segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

(Devaneios): Medos

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O medo permeia o ar. Por onde ando vejo-me tomado por um medo que a tudo e a todos invade.

Não tenho para onde olhar e não sentir medo. Às vezes até um pânico denso me toma e sinto desejo de correr, fugir, sair do contato do olhar das pessoas, sair do escafandro de meu corpo. Escapar do túmulo onde me alojo. Mas é tão denso esse medo que falta-me ar, falta-me movimento, falta-me campo de visão, saber para onde irei, caso volte-me a respiração e os movimentos.

É fácil sentir medo por aqui. É muito fácil sentir medo no Brasil.

A violência está em todos cantos. Em qualquer lugar posso ser surpreendido por uma arma na cabeça, por uma pessoa que se julga mais forte, que se julga no direito de subtrair aquilo que pensei que me pertencia. Cria-se até justificativas sociais para isso, como se eu fosse o criminoso e o que me assalta e me subjuga fosse o inocente, tomado por prementes e intransponíveis necessidades de ter aquilo que possuo.

A violência é parte das vidas por aqui, assim como a dengue o é na cabeça de muitos. Sim, para muitos a dengue não é sequer uma doença, mas uma inevitabilidade, que todos terão, mais cedo ou mais tarde. O mesmo vale para o assalto, a explosão, o revólver na cabeça, a bala, seja perdida, seja dirigida.

Acrescente-se a isso o terrorismo a que temos que suportar a título de revolução social em curso, daqueles que, sem nenhuma fundamentação ou planejamento ou conceituação de propostas, desejam modificar o status quo social em benefício de pretensos desfavorecidos (como se eu próprio não soubesse o que é, de fato e na carne, ser "desfavorecido"). Como se pudéssemos trocar ou modificar séculos de descaso com uma pedra jogada contra uma agência bancária ou uma loja de automóveis ou um ônibus incendiado. Como se a verdadeira conquista da igualdade pudesse vir com tais atitudes e não com a labuta diária ou com anos e anos de educação paulatina e de boa qualidade.

Sinto-me acuado. E o medo. O que é o medo?

Não é o desejo de fazer algo e ser impedido, não é uma prisão, um cerceamento de liberdade? Quem tem medo é prisioneiro. Busca uma saída de sua situação. Quem tem medo é um fugitivo, sempre está em fuga. Quem tem medo, para o objeto de seu medo, é um completo covarde.

Quem tem medo é uma pessoa pronta para ser dominada. É uma pessoa fácil de ser atingida. Fácil de ser manipulada. Quem tem medo deseja distância, não deseja contato, quem tem medo, no afã de fugir, pode fazer coisas inimagináveis.

Tenho medo. E a cada dia meu medo se acrescenta. Fico a cada dia mais medroso. Acrescento a meus terrores pessoais os alheios. Acrescento o mal coletivo aos meus próprios demônios. Minhas pestes são invadidas por infecções de outros lugares.

Por conta disso, procuro refúgio, pois temo pelos que me cercam. Não quero ser penalizado por contaminar um inocente. Eu devo carregar a minha cruz, e o caminho que falta ainda é longo, se fraquejar agora nunca poderei enfrentar os últimos metros.

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