free image from http://www.sxc.hu by mzacha's |
No post anterior eu disse que havia questões existenciais que também impediam ou, pelo menos, atrapalhavam minha ida ao Canadá. Como se não fosse pouco todo o resto de coisas que possam minar esse desejo!
Eu queria tratar desse assunto bem depois. Talvez nunca. Minha esperança, quem sabe, era que fosse solucionado por si só, dado a sua aparente insignificância. Talvez o problema, pensando como se fosse um ser autônomo, percebesse o quão desnecessário, o quão apragmático (perdoem o neologismo) ou o quão não solucionável é. E assim, talvez por vergonha, talvez por preguiça, talvez por conformismo, minha psique o anulasse.
E me parecia isso, no momento que escrevia aquele post.
Mas, não continua assim. E passaram-se o que, uma, duas semanas?
Hoje, neste momento, a questão existencial pessoal é o maior entrave à minha felicidade em terras estrangeiras e distantes.
O mal reside na seguinte pergunta sem resposta: "O que eu busco indo morar no Canadá?" E, por via de consequência: "O que eu conseguirei?"
São essenciais essas perguntas porque, aqui no Brasil, eu tenho um bom emprego, moro em um bom local, tenho uma boa assistência de saúde, como bem, durmo bem, tenho 30 dias de férias anuais, que eu separo em duas etapas, e, nos últimos anos, viajo (dentro do país) nos dois períodos. O que mais poderia pedir em termos de bem-estar?
A violência? Bem, ela existe, e assisto diariamente novidades a seu respeito, piores a cada dia. Mas, nem eu, nem minha esposa, filho ou filha, passamos diretamente pelo problema. Nunca tivemos alguma experiência traumática nesse sentido, embora familiares próximos o tenham passado, inclusive um tendo levado um tiro em assalto a banco.
Mas, isso é suficiente para querer largar o resto?
Sim e não, depende quem responderá a pergunta! Mas, têm a sujeira e a desorganização das cidades brasileiras, que me deixam atordoado. Tem a corrupção endêmica, em todas as áreas e classes, desde o mais simples brasileiro, até o mais poderoso, todos aceitamos, muito ou pouco; ou participamos, muito ou pouco; de uma mentalidade que aceita a corrupção. Isso também deixa-me transtornado.
Sim, esses motivos seriam bom o bastante para querer sair daqui, mesmo que nunca tenha sido prejudicado diretamente por tal status quo.
Mas, agora, quando essa crise existencial se aflora em minha alma, vejo-me naquelas ruas limpas, ensolaradas (sei que nem sempre) e organizadas de Vancouver. Vejo-me ali, andando por ali, sentindo aquela brisa, aquela segurança, aquela organização toda. Mas, não percebo nenhuma felicidade em meu coração.
De fato, ando pelo GoogleMaps pelas ruas de Vancouver. Por várias. Por ruas movimentadas, por ruas residenciais, por ruas próximas a praias, por ruas próximas a parques, ruas com pessoas, ruas desertas, ruas comerciais,... Em todas elas sinto em em meu peito o que não poderia sentir quem deseja migrar. Sinto um não-pertencer imenso. Não sinto o normal medo do desconhecido. Não sinto nem medo por não falar inglês, por não ter a quem recorrer em uma emergência. Isso até seria por demais normal, e penso que posso contar com apoio da assistência pública, nem que seja para levar ao aeroporto e despachar-me ao Brasil.
Porém, não é aí que reside o perigo. Preciso encontrar a felicidade dessas ruas, a felicidade desse povo, a felicidade dessas casas e dessas vistas, mais que a felicidade de trabalhar e manter-me por lá, problema ulterior, a questão é achar a felicidade da vida em Vancouver, ou sei lá aonde a ideia possa me levar.
Esse então é o problema básico, que vem antes que os demais. Não se trata do maior problema, mas é o primevo. Talvez ainda mais que o problema, também "insolucionável", sobre o que farei quanto a meu filho se e quando estiver fora do país com ânimo duradouro, questão a ser tratada em outro post.
Como disse inicialmente, como tal problema existencial talvez não tenha solução por enquanto, vou me preocupando com os demais entraves que podem, já de antemão, nem permitir a ida para o Canadá e, aí sim, a questão existencial pode passar absolutamente para a irrelevância.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Pode falar :)