Li uma citação, atribuída a George
Bataille (escritor e filósofo francês, falecido em 1962). A citação (não vou
dizer onde li), dizia:
"O que desejamos é trazer para
um mundo fundamentalmente descontínuo toda a continuidade que ele pode
sustentar."
A citação, diz-se, foi obtida da
obra "L'erostime", e, como não li tal obra, não sei se essa frase foi
verazmente retirada de lá, ou se a tradução pescou o sentido que o autor
quis dar à coisa.
Mas, como estou escrevendo um
devaneio, pesco o que quiser disso aí, e pode ser que venha um atum ou uma
sardinha, mas ambos servirão para alimentar-me, em um dado momento.
Será que o autor fazia seu comentário
em relação ao erotismo em sentido amplo, ou ao sexo, estritamente falando, a
saber, o ato propriamento dito?
Se for assim, concordo! É isso
mesmo. De fato. Ipso facto!
Sim, o erotismo, ou o sexo, é uma
maneira de ligarmos as nossas partes descontínuas. Em ultima análise, a meu
ver, é o único momento efetivo (e nem cogito se está sendo feito com amor ou
somente por prazer, apenas penso que seja totalmente consensual e não
profissional) que nos sentimos integrado a um fim comum. É um momento em que,
de fato, sentimos que temos continuidade em outro ser.
Naturalmente fomos desgarrados e
individualizados. No sexo não, influímos e refluímos, damos e recebemos e nos
mantemos coesos por certo tempo. É a nossa tentativa de dar continuidade ao
nosso mundo.
Fugaz, com certeza, mas é a única
forma material de conseguir essa continuidade.
Outras formas esotéricas de
continuidade, tipo oração e meditação, são estados que muitos conseguem chegar,
mas, posso dizer por experiência própria, a grande maioria não está aparelhada
para tanto (aos quais me incluo). Não parece natural, ao menos no estado de
matéria que nascemos (se se pode acreditar em outro estado, fica a critério de
cada um). Instintivamente não temos uma antena e receptor para união por esses
estados.
Mas, veio-me também à mente algo de
natureza menos fundamental, ou seja, o que seria essa descontinuidade? Trata-se
de uma pretensa característica discreta de nosso universo?
Ou seja, nosso mundo é discreto (ou
descontinuo), e assim é absolutamente contável. Tudo que se pode ver é aquilo
que há de fato. E podemos aumentar nossa percepção ao limite que continuaremos
a poder quantificar o que vemos. Isso induz a uma previsibilidade de nossa vida
e de nossa natureza. E a previsibilidade torna tudo muito tedioso. Nossa
inteligência tende a odiar o tédio, por não a desafiar.
Mas, clamamos pela continuidade.
Pelo simples contínuo. Ou seja, por coisas que não podem ser contadas, que apenas
são passíveis de serem medidas, embora nunca precisamente. Enquanto tivermos a
ilusão de que é impossível contar, apenas passível deduzir, podemos utilizar
nossa mente para imaginar e elucubrar, e o que nos estimula, de fato.
E não é isso o objetivo dos
devaneios?
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