sexta-feira, 24 de abril de 2015

(Devaneios): Uma epifania demoniaca



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Presenciei uma epifania agora (não epifania filosófica, mas uma epifania no sentido de aparição, algo que beirou ao fantasmagórico, pois impregnou minha retina e meus ossos e não quer sair) e preciso deixar registrado, pois acho que nunca mais passarei por tamanha aparição.

Nesse momento, graças a essa visão, penso que, de fato, nunca poderei aspirar a mais do que tenho, porque sei que dificilmente passarei por privação de um desejo maior do que acabo de testemunhar.


Não sei o que deu em mim, pois decidi ir a um local que não vou há bastante tempo. Não sei o que deu, pois fui almoçar em um local ao qual fui somente uma única vez.

O fato é que decidi ir ao tal local e decidi almoçar no outro local. Tudo conspirou para que eu chegasse no exato momento e encontrasse a cena que encontrei.

Quando entrei não acreditei no que  meus olhos viram. Ao primeiro instante, só isso já seria o suficiente para um surto psicótico e para um "chutar" o balde e querer tudo pra mim. Porém, bastou algumas frações de segundo para que virasse o rosto e visse a união mais indescritível de coisas belas e desejáveis.

Se a primeira visão foi suficiente para uma carga extraordinária de adrenalina, as demais então, me atordoaram. Quase gritei a plenos pulmões "quero tudo pra mim". Claro que resisti ao primeiro impulso e apenas soltei um longo suspiro.

Assim, como o mais vira-lata dos vira-latas, coloquei o rabo entre as pernas, e tratei de sair de perto de tão espetacular e tentadora visão.

Fuga é o que resume minha trajetória nesse planeta. Acho que sou um fugitivo de algum lugar distante. É assim que me sinto. Tudo que temo, fujo, tudo o que desejo, sou obrigado a fugir.

No momento, com a minha taxa de decrepitude em elevação geométrica, não me resta mais nem imaginar o mundo, a galáxia ou o universo de prazeres que poderia ter com tantas coisas desejáveis.

Neste momento, encontro-me em meu refúgio, longe, com fone de ouvido para não ouvir, com a cabeça enfiada no teclado para não pensar sobre isso. Melhor não imaginar.

Se isso não for prova da existência de livre arbítrio, então não sei o que seria. Mas, o que poderei fazer com tamanho desejo? Nada, por suposto.

Será que, após essas conclusões, poderia também dizer que passei por uma epifania filosófica?

Talvez sim, se pensar em minha reduzida capacidade mental dos últimos anos. É o velho ditado, "em terra de cego, quem tem um olho é rei". Encontro-me tão limitado, que voltei, ou tento voltar, às minha práticas solitárias como única coisa que me resta de alegria e prazer e possibilidade de felicidade. Então, talvez tenha tido uma confirmação sobre o que me faz feliz.

Será que, se me fosse possibilitado um valor infindável de recursos e uma beleza e juventude a toda prova, eu poderia resistir a isso? Eu poderia resistir e não  provar do que vi hoje?

Absorto com tais pensamentos, será que ainda sobrou tempo para aquilo que pensava que faria por aqui?




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