segunda-feira, 5 de março de 2012

(Mini-crônica): Intempestiva paixão




- Desde o primeiro dia que te vi pressenti que não ficaria nisso!
- Tem razão, que não ficaria naquilo, mas que chegaríamos a isso.
- Pergunta-me se me arrependo? Claro que não, como poderia. Na verdade, nesse momento, penso justamente o contrário. Quero embrenhar-me ainda mais nesse lodaçal...
- Desculpe-me, não a estou chamando de lama...
- Muito menos de porca. Retiro o que disse, pense então somente no "embrenhar". Embrenhar-me no desejo que me consumia sempre que chegava perto de ti...
- Tudo bem. Prometi que não me apaixonaria. Foi nossa condição mútua. Mas, permita-me apaixonar-me enquanto estivermos aqui. Posso?
- Tem razão, depois que nos despedirmos voltamos a ser como antes. Vamos esperar novamente um pelo outro.
- Sério mesmo! É como eu te disse. Lembro-me exatamente da primeira vez que te vi. E garanto que não estou mentindo ao falar assim, pois o que ganharia com isso? Não estamos nus colados um ao outro e não prometemos não nos apaixonar?
- Conto como foi. Estava sentado ao computador, um dos poucos existentes na sala à época. Estava entretido com meus pensamentos e pretensas aspirações. Foi quando a vi chegar, lépida e serelepe. Sei que você não foi ao local para ver-me, mas para resolver outras coisas. Porém, quando entrou em meu raio de visão, como um imã desconhecido, seu rosto virou à direita e seus olhos buscaram algo que te perseguia. Por frações de segundo encontrou o que procurava, embora sem saber. Os meus olhos. Que a frações de segundo atrás já a havia visto, e medido, e percebido que não haveria de ficar somente nisso. Lembra-se?
- Tudo bem, não foi dessa forma. Percebeu-me apenas como mais uma figura da paisagem. Nem feia, nem bonita, nem diferente, nem atraente, nem abominável, apenas uma nova figura.
- Sem dramas, não ficarei chateado. Eu é que poemei a coisa toda. Meu vício. Na verdade, pensando toscamente, logo de cara, na primeira vez que a vi, já desejei levar-te pra cama. Embora hoje eu saiba que não era só isso.
- Sim, tem razão novamente. Não foi só isso. Passamos pelo ciclo da amizade antes. Por isso foi tão difícil o meu desejo inicial latente. Se não tivesse me transformado em teu amigo quem sabe já não seríamos amantes findados há muito tempo?
- Não. Não desejo ser amigo findado teu, mesmo que sacrifiquemos nosso affair que aqui começamos.
- Eu sei que você nunca percebeu o quanto eu te desejava. Mas, foi você que nunca me ajudou a demonstrar.
- Mesmo naquele dia, sim, mesmo naquele dia, no hotel, quando ficamos hospedados em quartos separados. Como saberia que aquela ligação era uma evidência de que estava me querendo. Confesso, eu era e ainda sou um tolo inocente. De qualquer forma, não estava preparado ainda para você.
- Não, não se culpe de forma alguma. Não temos culpa por nos desejarmos. Resistimos todo esse tempo, e ele não apagou essa vontade, nem se encarregou de nos desiludir, vamos então aproveitar esse momento, quem sabe seja nosso último...

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