segunda-feira, 6 de outubro de 2014

(Elucubrações): Além do bem e do mal

Free image in http://www.freeimages.com/photo/1442439 by Eowyn61Rox
Interessante relação que gostaria de deixar registrada, em um primeiro momento apenas como uma nota de leitura do livro "Além do bem e do mal" do Nietzsche que, diga-se de passagem, ainda vou demorar muito para terminar, e, mesmo que conclua, talvez nunca compreenda inteiramente.

Aliás, o objeto desse post nem faz menção diretamente ao livro do filósofo alemão, que serviu tão somente de motivação do insight, breve insight, sem querer chegar à pretensão de querer dizer epifania.


Fato é que, já no começo da leitura, veio-me à mente o raciocínio sobre a figura divina apresentada em outro livro, chamado "O livro de Urantia", sem autoria registrada. Esse livro, extremamente complexo no que propõe ser esclarecedor, nos apresenta uma divindade una que, antes até do "princípio"(?!), necessita subdividir-se como forma de possibilitar seu objetivo.

Logicamente que Deus está decididamente além do bem e do mal. Não há esses conceitos para tal personalidade (digo personalidade no sentido de, acredito firmemente, que Deus tem uma personalidade, ou uma característica própria que o define claramente, mesmo que essa personalidade seja como a cor branca, que é, de fato, uma cor, mas, na essência não é, pois se trata de uma junção de todas as cores, uma amálgama, tal seria então a definição da personalidade de Deus), simplesmente porque suas atitudes são únicas. Então, quem sabe, será que a própria subdivisão de Deus em uma figura trina foi parte do processo de criação do bem e do mal, como a primeira separação de cores de sua personalidade divina?

Mas, como poderia se esperar, não  havia bem ou mal na gênese, pois tudo foi criado ou passou a existir por uma única intenção, ou seja, a de Deus, e não havia quem pudesse julgar ou tecer algum comentário ou crítica, simplesmente porque não havia a experiência. Havia unicamente a existência, não a experiência.

E é aí que a coisa toma forma, ou que o motivo da criação ou da nossa existência passa a ter algum, digamos, sentido, pois...

     Deus "desejava" ou "precisava" da experiência (!?).

Talvez tenha sido justamente esse o motivo porque Deus decidiu criar seres conscientes inteligentes, a saber, possibilitar a experiência. Deus, por absolutamente poderoso e atemporal, não poderia ele próprio se ver limitado por uma existência à mercê de experiências. Tal possibilidade não lhe é permitido pessoalmente. No entanto, não há obstáculos se pensarmos em seres extremamente limitados, como nós, por exemplo, que, a rigor, dependem totalmente da experiência para manter-se.

Assim se confirma também a visão do princípio antrópico para explicar o motivo do universo ser como é. Por esse princípio, o universo é assim porque há seres como nós para se perguntar porque ele é assim. Embora pareça algo circular não o é se pensarmos que tudo nasceu da necessidade divina de se autolimitar, de criar meios de garantir a sua possibilidade de experienciar. Havia a necessidade de criar um meio onde seres, a princípio limitados, pudessem vir à vida.

Dessa forma, ao criar seres que, munidos de uma centelha dele próprio, iriam experimentar, Deus estaria, ele próprio, sendo reduzido ao mínimo possível, estando em seres no mais baixo patamar da existência, e ao mesmo tempo, sendo elevado ainda mais, ao participar dessa experiência e ao possibilitar a essas criaturas o crescimento ou o atingimento da máximo e absoluta existência, através dela.

Deus não teria mais para onde crescer na sua existência, posto que já era, é e sempre será absoluto e inteiro, mas poderia desenvolver uma outra faceta de sua absolutez através da experiência, e é desse processo que nós seres humanos, e outras inúmeras raças, estamos participando, através das incontáveis experiências de vidas em incontáveis ambientes, com o fim único de, ao final de tudo, em um momento futuro quase no infinito (como na concepção matemática do limite), fundirmos a nossa (de todos os inúmeros seres assim dotados) personalidade básica com a centelha de Deus que nos habita e reconstituirmos a Deus (aqui se permitindo dizer que reconstituindo ou constituindo a sua inteireza experiencial e não a inteireza de sua existência que é impossível ser reduzida ou aumentada).

Dificil tal teologia? Não creio que seja, pois já faz parte de diversas religiões e filosofias, talvez não apresentada dessa forma, muitas vezes por temor ou excessiva reverência. Porém, em partes, é discutida no Livro de Urântia, obra complicada demais e que decidi, sine die, adiar a leitura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pode falar :)