segunda-feira, 10 de junho de 2013

(Devaneio): Na falta de...


Estive pensando no que poderia escrever.

Não que me falte sobre o que escrever. Livros que leio, idéias políticas, idéias religiosas, musicas que ouvi, filmes que assisti, meu estado emocional... E sempre caio nesse último. Minhas idéias políticas, religiosas, livros, musicas e filmes, de alguma forma, tendem a convergir para meu estado emocional.

Para aquilo que me aflige. E aquilo que aflige não requer letras e divagações, mas muitas lágrimas. Lágrimas que não posso verter aqui e agora. Lágrimas que, talvez, já me secaram por dentro, por descrédito em sua eficácia. Por se mostrarem insuficientes para reverter a situação.

Assim, a melhor saída é divagar sobre o insólito. Divagar sobre mim mesmo, mas em outro plano, quando nada disso era material, como é atualmente, quando sequer fosse algo a ser cogitado.

Lembro-me pequeno e franzino, subindo em uma árvore, uma goiabeira, pegando goiabas verdes e quentes ou maduras e bichadas. O sabor da fruta, comida ali mesmo, com a higiene apenas da natureza, com bicho e tudo. Não havia ainda a minha síndrome de cólon irritado, não havia a gastrite, simplesmente porque não havia a angustia, senhora de todas as doenças do adulto.

Dores que eu mesmo procurei, quando não podia mais ter meu pé de goiaba para subir.

Gostava sobremaneira de subir em árvores. Até as não frutíferas. Melhor se desse fruta, mesmo que eu desconhecesse a espécie ou mesmo se era comestível, pois vingava a máxima do "se não mata, engorda". Nem matou, nem engordou.

Mas, possibilitou a mim refúgio e exposição, semelhante ao que busco escrevendo aqui. Antagonismo que mostrou ser a minha própria essência. 

Gostava de ver sem ser visto, mas deixar a possibilidade da descoberta. Porém, mais que isso, gostava de ver longe, onde não poderia ser encontrado. Gostava de ver sem ser notado de imediato, sem ser perturbado, sem perturbar. Saber sem ser sabido. Em um primeiro momento não buscava exposição, apenas sapiência. Apenas não queria pagar o custo da busca. Esse custo é que era e é difícil para mim.

Por isso as árvores mais frondosas eram melhor. Quando não tinha árvore poderia ser um telhado. Outro local de minha adoração.

Ali não havia frutas bichadas para me fartar, mas poderia ficar ainda mais obscuro.

Hoje me vejo naqueles telhados, naquelas árvores,  querendo entender mais de mim e dos outros e do mundo. Não era um esconderijo em si. Qualquer um poderia levantar a cabeça e ver-me. É quase o mesmo que faço escrevendo aqui, sem divulgação, apenas tentando encontrar-me naquilo que vejo nos outros. 

Será que também sou como esses passantes?

O drama de minha vida é também o mesmo drama por que lutam esses que esbarram em mim sem me notar?

É possível ser feliz sem ser visto, sem desejar ser visto, mas não estar escondido? 





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