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Escrever, nem que seja por alguns instantes.
Escrever é como falar, exige a articulação de ideias, não somente a articulação de músculos e ossos faciais, mas, e principalmente, de pensamentos, de ilusões, de desejos, tecê-los de forma que se transformem em um pano de fundo de mim mesmo.
Logo, a minha intenção quando escrevo é fazer com que as pessoas tenham uma visão do que ocorre dentro de mim, vejam através da barreira física de meu corpo, mesmo que não totalmente, mas somente aquilo que eu permita, somente aquilo que eu deseje que seja visto. É, de fato, uma visão seletiva de mim mesmo. É meu background.
Agindo dessa forma não posso ser penalizado, utilizando contra mim somente o que escrevo, pois se trata apenas de um pano de fundo. Nunca conseguirei trazer para a escrita a totalidade de minha mente ou o estado completo de minha alma, meu inventário. Não tenho essa capacidade.
Ler é como ouvir, como saber dos outros, como ver uma paisagem. Nem sempre é o que eu gostaria de ver, nem sempre é o que paguei para ver.
A todo o momento sou enganado, mas nem sempre pelos que me cercam. Sou enganado por minha própria visão, por aquilo que vejo nos outros, pela minha miopia.
Então, a leitura, como audição que é, e sabemos que a audição muitas vezes substitui a visão, pode também ser o instrumento de minha enganação. Por minha culpa mesmo, sem dúvida que sim.
Eu posso enganar inadvertidamente, quando escrevo, e decerto que engano, e posso ser enganado sem querer, quando leio, e certamente o sou.
É um fogo trocado. Julgo o que leio pelo que escrevo, assim como posso julgar meus interlocutores por aquilo que forneço a eles durante um diálogo.
A meu ver então, estamos de tal forma acostumados a viver no engano, na ilusão, no cenário, no teatro, que não suportaríamos um só dia se nos fosse aberto os olhos, os ouvidos e a língua para as reais sensações da vida.
Mesmo que não saibamos (e se somos enganados, decerto que não sabemos), talvez fomos criados com o unico objetivo de crer, muito mais do que para sentir, ou seja, a realidade seria fustigante demais para nós.
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