segunda-feira, 17 de junho de 2013

(Devaneio): Mais um desassossegado


Também tive grandes ambições e sonhos dilatados, talvez semelhante ao carregador ou ao filho da costureira. Semelhante a eles meus sonhos também não foram providenciados pelo destino e muito menos tive força de os perseguir. Assim, a eles sou exatamente igual.

Também advogo o direito de poder lavar meu destino, como lavo meu corpo, como retiro o resíduo de minhas partes mais intimas e sujas, assim como a água e o sabão as torna novamente utilizável, assim como isso, poderia também lavar esse destino, retirando dele essa sujeira que o impregna. Mas, talvez por não conseguir localizar as entranhas onde se incrustou tal sujeira, ela deva ser vivida até o fim, até que a sua sepse tome conta da vida como um todo e, como um parasita mata seu hospedeiro, ele próprio, destino, assim o faria.

Também sinto saudades de tudo, até do que não existiu, sinto saudades até da própria nostalgia. Daqueles momentos que julgava idílicos e que, na minha inocência, achava que conseguiria em um lugar, ou com uma pessoa, ou com uma realização, ou com um prazer. Sinto falta disso. Sinto saudades de quando acreditava-me assim, sinto falta de quando me julgava velho e sábio e sinto falta de quando era apenas uma criança. Qualquer coisa é melhor que esse vazio de certezas, esse esperar eterno, esse resfolegar sem sentido e direção, esse ruminar, ir e vir, o gosto da mesma comida na boca, a mesma sensação na carne. Hoje, até o orgasmo me parece tedioso. Sinto falta e saudade do que tive ontem, do gozo que senti há quinze anos. Como se o corpo que estremece hoje nada tenha a ver com aquele estremecido em era passadas.

Também não sei o que sinto, o que já senti, ou o que quero sentir. Talvez o esteja sentido agora, enquanto escrevo. Talvez o extremo prazer esteja aqui nesse momento, nessa realização. Ou esteja vibrando aqui ao meu lado, fremente e pronto para ser sorvido. Talvez o que desejo sentir já esteja sentindo, falta-me apenas o órgão sensor que o perceba. Falta-me o aparelho, o medidor, ou o catalisador para que esse rio de sensações aflua em direção a um mar hipotético ou somente salte para fora e produza a alegria que desejo.

Também sinto que vou endoidecer por vezes, tamanha a inquietação e tamanho o marasmo que se intercambiam, em bipolaridade  Apenas, também, endoidecer ali mesmo, não de loucura, somente atendendo aos batimentos ritmados de meu coração que quer fugir do corpo em terror ao que lhe pode suceder, quem sabe?

Também acreditava firmemente que somente pode apreciar um corpo nú alguém que estivesse vestido. Por tal crença tentava mostrar-me pelado para, talvez, aqueles que tão pesadamente se vestem pudessem ver-me, senão apreciando a beleza de formas, mas pelo menos atestar essa presença. Mas, percebi que não se pode impor uma nudez não desejada, principalmente quando, ao invés de prazer ou consternação, ela cause nojo e, por vezes, terror. Por tal conta que, melhor é mostrar-me nú somente a quem encontre-me assim, por procura ou por acidente.




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