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A discussão sobre a existência ou não de Deus é algo que sempre me pega de atravessado.
Mais especificamente, é algo que, quando dito por um ateu fanático, me deixa indignado, mas o mesmo sentimento me toma quando um religioso quer abordar o assunto.
O primeiro sempre vem com a questão científica, com a explicação básica, alegando que a mãe ciência pode nos responder a todas as indagações. O segundo vem com seu livro dogmático escrito há milhares de anos, no qual ele deseja enquadrar tudo que se vê na natureza.
Nem sempre a máxima da "virtude está no meio" é o refrão que utilizo para orientar meus pensamentos, porém agora é isso mesmo, temos que nos esforçar para, aceitando as explicações científicas, também aceitar a evidência da existência divina.
É totalmente plausível a existência de Deus, mesmo em um contexto puramente científico. Mesmo aceitando a existência fatual do Big Bang ou de outra alternativa cientificamente válida.
Com o Big Bang sendo a origem do universo e de tudo que vemos (ou não vemos) surge o enigma do que existia antes. Stephen Hawking gosta de dizer que não existia esse "antes", pois o Big Bang simplesmente criou tudo, até mesmo o tempo. Esse tempo, que para nós é algo imaterial, não o é totalmente para os físicos teóricos.
O tempo é uma outra dimensão e assim é tratado em suas equações. Dessa forma, é perfeitamente plausível para eles as questões relativísticas de retardamento do tempo nas proximidades da velocidade da luz, coisa que sequer conseguimos imaginar em nosso dia-a-dia.
Assim, para tais cientistas, o fato de não existir tempo antes do Big Bang é algo pacífico e transparente. Bom demais! Então está resolvido! Não existia nenhuma dimensão no momento do Big Bang, ou melhor, apenas uma dimensão, um ponto infinitamente pequeno e, portanto, unidimensional. Tal ponto é chamado de singularidade.
Desse ponto, não sujeito ao tempo, surgiu tudo. Então não cabe um "antes", ou um Deus que, por sua decisão prévia (e, portanto, anterior) tenha decidido eclodir a singularidade e "criar" tudo o que existe.
E nem precisa explicar as forças que engendraram a tal eclosão da singularidade ou da necessidade de torná-la um fato. Essas são outras questões irrelevantes, pois, ao suprimir o tempo da questão, no pensamento de Hawking, Deus e sua necessidade haviam morrido.
Mas, para mim, é um problema crucial, ou seja, qual a força que gerou a eclosão da singularidade? E, se ela era estável "desde sempre", porque, de repente, passou a não mais ser?
Então, se (sempre de repente) esse ponto resolveu eclodir, por absoluta insustentabilidade do seu ser, qual a força envolvida nisso? Digo isso porque, a partir da constatação de sua insustentabilidade (e o que causou ou o que é tal insustentabilidade), houve uma ordenação (não no sentido de ordem como mandamento, mas, ordem como um conserto ou um arranjo, uma cronologia) na eclosão, que, seguindo um roteiro claramente estabelecido (ou seja, que obedece a regras ou leis naturais), provocou os efeitos, mesmo sem ter havido uma causa no sentido temporal, como advoga Hawking. Sim, pois, segundo o brilhante cientista, um dos paradigmas que, ao ser suprimido, também prova a não existência de Deus, é a quebra da relação causa-efeito no inicio dos tempos. Ou seja, o Big Bang é um efeito sem causa, pois não existia tempo antes dele. Sendo assim, por tal conceito, Deus não é a causa primeva.
Mas, por não explicar a motivação (ou a lei natural) e a força envolvida, a base na qual se apoia tal ideário ateu perde uma ou duas pernas de sustentação.
Claro que eu não teria como questionar a validade numérica da proposição de Hawking e seus pares. Muito menos teria como propor novos modelos matemáticos para tanto. E essa não é a ideia.
Falando nisso, também quero discordar de outra afirmação do cientista. A de que a filosofia pode ser dada como findada, pois a ciência a substitui de pleno na incessante busca humana pela verdade.
Ora, digamos que a ciência é uma excelente ferramenta, talvez a melhor, para provermos os pensamentos filosóficos de evidências de plausibilidade. Mas, nunca poderemos prescindir do pensamento recursivo da filosofia.
Prova disso é a falha no pensamento de Hawking em sua ansiedade por questionar a existência de Deus.
Ora, se somente a ciência, como quer Hawking, prova tudo e responde a todas as questões, notadamente a ciência exata e determinística como a que ele é formado, então haverá uma exclusão eterna de quase toda a população da Terra a respeito do conhecimento da verdade da nossa existência. Digo isso porque somente alguns milhares de pessoas no mundo todo podem entender, reproduzir ou questionar nos mesmos termos as teorias de Hawking e seus pares. O restante da população nunca, mesmo com treinamento, poderá se adentrar nessa seara.
Então é o modelo de verdade mais excludente da história humana. Dessa forma, como aceitar pacificamente tal ideia, sabendo ainda que ela não explica nada em absoluto (mesmo sabendo que o paradigma anterior, religioso ou não, também não explicava, mas era imensamente mais acessível)?
Mas, há uma afirmação de Hawking em sua rancorosa afirmação anti-Deus. Essa afirmação foi que me proporcionou um breve insigth sobre a existência de Deus.
Ele diz, utilizando outras palavras, que não precisamos da existência de Deus ou mesmo da esperança por uma nova vida, seja aonde for, para apreciar a beleza da vida presente e de tudo que existe, como existe e da forma como se chegou a isso, conforme explica a ciência.
Pronto. É aí que mora o perigo. O belo explica então a existência de Deus.
O fato de cada um ter um conceito de beleza próprio é que muda tudo. Para Hawking, um mundo explicado por curvas, funções, equações diferenciais e coisa e tal é a coisa mais bela que pode existir.
Para mim, é a coisa mais horrível que poderia existir. Não posso ter como belo um mundo onde tudo pode ser enfiado dentro de uma equação. E só o fato de eu sinceramente considerar essa ideia horrível e não bela, acima de qualquer outra hipótese alternativa, já invalida, ao menos em parte, a afirmação do autor.
Ora, se tais funções explicassem bem o universo e seu funcionamento, então porque há diferenças tão diametralmente opostas sobre a "beleza" de sua formação?
E se há diferenças tão grandes de posicionamento entre seres irrelevantes como nós, será que atores (mesmo que partículas) mais importantes na geração de nosso universo também tiveram esse "livre arbítrio"? Isso não se coaduna com o experimento científico que, para ser válido, precisa ser repetido por pares, obtendo-se o mesmo resultado sempre.
Voltando à questão base de Hawking, a de que o tempo foi criado com o Big Bang. Como não me preocupo com a comprovação matemática ou com a repetição de processos por pares, gostaria de dizer que, em minha concepção (filosófica ou teológica, que seja), o tempo continua não existindo para Deus, "desde sempre" e "para sempre" é a mesma coisa para "Ele" (seja o que ou como for esse "Ele"). Na verdade então, tudo acontece simultaneamente.
Como isso é possível? Ora estamos falando de um ser, ou ideia, ou força que permeia a tudo, inclusive o tempo. Essa força se infiltra em tudo e todos e convive pacificamente em todos os momentos como se tudo fosse um eterno momento presente.
Mas sei que tal conceito é asqueroso para Mr. Hawking.
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