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Não sei se conseguiria descrever o choque que tive quando o li. Não que seu tema seja impactante, não que suas ideias sejam revolucionárias ou mesmo que a trama seja tão envolvente.
Por isso mesmo, por não ter uma motivação intrínseca à estória, é que me surpreendi com o envolvimento e a empatia que experimentei em sua leitura.
O segredo estava na forma.
Engraçado, normalmente dizemos que o importante é a essência e não a forma. E acredito nesse pensamento (sem querer parecer um pedante hipócrita), sempre que posso, é assim mesmo que procuro agir. A essência é o que há de importante, é o âmago da coisa.
Porém, a essência, às vezes, está tão profundamente enraizada no ser e na coisa, tão envolvido nas brumas de sua forma, que somente nos resta observar o exterior e esperar ou agir a partir do que sair de lá. As grandes perguntas universais, do tipo, quem somos, de onde viemos, qual o sentido da vida ou a razão de existência desse universo, são coisas que se encaixam nessa categoria. Não temos como ver a essência disso, ela está escondida por bilhões de anos e trilhões de quilômetros de escuridão e cinzas, então só nos resta olhar sua aparência externa e aguardar o resto.
"O mesmo mar", para mim, é assim, sua essência está encoberta pela forma belíssima de seu texto. A princípio, só nos resta desfrutar de sua aparência. Só nos resta pensar que é possível um texto ser belo somente por sua aparência externa e, ao descascá-lo com dificuldade e calma, ver o que sairá de lá de dentro.
E esse texto é um misto de poesia e prosa, escrito às vezes em primeira pessoa, às vezes em terceira, às vezes o próprio autor participa da estória, mas sem ser protagonista, às vezes é apenas um expectador, às vezes, quem fala é uma força da natureza, presente na vida de todos, às vezes, um espírito, não ele próprio, mas a ideia dele, que ainda povoa a mente dos que o amaram.
Na verdade, é mais poesia que prosa.
Sua trama básica são triângulos amorosos, pai-mãe-filho-nora-vizinhos-amigos-inimigos, interações e fugas. Mas, isso é apenas um substrato, é apenas a primeira camada que se vê após retirarmos a primeira casca.
Ou nem precisamos retirá-la, pode-se deixá-la por lá e aproveitar somente a forma do texto.
Nunca poderei lê-lo no original (em hebraico), mas a versão em português me pareceu excelente ou, pelo menos, suficiente para mim.
Nem precisa dizer que recomendo uma leitura lenta, ou uma dupla leitura. Melhor a lenta, aproveitando a forma do texto. Dizem que o autor demorou cinco anos para escrever o livro. Eu o sorvi em um mês.
Para mim, ambos foram tempos muito bem gastos.
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