quarta-feira, 23 de outubro de 2013

(Devaneio): Limites e Continuidades

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O que define a infelicidade de alguém, ou, pensando positivamente, o que define sua felicidade?

É possível identificarmos esses pontos, onde se pode vislumbrar a felicidade ou não de uma determinada pessoa? 


Se não podemos identificar exatamente tais situações, interessa então saber de sua proximidade, o que acontece quando se está próximo, mais próximo ainda, quase lá? Porque acredito que a natureza nunca permitirá alcançá-lo totalmente. Creio que funciona como a lógica do salto quântico, ao nos aproximar desse ponto feliz, há uma ruptura de paradigma e sumimos desse lugar para reaparecer em outro, indefinido, quem sabe até quase plenamente infeliz.

O que é felicidade plena para um, não o é para outro. Fulano ganha bem, mora bem, come bem, tem uma esposa maravilhosa, tem filhos maravilhosos e nunca adoece. Na concepção de Sicrano, morando em uma localidade pequena e abafada, comendo sempre a mesma comida, com uma mulher feia e que vive a humilha-lo e ainda filhos preguiçosos, Fulano está postado em seu ponto de felicidade.

O único problema é que esse ponto não o pertence, ou seja, não pertence a sua função de vida, não lhe foi imputado meios de alcançar aquela posição. Por mais que Sicrano perverta sua realidade, entrando em dividas para morar igualmente a Fulano, separando-se de sua esposa e arrumando outra aparentemente semelhante à de Fulano, matriculando seus filhos na mesma escola dos filhos dele, mesmo assim, ele apenas poderá, em brevíssimos momentos, se postar no limite de Fulano e, quando achar que está a um passo de adentrar no ponto-chave onde ele se encontra, a inexorável força do destino (na figura dos credores, na traição de sua pretensa esposa "igual" à de Fulano, na fuga de seus filhos da escola perfeita) o rearranja, postando-o em lado oposto.

Então não há chance de continuidade na felicidade de nosso amigo Sicrano?

Depende do ponto que se escolhe como feliz? Se o ponto de felicidade de Fulano fosse o mesmo que o de Sicrano, poderíamos dizer então que o primeiro atingiu a felicidade e ai cairia por terra minha afirmação inicial. Mas, não é. Pois, para Fulano, sua casa, comida, esposa e filhos, não são vistos assim tão maravilhosos, quando ele vislumbra a possibilidade de ter o que um Beltrano-hipótese teria, ou seja, nem precisa existir uma pessoa-exemplo real do ponto-feliz para Fulano, apenas o seu vislumbre.

Para Sicrano, só resta se ajustar à sua curva contínua enquanto puder, pois, a tentativa de invadir a realidade alheia o fará passar para o outro lado do gráfico, onde as incertezas são bem superiores.

É por conta de estar ajustado ou não à sua função de vida que vemos pessoas muito pobres e pretensamente problemáticas, mas que demonstram grande regularidade e bom humor, situação mais próxima que se pode chegar da definição de felicidade. E, por outro lado, pessoas ricas e saudáveis, mas que, de tanto buscar de forma infrutífera esse ponto-feliz-hipotético, acabam por cometer suicídio.

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