terça-feira, 10 de junho de 2014

(Literatura: Comentários e Sugestões): Leitura de "A mulher que escreveu a Bíblia", de Moacyr Scliar

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Queria falar um pouco sobre a leitura que fiz do livro "A mulher que escreveu a Biblia", do Moacyr Scliar (Companhia das Letras, 2007), mais um pequeno grande livro escrito por esse admirável escritor, que nos falta tanta falta.

Pequeno porque tem somente 162 páginas. Grande porque retrata magistralmente momentos e eventos que alguns autores prolixos e "enchedores de linguiça" (que, supõe-se, recebem por peso) demandariam o dobro ou o triplo de páginas.



Partiu da ideia ou estudo de Harold Bloom, pelo qual, parte da Biblia, mais especificamente do Antigo Testamento, foi escrito por uma mulher, citando "não era um escriba profissional, mas antes uma pessoa altamente sofisticada, culta e irônica, destacada figura da elite do rei Salomão [...]; uma mulher, que escreveu para seus contemporâneos como mulher"[Harold Bloom, The Book of J].

E como Scliar desenvolveu bem a ideia, desde o começo. Tratou como se estivéssemos em uma sessão de terapia por regressão a vidas passadas, onde um homem, com uma simples graduação em História, se vale de seu talento em ouvir e persuadir e ainda de seus conhecimentos acadêmicos para incutir na cabeça das pessoas que o procuram supostas passagens em outras vidas. E assim cai no seu próprio laço, se encantando por uma de suas pacientes e por seus relatos, o que resultou na estória do livro.

A estória então passa a ser narrada em primeira pessoa pela própria protagonista, que, por acidente, se torna uma das centenas de esposas de Salomão. Tal mulher, dotada de apurada perspicácia, aprende a leitura e a escrita, o que a diferencia entre todas as outras que encontramos na Biblia.

Mas, não é somente por isso que ela se destaca. Há também a feiura. Sim, trata-se da mais feia das mulheres do rei. E, como isso pôde acontecer? Como foi aceita no palácio, entre as mais belas e distintas moças do reino, uma figura que se destaca justamente pela falta de beleza?

Seus atributos intelectuais não aparecem à primeira vista. Em uma sociedade onde as mulheres tem de aparentar muito antes de ser, ela também se destacava pelas belas e voluptuosas formas, mas isso era um atributo que somente um homem corajoso desfrutaria, pois para se refestelar em seu belo corpo, teria que primeiro suportar seu rosto.

E, tanto a atual personagem principal como a antiga, nutriam paixões proibidas, furor erótico desmedido e grande capacidade de contar estórias.

E nos movemos a um passado e ambiente distantes e desconhecidos, muito diferentes do nosso, e encontramos uma pessoa que, mesmo assim, pôde ser tão igual, como se tantas diferenças nada influenciassem em sua verdadeira alma.

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