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Meus poucos momentos de liberdade eu gasto aqui, não somente escrevendo essas coisas, mas aqui, neste ambiente, onde posso ficar "a ver navios", onde posso ver sem visto, observar sem ser observado, porém sem esconder-me.
Assim deve ser.
Hoje, pensava que gastaria esse minguado tempo procurando mais informações sobre meu sonho de mudança radical, principalmente bisbilhotando a rotina daqueles que pra lá se foram e gostam de apresentar sua experiência.
Tais momentos eu ainda não os compartilho.
Mas, lembrei-me de um ou dois parágrafos do livro do Rubem Alves, que serviu de inspiração ao meu post anterior.
Não é comum retomar um mesmo assunto, ainda mais na sequência.
Mas, é que... Bem tem um trecho que eu preciso deixar aqui, mesmo me expondo a violar algum direito autoral.
Espero que não.
Trata-se de uma de suas crônicas ou contos, que ele chama de "O prazer nosso de cada dia dá-nos hoje...". Trago aqui o finalzinho do conto, que resume sua ideia principalmente a respeito de reencarnação.
Quero deixar claro que não a defendo, apesar de achá-la surreal e original. Não havia pensado no assunto nesses termos e creio que é impossível opinar claramente a respeito estando em nosso estado atual, respirando, comendo, cheirando, tocando, sorvendo, fazendo sexo e outras coisas mais, que impedem qualquer julgamento sobre a experiência em uma outra existência. Mesmo quando alguns (com a autoridade de um Chico Xavier) nos apresentam o mundo espiritual, pretensamente como seria, fica difícil realmente sentir qualquer atração por ele, nesse estado corporal.
Não nesse momento.
O que não quer dizer que eu o refuto.
Vai o trecho:
"Pois saiba você que eu acredito muito na reencarnação. Faz muito tempo anunciei a minha conversão num artigo de nome esquisito: 'oãçanracneeR". Reencarnação ao contrário: não de trás para diante mas de diante para trás. O futuro não me interessa. Eu nunca o vivi por isso não posso amá-lo. Não quero ir para o céu: o tempo infinito deve ser um tédio insuportável. E o mais terrível é não ter saída. O céu me dá claustrofobia. Além do que não quero evoluir. Muitas coisas não podem e não devem evoluir: saíras de sete cores, riachinhos, ipês floridos, a Nona sinfonia, uma preta jabuticaba...
O que seria uma jabuticaba evoluída? Uma jabuticaba cúbica? Uma jabuticaba florida e perfumada e, depois, coberta de esferas negras brilhantes e túrgidas depois da chuva - esse objeto é divino, sem passado e sem futuro, presente puro destinado à eternidade. Não posso imaginar que alguma evolução lhe possa ser acrescentada. O que eu quero é não evoluir. O que eu quero é viver de novo o passado que vivi, com muito mais intensidade, sem os sentimentos de culpa com que minha religião aprisionou meu corpo, as minhas idéias, e os meus sentimentos... Tenho tristeza dos pecados que não cometi... Eram pecados tão inocentes...
Assim, quando já são poucas as jabuticabas na minha tigela, rezo o meu Pai-Nosso herético - ou erótico: 'O prazer nosso de cada dia dá-nos hoje...'."
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