segunda-feira, 19 de agosto de 2013

(Devaneio): Desejo primevo

In http://hinata-hajime.deviantart.com

Peço pouca coisa. Ou quase nenhuma, dependendo do que você esperaria, dependendo do que você poderia, dependendo do que você gostaria de dar-me.

Peço acolhimento. Peço compreensão. Peço um ouvido (se acompanhado do restante de você. Muito melhor!).

O teu colo onde possa repousar minha cabeça. Escutar teu coração, tua respiração. Sentir o calor de tua pele. Repousar na maciez de teus seios.

Peço que compreenda meu desejo por ti, desde que te vi, entrando por aquela porta. Poderia sentar-te em qualquer lugar, mas resolve sentar aqui, ao meu lado. Sendo assim, posso pedir-te.

Não tenho dúvidas que posso.

Peço permissão para te olhar. Não que já não tenha notado, desde o começo, tudo o que me interessava de fato. Mas agora, interesso-me por mais. Muito mais ainda quero olhar. Quero sorver os detalhes. Quero saber: Até onde, somente por ver-te, poderei aplacar o meu desejo?

Não quero falar, mas quero que perceba. Perceba isso tudo. Perceba os anos que me trouxeram até aqui, neste lugar, naquele momento que te vi entrar, e o que acende em mim o desejo.

Há toda uma história por trás. Uma pequena parte eu conheço. Vinte anos eu conheço. Pouco ao se considerar que tudo deve ter começado a centenas, senão milhares de anos atrás. É meu desejo primevo.

Desejo de uma fase inocente da minha alma. Desejo de criança antiga, maltrapilha, faminta, analfabeta e selvagem, mas que sabia querer, e sabia que queria você. Há anos!

E de tanto querer-te em dezenas e dezenas de rostos e corpos, e nunca conseguindo, acabou por metamorfosear todos os rostos semelhantes em você. Você passou a ser todos os rostos que te assemelham, sem que eu nunca mais visse o modelo que a originou.

E costumo tecer pensamentos brincantes, como se fora possível. Pensamentos que apenas servem para quantificar o meu desejo. Para provar que te desejo antes de qualquer coisa. Troco coisas e pessoas sabidamente mais valiosas e belas, sem nenhum arrependimento, troco-as, todas juntas, por um breve período ao teu lado. Gosto de brincar com tais permutas, mesmo sabendo que nada disso me pertence e que não as posso dispor. Talvez por isso as troque com tanta prontidão.

E é assim que funciona nos momentos de solidão. Naqueles breves instantes que somente minha consciência pode me penalizar, somente eu mesmo posso saber dessas loucas vozes, dessas loucas permutas, dessas insanas vontades.

A cada novo dia, mais desejo por tais momentos e a cada novo dia os tenho menos para mim. Como não poderia deixar de ser, aumenta a raridade, aumenta o valor. E quanto mais os tolhem de mim, mais os quero em minha rotina.

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