sexta-feira, 13 de setembro de 2013

(Citações): Risíveis Amores, de Milan Kundera

Free image in http://www.sxc.hu by eqphotolog
Faço aqui alguns parenteses sobre trechos de livros que leio, nos quais encontros frases ou parágrafos com ideias que, de uma forma ou de outra, um pouco mais, um pouco menos, eu também advogo ou  acredito ser válidas também para mim ou para o meio em que vivo.

Ou, pelo menos, considero-os insights, belas tiradas do autor. E eu, no melhor estilo "como não fui eu que fiz", quero apenas mostrar, muito mais para que não caia no meu esquecimento, como quase tudo que um dia entrou em minha mente.

Atualmente leio uma edição popular (barata) do livro "Risíveis Amores" do Milan Kundera (Companhia das Letras, 2012, tradução da versão francesa de Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca). Não me sinto capaz de fazer qualquer resenha sobre o livro, quanto mais falar do autor. Até esse momento, havia lido, há cerca de 15 ou 20 anos (não lembro), o seu livro mais famoso no Brasil, "A Insustentável Leveza do Ser", e comecei a ler "A Arte do Romance", sendo que esse ultimo não consegui terminar, por considerar demasiado teórico e erudito para mim.

Então vou ao primeiro trecho que achei muito bom (pág. 11):


"Atravessamos o presente de olhos vendados, mal podemos pressentir ou adivinhar o que estamos vivendo. Só mais tarde, quando a venda é retirada e examinamos o passado, percebemos o que vivemos e compreendemos o sentido do que passou."


De fato, é isso mesmo. Somos todos cegos no presente, em nenhum momento podemos ter total confiança no que fazemos ou no que deixamos de fazer. Além de cegos, somos guiados e guiamos outros cegos. É impossível vislumbrar em nossas atitudes diárias, aquela que nos levará a um precipício em poucos instantes, ou a que nos guiará para um mar de delícias em algum momento. 

Nunca saberemos totalmente. Agimos na confiança. Ou na esperança de que o chão estará no lugar que julgamos estar, de que a esquina estará ali, de que o outro cego, que porventura vier em nossa direção, pressentirá nossa presença e se afastará ou vice-versa.

A sorte é que nos guia. Seu império é uma situação generalizada. Todos temos a mesma cegueira temporal e ninguém pode se valer de sua pretensa suficiência em seu único benefício.

Logo, não há necessidade de sermos tão exigentes em nossas ações ou em seus erros. Ora, são atitudes praticadas por um cego. Se acertamos foi pura sorte, por mais pretensamente científica que possa ter sido nossa decisão. A sorte é que nos guia na verdade. Se erramos, não deve haver recriminações, pois é isso que se espera de um cego andando em uma rua movimentada, ou seja, que enfie a testa em um poste ou que seja atropelado ao atravessar uma rua.

Será que foi tirado de nós esse sexto sentido? Um especial sentido de tempo, um sensor que detecte as tênues mudanças na dimensão tempo e nos forneça prognósticos. Ou nunca tivemos tal capacidade? Fomos extirpados ou esse item não foi acrescido em nosso desenho básico?

Tenho outro ponto que acho pertinente (pág. 73):


"Até inventara, para seu próprio uso, um método original de autopersuasão: repetia para si mesma que todo ser humano ao nascer recebe um corpo entre milhões de outros corpos pronto para o uso, como se lhe fosse atribuída uma moradia semelhante a milhões de outras num imenso prédio; que o corpo é, portanto, uma coisa fortuita e impessoal; nada mais que um artigo emprestado e de confecção."


Genial. É uma excelente alegoria sobre a presença da alma como algo que sublima do corpo, como algo atemporal ou definitivo. 

Quem sabe não seja isso mesmo! A natureza dispõe de bilhões de invólucros a serem utilizados, ou dispõe da fórmula de constituí-los, que será utilizada a cada vez que necessitamos de uma nova roupa, dependendo da ocasião a que fomos designados. Nosso corpo real permanece o mesmo, mas, dependendo da roupa, ou casca, podemos ter nossa atuação modificada.

Ora, um soldado em uma armadura medieval teria atuação diferente de um astronauta em um traje espacial. Não se pode dizer que uma veste é melhor que a outra, pois depende para que trabalho o seu usuário foi designado. 

Sendo assim, tal traje, de fato, não nos pertence, mas àquele que nos emprestou, que o levará quando acabar nossa missão, reciclando-o. Afinal, esse é um tipo de instrumento que se presta somente a uma única utilização.

Um comentário:

Pode falar :)