Isso mesmo. Acho que a humanidade sobrevive até hoje tendo de fazer escolhas entre o ruim e o péssimo, a fim de fugir do pior.
São escolhas pessimistas?
Creio que não. Apenas nunca nos foi dada a oportunidade de escolher entre duas ótimas alternativas, pois, se assim fosse, ninguém se daria ao trabalho de analisar uma situação diferente da vigente.
De fato, ao sairmos do chão e subirmos nas árvores não foi porque o chão era bom e as árvores excelentes. A questão era que nossos predadores nos devoravam mais facilmente no chão. Mas, permanecer nas árvores também apresentava inúmeras desvantagens, além de ter de descer a todo instante. Ficávamos vulneráveis a outros predadores que podiam subir nelas e não tínhamos para onde escapar e, com certeza, morríamos facilmente ao cair de lá de cima.
Por causa desses problemas, resolvemos descer das árvores e aprendemos a andar eretos, o que nos fez enxergar mais longe e deixou nossas mão livres. Mas, voltamos a ser devorados por aquelas feras que ficaram aguardando nossa descida.
Ao final, entre mortos e feridos, salvou-se a maioria. Por tal motivo estou aqui escrevendo em um diminuto notebook com conexão sem fio em um café de São Paulo.
Então, devemos comemorar a recente morte do ditador da Líbia, Muammar Gaddafi? Devemos lamentar?
Vai saber!
Eu acho que a população da Líbia corre um risco enorme, pois, ao se livrar do Gaddafi, o predador que a encurralava em cima das árvores, talvez encontre outros monstros maiores e desconhecidos no chão (resta saber se valerá a pena, do ponto de vista da sobrevivência). Um deles é a desorganização social, a quase anarquia de líderes armados atés os dentes. Quem legitimamente matará quem? Se é que há assassinato legítimo.
Logicamente, uma transição calma seria bem melhor, mesmo que isso fosse impossível com a permanência do ditador no trono. Seria melhor que a oposição rebelde pudesse primeiro se estruturar institucionalmente, minar o governo aos poucos ao formar um corpo coeso e com propostas transparentes. Feito isso, uma revolta armada teria maiores chances de dar certo a médio prazo. Hoje, não se sabe o que, quando ou como ocorrerá alguma coisa.
Tal situação, os egípicios e tunisianos enfrentam e demorará muito para que encontrem seu caminho pela via democrática, se é que encontrarão, haja vista a total inexperiência com o jogo democrático, por vezes mais corrupto e demagógico que um regime monárquico, afinal, tudo depende de quem cria as regras e dá as cartas.
Sendo assim, não vejo com bons olhos a famosa primavera negra no Oriente Médio. Para o restante do mundo a situação é de maior insegurança hoje do que era há dez ou vinte anos, quando era possível observar as predadores andando pelos galhos das árvores. Principalmente porque era possível quantificá-los.
Com a derrocada de líderes do Iraque, Tunisia, Libia, Egito e outros que ainda virão, surge uma miríade de novos personagens que assume o poder via revolução e não por via democrática. Até quando permanecerão e o que farão quando o ópio da revolução cessar seu efeito anestésico na população?
Ninguém sabe.
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