segunda-feira, 1 de setembro de 2014

(Mini-crônica): Surpresas e,... surpresas!

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Te juro, pegou-me desprevenida.

Tenho o imenso defeito de tentar fazer previsões a todo instante. Tenho pavor em ser surpreendida com algo, ou seja, detesto surpresas.

Logicamente, as surpresas ruins são as que me preocupam.

E porque?



Porque a experiência ensinou-me que as boas surpresas, na realidade, não existem. Essas (as pretensas boas surpresas, lembra-se?) sempre são pré anunciadas de alguma forma. Sempre tem uma motivação anterior, algo no qual você, direta ou indiretamente, participou ativamente.

Então são resultados de longo período de gestação, não se pode chamá-las de "surpresa".

Oras, você trepa uma, duas, três, vinte vezes, e aí tua menstruação não vem. Se você estava numa boa com o cara, com vistas a um futuro, então, tudo bem, a "surpresa" boa é que você está grávida, e dentro de alguns meses terá uma pequena bolinha enrolada em panos a consumir todas as suas forças.

Mas, você está de boa, certo? É uma "surpresa" boa. Na verdade, algo totalmente esperado.

E quando você toma umas e outras pra esquecer esse desgraçado do parágrafo anterior, que você estava de boa, mas que te deu um fenomenal pé-na-bunda, e acaba saindo com o primeiro bonitão da balada, e fica a noite inteira com o danado (que é danado de bom na cama), e transam "vinte vezes" em uma só noite, e só, nunca mais vê o cara, fica arrependida, entra em abstinência sexual, promete virar a Madre Teresa, mas depois de vinte dias, tua menstruação, que é reloginho suíço desde a adolescência, já está atrasada há dez dias, e você, mais por curiosidade e brincadeira de amigas, compra o tal testinho de farmácia, e o "fdp" do palito está ali, na tua frente, com as duas marquinhas azuis, brilhando, queimando tua retina como um farol, mostrando a verdadeira surpresa?

Sim, coisas desse tipo é que são as verdadeiras surpresas.

É a conclusão a que chego aqui e agora, em frações de segundo, e grito: "Caralho, que porra de surpresa é esta?"

Lívia, que troca de namorado a cada fim de semana e que também está atrasada, coisa mais comum do mundo para ela, mostra seu teste normalzinho da Silva. Toma um susto tão grande com meu grito que urinou na calcinha o resto de mijo que sobrou em sua bexiga: "Jú, quer me matar de susto? Agora vou ter de ficar sem calcinha."

"Eu tô grávida amiga. Que porra de surpresa é esta? Vou lá comprar outro teste, esse aqui deve estar com defeito."

Deixei ela lá lavando a calcinha e perguntando o que faríamos nesse sábado. Claro que nem tinha escutado o que eu falara, só pensava em quem iria pegar para o fim de semana. Quando olhou pra trás estava sozinha no banheiro.

Aproveitei que ainda tinha quinze minutos de almoço e corri para outra farmácia. Comprei um teste de marca diferente, parei na primeira cafeteria que achei, comprei um cafezinho só pra ter direito a usar o banheiro.

Mas, não adiantou, a surpresa estava lá de novo, dessa vez em rosa. E essa mistura de azul do primeiro com o rosa do segundo deixou-me foi roxinha de raiva.

E agora, o que fazer, o que não fazer? Correr pra onde, contar com quem, contar a quem? Continuar grávida, interromper a gravidez, procurar o sujeito que me engravidou, mas como, onde está esse cara, nem trocamos telefone.

Primeira coisa que pensei foi: "Marcar consulta com a minha ginecologista". Consegui um encaixe pra amanhã. Pelo menos para uma surpresa boa essa gravidez serviu, pois nunca consegui um encaixe com essa médica.

Agora vou trabalhar, depois penso nisso.

Mas quem disse que consigo trabalhar. Não paro de pensar em minha barriga. Fico olhando com olhar de raio x, e vejo lá dentro um bolinho de células aumentando desesperadamente e pensando: "Corre, vamos crescer, antes que ela decida dar cabo de nós."

É que a única coisa que penso é na interrupção desse processo. Fico só imaginando quando. Como vou conseguir antecipar minhas férias para fazer isso? A quem irei recorrer?

E o trabalho fica pulando no computador. Preciso terminar essa animação feita pela Lívia, embora não consiga nem olhar para o monitor, e quando miro a tela só vejo aquela animação antiga do bebê dançando. 

E o telefone não para de tocar. A Lívia me perguntando: "Conseguiu ver o trabalho, você não acha melhor diminuirmos a velocidade, ou jogar mais luz no fundo?"

"Sei lá, Lívia. Minha vida acabou e você vem me perguntando isso." E bati o telefone.

Toca o telefone de novo. Já vou berrando:

"Lívia eu não vou olhar esse trabalho hoje, entenda de uma vez por todas".

Mas, não era a Lívia. Uma voz masculina familiar, mas não lembrava de onde:

"Opa, acho que liguei na hora errada. Mesmo assim não vou desligar, deu-me um trabalhão descobrir você. Agora é que não desisto."

"Oi, desculpa, pensei que era uma amiga minha que anda me pentelhando por um trabalho. Quem está falando mesmo?"

"Ah, que triste! Você nem lembra de minha voz. Agora é que dá vontade de sair de fininho."

"Não desligue, eu lembro de sua voz, apenas estou com dificuldade de ligá-la à pessoa."

"É o Raul. Lembra? Daquela noite, durante e depois da balada. Poxa, eu não me esqueceria nunca de ti. Queria encontrar de novo com você, em um ambiente menos turbulento, é claro."

É o pai de meu filho (quanta pretensão, não?).

Caramba, pensando bem, quem sabe às vezes, surpresas boas também existem.

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