quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

(Citações): O livro de sua vida, de OSHO

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Talvez ainda não estivesse preparado, talvez o momento atual não seja o mais propício, talvez não se encaixe à minha história de vida, ao meu desenvolvimento humano, talvez não se adeque aos meus medos, aos meus mais obscuros medos, ao meu desejo de ter algo mais, à minha ancestral necessidade de pai, de colo.


Ou talvez seja razão, a escancarada razão que bateu em meu rosto com muita violência, e doeu muito. Ou acionou em mim a eterna desconfiança, a que mais aflige os ignorantes.

Fato é que os pensamentos de Osho causaram-me perturbação.

Não disse revolta, não disse repulsa, mas perturbação.

E porque perturbação?

É que, iniciando a leitura, a sua exposição de Zorba, o Buda, trouxe-me pensamentos que vieram ao encontro dos que guardo atualmente. De repente pude raciocinar sobre o "superhomem" de Nietsche. Pude finalmente ter claro uma hipotética visão desse superhomem, ou seja, uma pessoa que poderia, aproveitar os desejos carnais e tudo o que a sua sensibilidade material desejasse e, ao mesmo tempo, guardasse idêntica proporção de seu ser a coisas voltadas a seu desenvolvimento interior, a sua espiritualidade, digamos assim.

Ora, essa é a perfeita descrição de meu momentum, o meu estado pessoal, a forma como movimento minha existência e a minha massa interior. Gostaria de poder desfrutar mais dessa idéia, e desenvolve-la em mim mesmo. Surge daí o motivo de ter continuar a leitura de "O livro de sua vida" (Osho, Editora Cultrix, 2007).

O primeiro capítulo, chamado "Mundano versus Extramundano" é dedicado parcialmente a expor essa visão. Isso posto, o autor passa atacar as religiões, e, na verdade, esse é o seu maior objeto de atenção durante todo o livro, ou seja, a destruição da idéia de religião, como a concebemos hoje. Até aí tudo bem, concordo especialmente com isso, pois não creio que as amarras religiosas fizeram, de fato, algum bem à humanidade.

Mas há sempre um antagonista em nossos pensamentos e desejos. O meu, quanto ao assunto religião, é uma questão central do ideário cristão, que julgo essencial. Não falo aqui da forma como o Catolicismo julga tratar o Cristianismo, já que tenho dificuldades para aceitar o Catolicismo como uma doutrina puramente cristã (a meu ver poderia se chamar Mariana-Cristã, por exemplo, mas isso não vem ao caso), ou mesmo outras cristandades, mas falo do que eu penso como verdadeiro no ideal cristão.

E Osho se opõe a isso. É justamente esse ataque que me deixou perturbado, principalmente por haver sentido em seu discurso, justamente porque tirou o chão debaixo de meus pés e eu não teria como agir sem essa base de pensamento cristão que ainda guardo em mim. Trata-se da questão do "amar a Deus sobre tudo e a teu próximo como a ti mesmo". Essa é, para mim, a essência cristã, mesmo que ainda tenha dificuldade em adequar-me.

E até a isso Osho volta sua artilharia intelectual. No pensamento religioso dele é necessário haver liberdade e consciência dessa liberdade. Para Osho, quando afirmamos amar a Deus sobre tudo estamos abrindo mão dessa liberdade, pois a entregamos ao ser onipotente, e nos tornamos fantoches ao aceitarmos tal condição. Por via de consequência, não é possível para Osho a idéia de criacionismo e de Deus, esse como concebido nas grandes religiões, inclusive no Cristianismo (no decorrer do livro se observa qual a idéia de Deus para Osho, se é que podemos dar esse nome), simplesmente porque a criação e a evolução são coisas contrárias, e a evolução é fato indiscutível em seu discurso. Ora, só existe a evolução porque algo precisa mudar e somente mudamos algo que não é perfeito. Da mesma forma, se acreditarmos piamente no criacionismo então não poderíamos ser culpados por nenhum erro, pois, se Deus me criou, ele determinou minha natureza, então tudo o que faço de errado não pode ser imputado a mim. O que também jogaria por terra o conceito de livre-arbitrio, criado unicamente em face desse problema conceitual.

Há muito mais nesse livro de Osho, que parece ter muito mais do que as 230 páginas, tamanha sua densidade.

É perigoso. Perigoso concordar, perigoso discordar. Mas, é esse o objetivo dele. Criar motivos para o debate, para a dialética que impera em seu pensamento e que nos é apresentada já na introdução ao livro:


"Eu não acredito na crença. Minha filosofia é saber, e saber é uma dimensão totalmente diferente. Ela tem início na dúvida, não na cença. No momento em que se acredita em algo, você para de fazer perguntas. A crença é um dos piores venenos para a inteligência humana.

Todas as religiões se baseiam na crença; só a ciência se baseia na dúvida. E eu gostaria que a inquirição religiosa fosse científica, baseada na dúvida, pois desse modo não precisaríamos acreditar; poderíamos algum dia conhecer a verdade do nosso ser, e a verdade de todo o universo."






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