terça-feira, 8 de outubro de 2013

(Citações): Pimentas, de Rubens Alves

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Escolher o que incluir aqui como citações para obras de Rubens Alves é uma tarefa difícil.
 
Sim, porque cada página de seus livros poderiam render, não somente uma, mas várias citações que bem seriam colocadas aqui, e teriam enorme aproveitamento.

Mas, na medida do possível, tentarei restringir os pensamentos que mais me chamaram a atenção nesse seu livro que, a rigor, comecei a ler ontem (Pimentas, Rubens Alves, Editora Planeta, 2012).

Assim, caso conclua esta postagem por hoje ou amanhã, ou ainda quando estiver em suas últimas páginas, com certeza perderei muitas e muitas outras filosofias emanadas da mente do professor. Logicamente, sempre poderei complementar a postagem com outras citações, e o farei com certeza.

Já em um dos primeiros contos, chamado "Filosofia de gato"(página 14), encontramos:

"Camus observou que o que caracteriza os seres humanos é a sua recusa a serem o que são. Eles não estão felizes com o que são. Querem ser outros, diferentes."

Na sequência continua (páginas 14-15):

"Desejos são perturbações na tranquilidade da alma. Ter um desejo é estar infeliz: falta-me alguma coisa, por isso desejo... Mas para meu gato nada falta. Ele é um ser completo. Por isso pode se entregar ao calor do momento presente sem desejar nada. E esse 'entregar-se ao momento presente sem desejar nada' tem o nome de preguiça. Preguiça é a pura virtude dos seres que estão em paz com a vida."

Sensacional, como não poderia deixar de ser. Mas, tenho uma outra possibilidade de intepretação às divagações do mestre.

De fato, a meu ver, a frase de Camus, ou seja, essa recusa humana em ser o que é, é a nossa consciência. É um resumo da única coisa que diferencia os seres humanos das outras criaturas. A consciência é isso mesmo. Ao percebermos nossa limitação e nos recursamos a conformar com isso é que passamos a ter consciência.

É por isso que a consciência humana (racionalmente) se recusa a acreditar em Deus, e temos que fazer uso de outros mecanismos para poder crer. E isso ocorre desde os tempos bíblicos. E o motivo é que, quando Moisés perguntou a Deus, do alto Monte da Promessa, qual era o seu nome Ele simplesmente disse: "Eu sou o que sou", [ou eu sou o que mostrarei ser], aludindo ao fato de que Ele é o que é e o que precisa ser, coisa que está além da consciência humana que se recusa a ser o que é e por isso não chega a ser o que precisa ser. Esse é o atributo humano mais profundo de verdade, nunca foi a inteligência, pois, pouco mais ou pouco menos, os animais também são inteligentes.

No entanto, como Rubens Alves demonstra com seu gato, não há necessidade dos animais em mudar suas "pessoas", suas condições. Os animais são o que são em quaisquer circunstâncias [diferente, logicamente, de Deus, que é que é, no sentido de mostrar o que deve ser, quando precisa ser].

Há também ênfase de Rubem Alves quando trata da idílica condição felina, a justificar que a preguiça é uma virtude, antes de ser um pecado,como apregoa a Igreja Católica. Nesse ponto eu concordo, mas somente em sua abordagem, nunca como uma apologia a preguiçosos contumazes.

Um pouco depois encontramos alguns comentários seus sobre a razão da loucura, encontrada em muitos gênios (página 27):

"Imagine mais, que a beleza seja tão grande que o hardware não as comporte e se arrebente de emoção! Pois foi isso que aconteceu àquelas pessoas que citei no principio: a musica que saia do seu software era tão bonita que o seu hardware não suportou."

Belíssima analogia. Talvez seja isso mesmo. O software de tais pessoas é tão sofisticado, tão além da conta, que não é comportado pelo pobre hardware ainda disponível a eles (e a nós também). Assim, esse conflito permeia toda a sua vida tornando-os disfuncionais para a nossa realidade. Seria como tentar rodar um Windows 8 em uma antiga máquina PC-XT da década de 1980. Sem chance!

E outra inserção teológica (página 33):

"Por que Deus criou o Inferno, isso eu não sei. Sei que não foi o Diabo, porque Deus, sendo onipotente, não permitiria que o Diabo tivesse tais poderes."

Aqui Rubem Alves, que também é teólogo, joga verde para colher maduro. Ele sabe uma boa resposta a essas perguntas e deseja somente instigar. A resposta seria: Não há inferno, porque não haveria motivos para Deus criá-lo e, ao mesmo tempo, não poderia permitir que outra divindade antagônica, mas inferior o fizesse, porque não há necessidade disso.

E poderíamos finalizar discorrendo sobre a semelhança entre o céu e a nossa vida atual (páginas 62 e 63), quando diz que a Adélia Prazo assim os comparava: "O céu será igualzinho a essa vida, menos uma coisa: o medo...".

Rubem Alves concorda, mas acrescenta a dor como algo que não pode existir no céu, se fosse para merecer tal nome. E eu acho que é assim também e por um motivo: No "céu" não existe a máxima do mutatis mutandis, ou seja, mudando o que precisa ser mudado. Por lá nada precisa mudar, pois são as mudanças que causam dor e medo. Sendo o "céu" um paraíso então não há mudança possível, nem necessária, logo não há dor ou medo, causados pelas sempre necessárias mudanças em nosso corpo, em nosso ânimo ou em nossos desejos.

Mas, temos mais. Temos uma pequena nota à página 79: "As pessoas são aquilo que amam"

Exato. Sem palavras.

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