Estive pensando no que poderia
escrever.
Não que me falte
sobre o que escrever. Livros que leio, idéias políticas, idéias religiosas,
musicas que ouvi, filmes que assisti, meu estado emocional... E sempre caio nesse
último. Minhas idéias políticas, religiosas, livros, musicas e filmes, de
alguma forma, tendem a convergir para meu estado emocional.
Para aquilo que me
aflige. E aquilo que aflige não requer letras e divagações, mas muitas
lágrimas. Lágrimas que não posso verter aqui e agora. Lágrimas que, talvez, já me secaram por dentro, por descrédito em sua eficácia. Por se mostrarem
insuficientes para reverter a situação.
Assim, a melhor
saída é divagar sobre o insólito. Divagar sobre mim mesmo, mas em outro plano,
quando nada disso era material, como é atualmente, quando sequer fosse
algo a ser cogitado.
Lembro-me pequeno
e franzino, subindo em uma árvore, uma goiabeira, pegando goiabas verdes e
quentes ou maduras e bichadas. O sabor da fruta, comida ali mesmo, com a
higiene apenas da natureza, com bicho e tudo. Não havia ainda a minha síndrome de cólon irritado, não havia a gastrite, simplesmente porque não havia a
angustia, senhora de todas as doenças do adulto.
Dores que eu mesmo procurei, quando não podia mais ter meu pé de goiaba para subir.
Dores que eu mesmo procurei, quando não podia mais ter meu pé de goiaba para subir.
Gostava
sobremaneira de subir em árvores. Até as não frutíferas. Melhor se desse fruta,
mesmo que eu desconhecesse a espécie ou mesmo se era comestível, pois vingava a
máxima do "se não mata, engorda". Nem matou, nem engordou.
Mas, possibilitou
a mim refúgio e exposição, semelhante ao que busco escrevendo aqui. Antagonismo que
mostrou ser a minha própria essência.
Gostava de ver sem
ser visto, mas deixar a possibilidade da descoberta. Porém, mais que isso, gostava de ver longe, onde não poderia ser encontrado. Gostava
de ver sem ser notado de imediato, sem ser perturbado, sem perturbar. Saber sem ser
sabido. Em um primeiro momento não buscava exposição, apenas sapiência. Apenas não queria
pagar o custo da busca. Esse custo é que era e é difícil para mim.
Por isso as árvores mais frondosas
eram melhor. Quando não tinha árvore poderia ser um telhado. Outro local de
minha adoração.
Ali não havia frutas bichadas para
me fartar, mas poderia ficar ainda mais obscuro.
Hoje me vejo naqueles telhados,
naquelas árvores, querendo entender mais
de mim e dos outros e do mundo. Não era um esconderijo em si. Qualquer um
poderia levantar a cabeça e ver-me. É quase o mesmo que faço escrevendo aqui,
sem divulgação, apenas tentando encontrar-me naquilo que vejo nos outros.
Será que também sou como esses passantes?
Será que também sou como esses passantes?
O drama de minha vida é também o mesmo drama por que lutam esses que esbarram em mim sem me notar?
É possível ser feliz sem ser visto, sem desejar ser visto, mas não estar escondido?
É possível ser feliz sem ser visto, sem desejar ser visto, mas não estar escondido?
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