pré-requisitos para se conseguir a justa propriedade sobre bem alheio simplesmente por seu uso. Atender a esses requisitos não é o objetivo dos squats, mas sim se apossar imediatamente de algo que está em desuso, sob a idéia de que as coisas somente têm razão de ser possuídas se estiverem sendo utilizadas por alguém. 

Então, embora os black blocs alemães lutassem conjuntamente para garantir tais direitos, não se pense que pregavam comunismo ou socialismo com seu movimento. Não, pois a sua reunião era feita com um objetivo único, não havia organização central, nem planejamento formal e muito menos hierarquia. Logo, é o anarquismo ou autonomismo que melhor se adéquam a seu ideário, ou seja, trata-se de um movimento com um fim estrito e de corte horizontal, onde o que importa é algo como um colaboracionismo em rede.

O movimento black bloc então ganhou o mundo, chegando até aos EUA. Uma de suas atitudes é a depredação de pontos de venda e comércio de corporações multinacionais, como forma de chamar a atenção para sua oposição aos assim chamados símbolos do capitalismo.

Com o advento das redes sociais na Internet e uma aparente garantia de anonimato, a facilidade de proliferação de movimentos desse tipo cresceu sobremaneira, porém, manteve-se sob relativo controle no mundo desenvolvido, mesmo após a intensa crise econômica pós-2008. Mencionado controle talvez tenha sido causado justamente pela completa desorganização e descentralização de suas atividades. Não havendo uma cabeça ou colegiado que pense as atitudes ou causas do grupo, então qualquer um pode entrar, qualquer um pode causar o desagrupamento, atitude que a inteligência da polícia de países europeus, EUA e Canadá utilizou para desarticular a sua tênue organização.

No Brasil, tais grupos se inseriram facilmente nos movimentos populares de meados de 2013, pois havia (e ainda há) um grande descontentamento com as políticas governamentais e a corrupção generalizada no mundo político. Apesar de que esses movimentos tivessem perfil anarquista (apenas o perfil do movimento, não os ativistas), ou seja, não tinham um líder ou uma organização formal, eles não se perfilavam com as atitudes violentas dos black blocs. Então, a introdução desses resultou na dissolução do movimento popular, que não desejava (e não deseja), de forma alguma, a quebra do paradigma social, mas sim iniciar a discussão sobre a questão da corrupção e sua punição e o engano das prioridades de governo, sobretudo após a confirmação dos vultosos gastos com a Copa do Mundo de Futebol.

Infelizmente, o que restou daquele movimento foi somente os tais black blocs.

Mas, o que me intriga nesse movimento no Brasil é a rapidez e facilidade com que se descambaram para a bandidagem, às vezes até promovendo-a, às vezes apenas facilitando-a. Ora, ao quebrar uma agência bancária, supostamente para demonstrar insatisfação com o capitalismo financeiro, eles estão possibilitando que outros se adentrem à agência para assaltos a caixas eletrônicos, por exemplo. O mesmo acontece quando decidem quebrar concessionárias de veículos ou bancas de jornal (embora não se saiba qual a relação das bancas de jornal com a exploração do capitalismo mundial). E ultimamente o que vê basicamente são cenas de saques, muito longe de qualquer ativismo político.

Logicamente, a ideologia revolucionária desses black blocs é fadada ao insucesso. Simplesmente porque não há possibilidade de convivência social na forma pregada por eles, sem um corpo de regras ou normas que padronizem o comportamento médio das pessoas. Todos poderem praticar o que lhes der na telha, sem se submeter a nenhum outro individuo ou instituição, trabalhar somente quando achar necessário, morar aonde lhes convém, etc., etc. Como pode conviver assim uma humanidade de quase 8 bilhões de pessoas?

Impossível. E fica claro pelas constantes brigas (de fato) que surgem dentro dos próprios grupamentos de black blocs.

Então, sabemos que esses grupamentos tem alta taxa de mortalidade (do grupamento), mas, seus recrudescimentos serão cada vez mais constantes devido à proliferação das redes sociais eletrônicas e, em países como o Brasil, pelo sistema legal frouxo e despreparado para lidar com o problema. 

Assim, é um contrassenso que o que garante a subsistência dos black blocs é justamente o sistema social democrático que eles querem ver implodido.


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