E de tanto tentar ele se tornou.
E se tornando passou a se detestar.
E enquanto não se via não percebia no que tinha tornado.
E não questionava.
E havia o momento da contemplação.
E havia a barba, que não podia cair pelo peito.
E havia os dentes, que careciam de tratamento.
E havia os demais pelos da face, do nariz, das orelhas, que teimavam em crescer, que reclamavam ser estirpados.
E para tudo isso, havia os espelhos.
E se olhando, se odiava.
E saindo da vista, não se questionava.
E quebrou os espelhos da casa.
E trocou a visão pelo tato, sentido quase tão bom quanto o primeiro.
E então se mudou para uma cidade com um lago.
E tinha de cruzar uma ponte por sobre o lago para trabalhar, para ir, para vir, para sair e voltar, e para tudo o mais.
E o lago, de águas tão límpidas, azuis, cristalinas, a tudo refletia nas primeiras e últimas horas do dia. Horas que cruzava a ponte.
E teimava em se olhar ao cruzar a ponte.
E odiava.
E odiava.
Dia após dia.
Até que resolveu e pulou para enfrentar esse lago, essa imagem, esse derradeiro espelho de sua vida. Essa última imagem de si, naquilo que se tornou.
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